Conforme dados da Univaja, ao menos 20 crianças nessa faixa etária foram aniquiladas pelas doenças e desnutrição de janeiro a junho deste ano no Vale do Javari
Uma das dificuldades encontrada é a logística, cujas aldeias são de difíceis acesso |
Indígenas
que habitam o Vale do Javari, no Oeste do Amazonas, agonizam com níveis
críticos de doenças como a malária e hepatite. Segundo Paulo Kenampa,
coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava),
associação que lidera as organizações de base indígena, as crianças são
as que mais sofrem com as enfermidades e o ônus da precariedade das
condições de vida nas aldeias, especialmente as menores de 1 ano.
Conforme
dados da Univaja, ao menos 20 crianças nessa faixa etária foram
aniquiladas pelas doenças e desnutrição de janeiro a junho deste ano no
Vale do Javari. Segundo Paulo Kenampa, as ações básicas de saúde em
todas as aldeias indígenas são realizadas de forma paliativa e
ineficiente, faltam medicamentos e materiais médico-hospitalares básicos
em todas as aldeias dos Polos Bases da Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde responsável pelo
atendimento indígena.
O
coordenador da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de
Atalaia do Norte, a 1.138 quilômetros de Manaus, Bruno Pereira, enfatiza
que as reivindicações dos indígenas são antigas e que tendem a afetar
ainda os índios isolados. “Tudo isso se deve a falta de um efetivo maior
de médicos e enfermeiros. Outra dificuldade é o acesso às comunidades,
uma vez que o meio de transporte são basicamente os barcos, e nem sempre
os rios da região são de fácil navegabilidade”, comentou Pereira.
Porém,
a dificuldade de acesso e de remoção de pacientes graves e a falta de
estrutura para a atuação dos agentes de saúde não são os únicos
problemas. Segundo Paulo Kenampa, a Secretaria Especial de Saúde
Indígena (Sesai), dispõe de poucos médicos na região. Ele reforça que há
casos críticos de hepatite e malária na região, onde existem pouco mais
de 3 mil indígenas, espalhados em 50 aldeias. Também há um número
desconhecido de tribos isoladas na região, onde o impacto das doenças é
ignorado.
De
acordo com informações do Conselho Distrital de Saúde Indígena
(Condisi) no Vale do Javari, a quantidade de óbitos no primeiro semestre
deste ano, já superou a mortandade do ano passado quando foram
registrados onze óbitos - entre recém-nascidos e crianças de até um ano,
decorrentes da desassistência à mãe e ao bebê, seja por pré-natal mal
feito ou não realizado ou mesmo por falta de auxílio no parto. O ano de
2013 teve a maior incidência, 85 registros de óbito envolvendo crianças
indígenas nas aldeias do Alto Solimões, segundo o relatório Violência
contra os povos indígenas no Brasil, publicado em 2013 pelo Conselho
Indigenista Missionário (Cimi).
Insatisfação e preocupação com a causa
O
presidente do Condisi, Jorge Marubo, em entrevista ao portal “Povos
Indígenas do Brasil”, reiterou em seu posicionamento quanto a
insatisfação e preocupação com a causa. Ele ressalta a necessidade de
uma intervenção por parte dos órgãos de controle externo dos setores de
saúde. “A situação do descaso com a saúde indígena foi denunciada muitas
vezes às autoridades competentes, mas nenhuma providência foi tomada”,
disse.
O
coordenador da Univaja, Paulo Kenampa, disse que nos próximos dias as
representações indígenas irão solicitar uma auditoria na Sesai, para
esclarecer os motivos para a falta de medicamentos e de infraestrutura
nos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dsei). “Estamos
vivenciando um surto de doenças e ninguém atende nossos apelos”,
lamentou. A reportagem tentou contato com a Sesai, mas não obteve
resposta.
Outra localidade
Entre
os Yanomami, no Norte do Amazonas, foram registradas 46 mortes de
crianças menores de 1 ano. Em relação à morte por desassistência à
saúde, em 2014, foram registrados 21 casos nas aldeias Yanomami. No ano
anterior, sete mortes haviam sido registradas.
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