“Anunciamos que não participaremos deste palco forjado e mentiroso e afirmamos que enquanto esta for a postura do Brasil o único jogo que jogaremos será o de recuperar os nossos territórios e partir para nossas retomadas mesmo que isto custe todas as nossas vidas, já que o país parece assistir calado, da arquibancada, o extermínio dos Guarani e Kaiowá.”
Essa
decisão do povo Guarani-Kaiowá foi anunciada na primeira quinzena de
outubro, quando a primavera de luta e esperança começa a pintar de verde
o chão, depositando sobre ele, como gesto de carinho, inúmeras flores e
odores que embalam nossas vidas.
Este
posicionamento crítico se soma ao de dezenas de outros povos que têm
feito suas reflexões sobre o significado do I Jogos Mundiais dos Povos
Indígenas, no atual contexto brasileiro.
Após
agradecerem a todos os povos que se solidarizaram em sua luta contra o
genocídio, com especial distinção para as posturas lúcidas e corajosas
dos povos Krahô e Apinajé (leia notas públicas abaixo), os
Guarani-Kaiowá se pronunciaram sobre os Jogos Mundiais Indígenas:
“Enquanto nós, Guarani e Kaiowá, enfrentamos um verdadeiro genocídio,
marcado por ataques paramilitares, assassinatos, espancamentos, estupros
e perseguição de nossas lideranças, o governo brasileiro debocha de
tudo isso buscando criar folclore para distorcer a realidade e camuflar a
real situação dos povos originários”.
Na
sua manifestação, fazem a grave denúncia sobre o altíssimo número de
mortes de seu povo: “Enquanto o Estado e o governo articulam com o
agronegócio, o fim de nosso povo e de nossos direitos constitucionais,
fortalecendo uma situação onde a cada dois dias morre uma pessoa Guarani
e Kaiowá, a imagem dos povos indígenas é utilizada e vendida para
distorcer os fatos e mentir no exterior, ocultando a verdadeira
realidade e o sofrimento dos povos indígenas”.
Fazendo
menção à ministra Kátia Abreu, que tem não apenas demonstrado sua
simpatia para com os jogos, mas tem feito importantes articulações
dentro do governo federal para obter recursos públicos para o evento,
eles afirmam:
“Para celebrar esta grande farsa, quem fará a abertura oficial dos jogos será a ministra Kátia Abreu, rainha da motosserra, símbolo de ataque aos povos indígenas e ao meio ambiente. Isto é um deboche e um insulto à vida. Este é o atestado maior de que para além da falta de vontade política do governo em resolver a situação de nossos povos e de nossas terras, na verdade, existe uma determinação política deste governo para a morte de nossos povos e a distribuição de nossos territórios para os invasores”.
O Conselho da Aty Guasu e
lideranças Guarani e Kaiowá assinam a moção, que foi aprovada durante a
realização da etapa regional da Conferência Nacional de Política
Indigenista (CNPI), realizada entre os dias 5 e 7 de outubro, em
Dourados, no Mato Grosso do Sul.
Tendas valiosas
No
dia 4 de outubro, faltando apenas nove dias para o início do I Jogos
Mundiais dos Povos Indígenas, teve bastante repercussão na mídia a
divulgação dos extratos aditivos de contratos relativos à montagem de
estruturas (pré-moldadas), com acréscimos de alguns milhões. O processo
licitatório custa ao todo R$ 30 milhões (conforme publicou o Conexão Tocantins, em 14 de outubro de 2015: http://conexaoto.com.br/2015/10/14/a-nove-dias-do-evento-prefeitura-aditiva-contratos-de-locacao-de-estrutura-para-os-jmi-em-mais-de-r-2-5-milhoes).
O
que se passa? Como justificar que a prefeitura anuncie a empresa
vencedora, antes do término do processo licitatório? Os povos indígenas e
todos os brasileiros exigem transparência com o uso de recursos
públicos para que se evitem desvios e corrupção.
Leia aqui a Moção de Repúdio do povo Guarani-Kaiowá ao I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas
Leia aqui o Ofício dos Caciques Krahô
Fotos: Laila Menezes
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