Antonio Marques, enviado especial a Antônio João, Campo Grande News
Charge _ Reproduzida do Correio Brasiliense |
Durante os três dias em que a equipe do Campo Grande News permaneceu no município de Antonio João, a 279 quilômetros da Capital, após o confronto com os indígenas, por diversas vezes tentou ouvir os representantes e os próprios produtores sobre os fatos ocorridos na região, mas eles se recusaram a falar com a imprensa de um modo geral. Não atenderam os veículos da Capital que estavam no município.
No sábado, 29, à tarde, ao chegar a informação na redação sobre o confronto deflagrado nas sedes das fazendas Barra e Fronteira, o Campo Grande News ligou várias vezes no Sindicato Rural de Antonio João para ouvir a presidente Roseli Maria Ruiz. No entanto, a pessoa que atendeu, que se identificou apenas como Fernanda, informou que ela não estava.
Essa mulher relatou por telefone que os produtores haviam feito a “retomada da propriedade no peito e no grito”, mas lembrou que não teria ocorrido conflito, apesar do clima tenso no local. No mesmo dia, a reportagem conversou com o senador Waldemir Moka (PMDB), que esteve participando de reunião no final da manhã na sede do sindicato.
Moka disse que foi ao município a convite dos próprios produtores, depois de ter participado de um evento no dia anterior na sede da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul) acompanhado dos deputados Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Tereza Cristina (PSB), e fariam uma fala aos cerca de 200 produtores que estavam na sede do sindicato.
Segundo o senador, ele faria os esclarecimentos sobre a possibilidade de votação da PEC 71/2011, que autoriza a União a indenizar os donos das propriedades tituladas pelo valor da “terra nua”, além das benfeitorias, que seria votada nesta semana. O senador acreditava, com isso, amenizar o clima de tensão entre os produtores que tiveram suas fazendas ocupadas pelos indígenas Guarani Kaiowá, da aldeia Marangatu, a cerca de 10 quilômetros do centro da cidade de Antonio João.
No entanto, Moka disse que a presidente Roseli Ruiz não os deixou falar. “Ao terminar sua fala, um desabafo emocionada de quem tinha sua fazenda ocupada, ela convidou aos produtores presentes a saírem”, relatou o senador.
Depoimento que foi confirmado pelo deputado Mandetta, que ao contrário do senador Moka e da deputada Tereza Cristina, decidiu deixar o sindicato em direção as propriedades ocupadas pelos indígenas, nas sedes das fazendas Barra, de propriedade de Roseli Ruiz; e da Fronteira, cujo dono é o ex-prefeito da cidade Dácio Queiroz Silva e seus irmãos.
O deputado Mandetta contou ao Campo Grande News, ainda no sábado, já de volta a Capital, os fatos ocorridos nos locais em que aconteceram o confronto. Disse que a decisão de acompanhar os fazendeiros foi uma tentativa de evitar um iminente confronto, considerando que os mesmos estavam muito tensos diante da situação.
No entanto, o deputado não conseguiu uma solução por meio do diálogo e o confronto aconteceu nas duas fazendas, provocando a morte do índio Semião Fernandes Vilhalva, 24 anos. Homicídio que está sendo investigado pela Polícia Federal de Ponta Porã.
Na versão do deputado Mandetta, mesmo há uma distância de 10 metros do corpo, ele disse ter verificado, enquanto médico, que a vítima estava em estado de “rigidez cadavérica”. Isso, segundo Mandetta, indicaria uma morte há mais de oito horas.
Versão contestada pelos índios e também apresentada pela reportagem do Campo Grande News nas matérias enviadas de Antonio João, no domingo. Neste mesmo dia, a equipe chegou a convesar com alguns produtores na sede da fazenda São José, que fica próximo às propriedades que estavam ocupadas, mas está fora da área de litígio.
A todo o momento os produtores que deram informações pediram para não identificá-los, exceto dois, que não eram de Antonio João e estavam no município dando apoio aos colegas, por terem propriedades também em áreas de conflitos.
Lilia Vargas, da Fazenda Cambará, na região de Coronel Sapucaia; e outro de nome Aroldo, que durante o confronto levou uma paulada nas costas e apresentava uma marca de cor roxa nas costas. Ele disse ser dono da Fazenda Furnas da Estrela, no município de Sidrolândia. Conforme Aroldo, o ferimento acontecera em razão do confronto com os indígenas no “mano a mano”.
Depois desse momento, a equipe esteve na sede do sindicato Rural a procura de ouvir a presidente ou outro representante. Mas ela não estava no local e ninguém poderia falar. Na segunda-feira, o Campo Grande News retornou ao sindicato. A presidente veio atender a equipe na porta e disse que não daria entrevista a ninguém. Ela argumentou que suas declarações poderiam ser mudadas e que haviam redatores superiores na jornal, que poderia fazer isso e ela não poderia falar.
Roseli Ruiz convidou a equipe para almoçar e tomar um café, mas não daria entrevista. No final do dia, a reportagem retornou ao local a procura do vice-prefeito de Antonio João, Antonio Cesar Pereira Flores, conhecido como Baby, que havia combinado de conversar com a reportagem. Novamente fomos recebidos pela presidente, que nos recebeu amistosamente, porém reiterou não falar nada.
Ao ser questionada sobre a presença do vice-prefeito, que havia marcado com a equipe, ele se dirigiu às pessoas presentes no interior do sindicato e perguntou em alto e bom som “se o Baby estava no local”, e a resposta de todos foi não. Em todos os momentos, deixamos claro que nosso propósito era ouvir a versão dos produtores diante da situação, e que a entrevista seria gravada.
Na terça-feira, Baby, que permanece o dia na sede da fazenda Fronteira acompanhando o dono da propriedade, Dácio Queiroz, e é escoltado pela Força Nacional sempre que faz o trajeto até a cidade para buscar mantimentos, marcou novamente com nossa equipe para uma entrevista, mas seu telefone não teve mais sinal até o momento que a reportagem deixou o município, por volta das 19h30.
Durante os três dias, a equipe do Campo Grande News também precisou conversar com os indígenas para que os mesmos atendessem a reportagem. Alguns momentos houve tensão, mas conseguimos apresentar depoimentos e fotos dos locais em que eles estavam ocupando, inclusive o interior das casas das sedes das propriedades.
Além do Exército, dezenas de agentes da Força Nacional
estão na área de conflito (Foto: Marcos Ermínio)
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