Um grupo de
deputados estaduais, liderado por Mara Caseiro (PTdoB) e Zé Teixeira
(DEM), tenta instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
apurar se há responsabilidades do Cimi (Conselho Indigenista
Missionário) nas ações indígenas em conflito com ruralistas em Mato
Grosso do Sul. Enquanto isso, na mesma Assembleia Legislativa, é
protocolar, quase indiferente, o tratamento atribuído ao escândalo da
Operação “Lama Asfáltica”, que causou milhões de prejuízos aos cofres
públicos.
Diante disso, a população questiona e procura imaginar quais os
motivos que levam a Assembleia Legislativa a tratar com dois pesos e
medidas diferentes duas questões de grande repercussão social e
política. Para uma melhor avaliação do cenário, é preciso entender como
se movimenta a engrenagem política e ideológica dos 24 parlamentares
encarregados – pelo povo e pela Constituição – de fiscalizar as ações do
Executivo, de fazer (ou desfazer) leis, de zelar pela afirmação da
democracia e de respaldar o controle social de atividades que regem as
relações entre a sociedade e os poderes.
A ampla maioria dos deputados (20) é governista hoje, apoiando o
governo de Reinaldo Azambuj (PSDB), e foi governista ontem, quando deu
suporte às administrações de Campo Grande nas quais a Republica da Lama
Asfáltica se consolidou e, em parte, subscreveu o golpe que cassou o
mandato do prefeito Alcides Bernal (PP). Da mesma forma, essa maioria
parlamentar tem vínculos diretos e indiretos com causas ruralistas (por
simpatia, perfil ideológico ou corporativismo).
Para lidar com a questão da “Lama Asfáltica” e não se omitir ante a
revelação dos esquemas criminosos liderados por dois contumazes
financiadores de campanhas eleitorais, os empreiteiros João Amorim e
João Baird, a Assembleia esquivou-se da expectativa da opinião publica –
e em lugar de instituir uma CPI, preferiu optar por uma saída olímpica,
criando uma comissão especial, sem qualquer finalidade mais incisiva e
impactante, a não ser a de acompanhar as investigações.
O colegiado da Comissão Especial da Lama Asfáltica tem na presidência
o deputado Eduardo Rocha, do PMDB, partido que patrocinou o nascimento e
a expansão das redes empresariais de Amorim e Baird. À exceção de Pedro
Kemp (PT) os demais integrantes titulares são quase todos da base dos
governos de ontem e hoje, na Prefeitura e no Estado: Mara Caseiro (a
relatora), Ângelo Guerreiro (PSDB) e Lído Lopes (PEN).
Uma das providências anunciadas por Eduardo Rocha seria enviar
ofícios ao Ministério Publico Estadual, Ministério Publico Federal e às
polícias para conhecer o andamento das investigações. Isso implica
deduzir que da fiscalização do legislativo estadual os enlameados
personagens denunciados pelo MPE não têm nada a temer.
No caso da CPI do Cimi, o viés ideológico é tão latente quanto a
necessidade de ser apurada toda a verdade sobre as origens e
consequências dos conflitos pela posse da terra envolvendo índios e
fazendeiros, notadamente na região sul do Estado. Com deputados
proprietários de terra à frente (Mara e Teixeira), o pedido para
instalar a CPI ganhou de cara dez assinaturas. Nenhuma é do PT, o que
comprova o matiz ideológico de uma reivindicação que contém, também, o
mérito de busca necessária da verdade. Há razões de direito que assistem
tanto a fazendeiros com títulos adquiridos de forma limpa, técnica e
juridicamente, quanto a índios cujo domínio esteja reconhecida na posse
ancestral ou na letra juridicamente estabelecida.
No entanto, diante da postura contraditória da Assembleia em relação
aos dois casos, infere-se, por lógica, ser mais fácil explorar a
fragilidade de um segmento (o indígena) que não dispõe do poder
econômico e nem da influência política e midiática das pessoas e
empresas envolvidas no escandaloso caso de desvio de verbas constatado
pelas autoridades policiais e de fiscalização. Na representação de
forças que compõem o Poder Legislativo de Mato Grosso do Sul, a CPI do
Cimi teria um pano de fundo criminalizador da Igreja e do índio, com a
compulsória vitimização de fazendeiros.
Não é o que se deseja, porque esta não é uma guerra entre mocinhos e
bandidos. Os verdadeiros fora-da-lei, aqueles flagrados pela Polícia e
Ministério Publico em escutas telefônicas confessando seus delitos,
devem estar adorando a confusão de papéis e a inversão de prioridades
que prometem mais uma novela inacabada com um enredo que pode incentivar
o malfeito e premiar o malfeitor.(Edson Moraes) Ler original AQUI.
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