Hoje (26), às 9h (horário alemão), foi realizado em Friburgo, na Alemanha, o lançamento da versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014. O
evento faz parte da programação de incidência internacional que
acontece nesta e na próxima semana na Suíça, Alemanha, Bélgica e Itália
com o objetivo de denunciar o grave aumento da violência e das violações
de direitos contra os povos indígenas no Brasil, especialmente a
situação de extrema barbárie e crise humanitária que o povo
Guarani-Kaiowá enfrenta atualmente no Mato Grosso do Sul.
Publicado
pelo Cimi, este relatório apresenta em 19 categorias uma sistematização
dos casos de violência e violações registrados e compilados pela
organização contra os povos originários do Brasil. O lançamento
aconteceu logo após a realização de uma reunião de organizações alemãs
de direitos humanos, direitos indígenas e agências de cooperação que têm
prestado apoio e solidariedade aos povos indígenas brasileiros,
especialmente os Guarani-Kaiowá.
À
frente dessa iniciativa de incidência na Europa, Eliseu Lopes,
representante da Grande Assembleia Aty Guasu Guarani-Kaiowá, entregou
durante esta semana exemplares do Relatório de Violência para
representantes da Santa Sé, da União Européia, do Alto Comissariado e da
Relatoria Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre
Direitos Indígenas, além de outras cinco relatorias especiais da ONU:
agrotóxicos e pesticidas; combate à violência contra as mulheres;
direito à alimentação; deslocamentos internos e discriminação racial e
preconceito.
No
último dia 22, em discurso na 30ª Sessão do Conselho de Direitos
Humanos das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, Eliseu afirmou que o
seu povo está cansado de esperar e que já não consegue mais acreditar na
vontade e na capacidade do Estado brasileiro de resolver efetiva e
definitivamente a cruel situação vivida por eles.
Segundo
a liderança, é importante mostrar ao mundo a realidade de como os povos
indígenas são tratados no Brasil. “Meu povo está morrendo, está
sofrendo, todos os dias, ataques e massacres... mas o governo brasileiro
não apresenta nenhuma solução. É porque a demarcação das nossas terras
foi paralisada que a violência, o estupro e a tortura feita por capangas
e pistoleiros da região aumentam. O governo defende o interesse das
grandes empresas e dos grandes fazendeiros da cana, eucalipto, soja,
milho e do gado. Eles lucram muito, enquanto nós estamos morrendo”,
declarou ele.
Gado vale mais que gente
Segundo
os dados do Relatório, houve um severo aumento da violência e das
violações praticadas contra os povos indígenas no Brasil em 2014,
especialmente em relação aos casos de assassinatos, suicídios, mortes
por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões
possessórias e exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e
morosidade na regularização das terras indígenas.
De
acordo com informações da própria Secretaria Especial de Saúde Indígena
(Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, 135 indígenas cometeram
suicídio em 2014. Este número configura-se como o maior em 29 anos, de
acordo com os registros do Cimi. O Mato Grosso do Sul continua sendo o
estado que apresenta a maior quantidade de ocorrências, com o registro
de 48 suicídios, totalizando 707 casos registrados de suicídio no estado
entre 2000 e 2014. Outro dado assustador é que entre os anos de 2003 e
2014, 390 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul, um total
que representa 52% dos casos registrados em todo o país.
Segundo
Flávio Machado, do Regional Mato Grosso do Sul do Cimi, que integra
esta delegação de incidência internacional, apesar desta violenta
realidade, o governo brasileiro não avançou em nada no sentido de
demarcar as terras tradicionais reivindicadas. E uma das consequências
da paralisação das demarcações é que os conflitos intensificaram-se
drasticamente no estado no último mês. “O assassinato de Semião
Vilhalva, de apenas 24 anos, durante um ataque paramilitar de
fazendeiros ao tekoha Ñanderú Marangatú, no município de Antônio João (MS), é uma prova desta situação”, analisa o missionário.
Após a morte de Semião, milícias armadas realizaram mais de dez ataques paramilitares contra o povo Guarani-Kaiowá dos tekoha
Guyra Kamby´i, Pyelito Kue e Potreiro Guasu, todos no cone sul do
estado. Como consequência, além da morte de Semião, três indígenas foram
baleados por arma de fogo, vários foram feridos por balas de borracha,
inclusive uma criança de colo, e dezenas de indígenas foram espancados.
São fortes os indícios de que indígenas sofreram tortura e há denúncias
da ocorrência de um estupro coletivo de uma Guarani-Kaiowá.
Com
45 mil pessoas, os Guarani-Kaiowá são a 2ª maior população indígena do
Brasil e ocupam apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais. De
acordo com dados do governo federal, se todas as áreas reivindicadas por
eles como territórios indígenas forem demarcadas elas representam cerca
de apenas 2% da área total do estado. Por outro lado, o Mato Grosso do
Sul tem 23 milhões de bovinos, que ocupam 23 milhões de hectares de
terra.
Acesse aqui a versão em português do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014
Acesse aqui o release em português
Acesse aqui a versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014
Acesse aqui o release em inglês
NOTA
Nenhum comentário:
Postar um comentário