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Por Tereza Amaral
"Nao iremos recuar!". O aviso em tom de ameaça foi da que parece ser a "porta voz" do genocídio no Mato Grosso do Sul , advogada-proprietária Luana Ruiz.
Durante reunião com o ministro Eduardo Cardozo (Justiça) naquele estado, depois do bárbaro assassinato do líder Guarani-Kaiowá Semiao Vilhalva em Ñanderú Marangatú - propriedade da sua família que incide na terra indígena -, e apenas dois dias antes novo ataque em Pyelito Kue/Mbarakay, ontem (Ler abaixo), ela mostrou, diante de uma plateia silenciosa a sua face arrogante.
Ruiz recorreu à velha '
Carta Ruralista', disse ter vontade de rasgar seu diploma de advogada - eticamente já o fez -, e o que é pior: enfrentou
o ministro em "tom" desrespeitoso para quem e operadora jurídica, propositalmente oscilante na voz e faltando com a verdade fática e
jurídica dos sucessivos massacres contra povos indigenas (MS).
Confira audiovisual postado por ela no Canal Youtube, onde escreve: "Ministro ficou nervoso porque a corja do PT não aceita, não admite e não
suporta a VERDADE" AQUI.
Leiam Mais
Leiam também matéria de Elaine Tavares, em IELA abaixo:
A dolorosa resistência dos Guarani Kaiowá
Outro dia vi o vídeo no qual uma fazendeira do Mato Grosso do Sul
dizia que eles eram os donos daquelas terras porque foram os
"desbravadores". Estranhei o depoimento, pois, ali, naquela fala, ela
mesma afirmava que seus antepassados foram os que conquistaram a área
para que, naqueles longínquos dias, pudessem levantar suas casas e
iniciar suas lavouras. O que, então, significa isso? Se eles desbravaram
significa que limparam a passagem, tornaram mansos, civilizaram. É o
que diz o dicionário. Se assim é, só tornamos mansos ou civilizamos
alguém. E quem era esse alguém? Os índios. Esse é resumo da ópera bufa
dos fazendeiros do Mato Grosso do Sul. Logo, ela mesma confirma que o
território hoje ocupado por seus familiares e por ela mesma era
originalmente dos Guarani.
A fala da fazendeira é bastante esclarecedora da situação que vivem
os Guarani Kaiwá naquela região. Para ela e para seus amigos, os
indígenas nada mais são do que um atrapalho, uma incomodação, uma
desordem no mapa tão bem construído por eles. Se um dia a gente branca
invadiu as terras e limpou a área dos índios, agora eles que não venham
reivindicar posse de nada. Foram destruídos, que sumam dali.
Essa é a verdade dos fazendeiros. Eles se dão ao direito de pensar
que a matança dos índios do passado foi uma coisa boa, um passo no
avanço do progresso. Mas, a senhora do vídeo se esquece que quando seus
antepassados "desbravaram" aquela região, muitos dos povos que ali
viviam não morreram. Eles fugiram, empurrados pela violência e pela
ponta dos mosquetes.
Só que para os indígenas a terra não é um pedaço de chão que se pode
comprar ou desbravar. É parte viva da cultura. Assim, mesmo tendo fugido
ou se escondido, os indígenas ficaram por ali e, com o passar do tempo,
foram voltando, exigindo o direito de viver naquele território que
ocupavam originalmente.
Essa é a verdade dos indígenas. Eles insistem em ver garantido o seu
direito de estar nas suas terras. Querem uma pequena parcela, nem exigem
o espaço todo. Só um espaço digno para vivenciar sua cultura.
Mas, a história dos homens é a história da luta de classe, já disse
alguém um dia. E nesse combate, a classe dominante é a que tem as armas e
o estado. Os oprimidos só tem os seus corpos e a vontade de viver na
justiça. Então, aparentemente, não há saídas. Já dizia o filósofo
austríaco Ludwig Wittgenstein: "o mundo dos felizes é diferente do mundo
dos infelizes". Como então fazer com que esses mundos dialoguem?
Tivéssemos um Estado ancorado na justiça, seria ele o responsável por
garantir que essas duas verdades pudessem ser debatidas na serenidade.
Mas não. No caso dos conflitos no Mato Grosso do Sul, o estado ainda
aporta as armas e a proteção ao campo dos "felizes", os fazendeiros.
Na madrugada dessa sexta-feira a gente da tekoá Pyelito Kue/Mbarakay,
que fica no município de Iguatemi, sofreu mais uma violência, das
inumeráveis violências que vem sofrendo desde que os indígenas decidiram
reivindicar sua morada. Jagunços armados desfilaram pelo acampamento
onde estão instalados os Guarani e Kaiowá dizendo que todos seriam
mortos. Segundo relato do Conselho Indigenista Missionário, houve um
ataque e dez indígenas ficaram feridos, incluindo uma gestante e um
rezador. Foram usadas balas de borracha, que são de uso restrito das
forças policiais, e armas de fogo. Desde alguns dias, dizem as
lideranças, que o Departamento de Operações de Fronteira (DOF) vinha
fazendo ‘visitas’ ostensivas aos indígenas, inclusive levando embora
suas coisas. Também denunciaram que os capangas dos fazendeiros bateram
em uma mulher há alguns dias, agressão que foi confirmada pela Funai.
O clima é de perplexidade na tekoá Pyelito Kue. Já vai longe o
processo de sistemática agressão a essa gente que, inclusive, em 2012
chegou a lançar um pungente documento ao mundo, dizendo que estavam
todos dispostos a morrer na defesa do direito de permanecer na terra que
lhes é de direito. Por conta da mobilização causada por esse clamor os
Guarani Kaiowá retomaram a Fazenda Cambará, na qual ocupavam 100
hectares. A fazenda inteira é um latifúndio de 2.000 hectares. Desde a
retomada, o processo de acosso e violência contra os indígenas não para.
Jagunços rondam fazendo ameaças, pessoas são atingidas por arma de
fogo, agressões são praticadas, sem que o estado brasileiro tome
qualquer providência.
A área reivindicada pelos indígenas já foi indicada pela Funai como
tradicional e mesmo assim o estado não toma uma atitude concreta de
demarcação das terras, sendo, portanto, conivente com todo o massacre
vivido pelas gentes Guarani Kaiowá. Prefere mantê-los nas beiras de
estradas, em situação de miséria e abandono. Assim, a única saída que
encontram é retomar os lugares que historicamente sempre foram seus,
enfrentando aí a fúria e as armas dos fazendeiros. O Mato Grosso do Sul é
uma terra na qual a lei estoura do cano das armas. E quem tem as armas
não são os índios.
A dolorosa resistência do povo Guarani Kaiowá muito pouco espaço
ocupa nos jornais ou na TV. Não interessa ao sistema de interesses que
rege o país alfabetizar as gentes na verdade histórica. Como poderiam
explicar o fato de que os fazendeiros podem matar e manter milícias
privadas à margem da lei? Como explicar que para os poderosos a lei não
vale? Melhor seguir malhando o velho discurso de que os índios
atrapalham o progresso, que deviam se integrar à cultura branca, que
deviam parar de encher o saco de quem quer produzir. Criar estereótipos e
preconceitos mantendo a imagem de selvagens ou de preguiçosos. Assim,
quando um deles cair morto, não causará comoção.
Mas, no fundão desse Brasil, que é fruto do sangue indígena, as
gentes seguem resistindo. No Mato Grosso do Sul os Guarani Kaiowá mantêm
a promessa feita em 2012: lutarão até o último homem e a última
mulher.
A questão que temos de colocar é: E nós, permitiremos o massacre?
Desde os nossos lugares teremos de usar nossos instrumentos de luta.
Eu, tenho a palavra, e cada um pode aportar o seu. O que não podemos é
deixar que siga a matança. Já basta. Que se pressione o estado para
demarque as terras imediatamente, garantindo o espaço que é direito dos
Guarani Kaiowá. Um pequeno espaço no meio do latifúndio. A parte que
lhes cabe. LER ORIGINAL AQUI.
NOTA
Este Blog disponibiliza espaço a quem interessar se manifestar.
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