Foto _ Inajá News |
Lideranças indígenas do povo Pataxó da Terra Indígena Comexatibá,
situada no distrito de Cumuruxatiba, município de Prado (BA), denunciam
que no último dia 7, feriado da Independência, homens armados atacaram a
tiros, na estrada que dá acesso à aldeia Cahy, o veículo em que estava o
cacique da comunidade, além de outros três Pataxó. Não houve feridos.
O grupo voltava de uma
reunião na aldeia Mukujê quando por volta das 19h30 tiros foram
disparados das margens da estrada. Conforme um dos indígenas, ao menos
dois indivíduos foram avistados enquanto disparavam contra o veículo. “O
que a gente percebeu é que os tiros foram todos na direção do cacique,
que é da aldeia Cahy”, afirma um dos Pataxó, presente na hora do
atentado, e que não identificamos por razões de segurança.
De acordo com os
indígenas, os pistoleiros não acertaram o cacique porque um carro que
trafegava à frente estava com os faróis altos, “embaralhando a visão dos
atiradores”, diz o Pataxó. O ataque contra o grupo de indígenas da
aldeia Cahy acontece na esteira de outras ofensivas contra a comunidade,
que reivindica a demarcação do território já identificado pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) com pouco mais de 28 mil hectares.
Durante
todo o último mês de agosto, Cahy teve o centro cultural incendiado e
atentados diários contra a comunidade, composta por 72 famílias.
Crianças foram escondidas em caixas d’água. À noite, indivíduos armados
passavam pelas ruas da aldeia atirando contra as malocas e as casas de
pau a pique. Nem mesmo a escola instalada em Cahy ficou de fora dos
ataques dos pistoleiros; na estrutura, são atendidas 270 crianças, sendo
80 delas da própria aldeia. Enquanto isso, duas reintegrações de posse corriam expedidas pela Justiça Federal.
Uma destas ações judiciais foi movida pela empresária Catarina Azevedo Pompeu, que reivindica a
área onde aconteceu o incêndio do centro cultural, como aponta a Funai.
Catarina é dona de um estabelecimento hoteleiro que invade a terra
indígena e de acordo com os Pataxó a empresária costuma passar pela
aldeia para ofendê-los e fazer ameaças.
Terras cobiçadas
Os 28 mil hectares da
Terra Indígena Comexatibá são alvos da cobiça de empresários,
fazendeiros, grileiros e madeireiros. O território abrange ainda o
Parque Nacional do Descobrimento, cuja Mata Atlântica segue preservada,
mas que tem colocado o Instituo Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), responsável pela reserva, em rota de colisão
com a presença indígena. O território está perto do mar e às margens da
BR-101, portanto empreendimentos de turismo, imobiliários e resorts
foram construídos ou estão no raio de interesse de investidores.
No
final do último mês de agosto, o governador baiano Rui Costa (PT), o
vice-governador João Leão (PP), a prefeita do município de Prado Mayra
Brito (PP), o deputado federal Ronaldo Carletto (PP), o deputado
estadual Carlos Robson (PP) e o ex-prefeito de Prado Wilsinho Brito (PP)
estiveram em Brasília para questionar o procedimento de demarcação da
terra indígena diretamente ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Durante a reunião com Cardozo, a prefeita Mayra Brito afirmou que o procedimento demarcatório da Terra Indígena Comexatibá não tem levado em
conta “o quantitativo da população indígena, de modo que a área
demarcada não seja excessiva gerando um volume de terras sem função
social e, sobretudo, que venha nos trazer prejuízos econômicos, sociais e
turísticos para a região”. A prefeita disse ainda que a demarcação
destruirá “centenas de empreendimentos”. No entanto, não citou que entre
esses empreendimentos está um lixão e dezenas de hectares de meio
ambiente degradado.
A
prefeita, de acordo com indígenas, chegou a fazer uma reunião na
comunidade dos Guedes, área de não indígenas no território tradicional,
para colher assinaturas contra a demarcação. Os Pataxó afirmam que os
primeiros moradores do local, um assentamento do Incra, não vivem mais
na comunidade, pois foram forçados a vender seus lotes. Alguns mais
velhos resistiram, mas conforme foram morrendo os familiares acabaram
cedendo. Os compradores, inclusive, seriam em sua maioria estrangeiros
interessados nas belezas da região e no potencial de investimentos
turísticos.
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