26 de setembro de 2015

Cimi lança Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas ) em Friburgo, na Alemanha



Hoje (26), às 9h (horário alemão), foi realizado em Friburgo, na Alemanha, o lançamento da versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014. O evento faz parte da programação de incidência internacional que acontece nesta e na próxima semana na Suíça, Alemanha, Bélgica e Itália com o objetivo de denunciar o grave aumento da violência e das violações de direitos contra os povos indígenas no Brasil, especialmente a situação de extrema barbárie e crise humanitária que o povo Guarani-Kaiowá enfrenta atualmente no Mato Grosso do Sul.

Publicado pelo Cimi, este relatório apresenta em 19 categorias uma sistematização dos casos de violência e violações registrados e compilados pela organização contra os povos originários do Brasil. O lançamento aconteceu logo após a realização de uma reunião de organizações alemãs de direitos humanos, direitos indígenas e agências de cooperação que têm prestado apoio e solidariedade aos povos indígenas brasileiros, especialmente os Guarani-Kaiowá.

À frente dessa iniciativa de incidência na Europa, Eliseu Lopes, representante da Grande Assembleia Aty Guasu Guarani-Kaiowá, entregou durante esta semana exemplares do Relatório de Violência para representantes da Santa Sé, da União Européia, do Alto Comissariado e da Relatoria Especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Direitos Indígenas, além de outras cinco relatorias especiais da ONU: agrotóxicos e pesticidas; combate à violência contra as mulheres; direito à alimentação; deslocamentos internos e discriminação racial e preconceito.

No último dia 22, em discurso na 30ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça, Eliseu afirmou que o seu povo está cansado de esperar e que já não consegue mais acreditar na vontade e na capacidade do Estado brasileiro de resolver efetiva e definitivamente a cruel situação vivida por eles.

Segundo a liderança, é importante mostrar ao mundo a realidade de como os povos indígenas são tratados no Brasil. “Meu povo está morrendo, está sofrendo, todos os dias, ataques e massacres... mas o governo brasileiro não apresenta nenhuma solução. É porque a demarcação das nossas terras foi paralisada que a violência, o estupro e a tortura feita por capangas e pistoleiros da região aumentam. O governo defende o interesse das grandes empresas e dos grandes fazendeiros da cana, eucalipto, soja, milho e do gado. Eles lucram muito, enquanto nós estamos morrendo”, declarou ele.

Gado vale mais que gente

Segundo os dados do Relatório, houve um severo aumento da violência e das violações praticadas contra os povos indígenas no Brasil em 2014, especialmente em relação aos casos de assassinatos, suicídios, mortes por desassistência à saúde, mortalidade na infância, invasões possessórias e exploração ilegal de recursos naturais e de omissão e morosidade na regularização das terras indígenas.

De acordo com informações da própria Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculada ao Ministério da Saúde, 135 indígenas cometeram suicídio em 2014. Este número configura-se como o maior em 29 anos, de acordo com os registros do Cimi. O Mato Grosso do Sul continua sendo o estado que apresenta a maior quantidade de ocorrências, com o registro de 48 suicídios, totalizando 707 casos registrados de suicídio no estado entre 2000 e 2014. Outro dado assustador é que entre os anos de 2003 e 2014, 390 indígenas foram assassinados no Mato Grosso do Sul, um total que representa 52% dos casos registrados em todo o país.

Segundo Flávio Machado, do Regional Mato Grosso do Sul do Cimi, que integra esta delegação de incidência internacional, apesar desta violenta realidade, o governo brasileiro não avançou em nada no sentido de demarcar as terras tradicionais reivindicadas. E uma das consequências da paralisação das demarcações é que os conflitos intensificaram-se drasticamente no estado no último mês. “O assassinato de Semião Vilhalva, de apenas 24 anos, durante um ataque paramilitar de fazendeiros ao tekoha Ñanderú Marangatú, no município de Antônio João (MS), é uma prova desta situação”, analisa o missionário.  

Após a morte de Semião, milícias armadas realizaram mais de dez ataques paramilitares contra o povo Guarani-Kaiowá dos tekoha Guyra Kamby´i, Pyelito Kue e Potreiro Guasu, todos no cone sul do estado. Como consequência, além da morte de Semião, três indígenas foram baleados por arma de fogo, vários foram feridos por balas de borracha, inclusive uma criança de colo, e dezenas de indígenas foram espancados. São fortes os indícios de que indígenas sofreram tortura e há denúncias da ocorrência de um estupro coletivo de uma Guarani-Kaiowá.

Com 45 mil pessoas, os Guarani-Kaiowá são a 2ª maior população indígena do Brasil e ocupam apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais. De acordo com dados do governo federal, se todas as áreas reivindicadas por eles como territórios indígenas forem demarcadas elas representam cerca de apenas 2% da área total do estado. Por outro lado, o Mato Grosso do Sul tem 23 milhões de bovinos, que ocupam 23 milhões de hectares de terra.

Acesse aqui a versão em português do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014

Acesse aqui o release em português

Acesse aqui a versão em inglês do Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – dados 2014

Acesse aqui o release em inglês 

NOTA

Este Blog atualizou - amanhã para hoje -, mantendo a matéria na íntegra. Ler Original.

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