Indígenas pedem audiência com ministra do Meio Ambiente para cobrar
coordenação entre órgãos; consecutivos incêndios na região tornam a
floresta irrecuperável
Por Greenpeace
Convocados pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib),
lideranças indígenas do povo Guajajara protestaram hoje (dia 09.10) em frente ao
Ministério do Meio Ambiente (MMA) na Esplanada dos Ministérios, em
Brasília. O ato foi realizado para denunciar o descaso do governo diante
dos incêndios em Terras Indígenas (TIs), principalmente na TI
Arariboia, localizada no Maranhão, onde o fogo consumiu mais de 25% do
território.
Formado por cerca de 20 pessoas, o grupo se concentrou às portas do
MMA para reivindicar uma audiência com a ministra Izabella Teixeira para
pedir a coordenação dos órgãos competentes, como o Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
“É uma luta. Mas é uma luta pacífica, de diálogo, de entendimento,
para que as autoridades tomem as devidas providências”, disse Olímpio
Guajajara, liderança indígena. Perguntando sobre as causas da queimada,
Olímpio disse que o incendio é criminoso, "causado pelos madeireiros e
caçadores".
A tentativa de falar com a ministra Izabella Teixeira foi
frustrada, mas representantes do MMA e do Ibama receberam o grupo de
lideranças (© Alan Azevedo / Greenpeace)
O grupo foi informado que a ministra estaria em viagem oficial, mas
que o Secretário de Extrativismo e Desenvolvimento Rural Sustentável,
Carlos Guedes, e o Diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Luciano
Evaristo, receberiam os indígenas.
“O Ministério do Meio Ambiente tem que buscar alguma solução”,
apontou Soninha Guajajara, da Apib. “O fogo já queimou aldeias, casas, a
caça, que é nosso alimento, a floresta... Nós estamos lá com 30
brigadistas indígenas combatendo o fogo dia e noite, e o Ibama e o
Prevfogo [Centro Nacional de Prevenção e Combate a Incêncios Florestais]
ficam se revezando. Não existe coordenação. Vocês precisam criar uma
estratégia”, enfatizou ela.
Luciano Evaristo, do Ibama, garantiu que o chefe do Prevfogo irá para
a região na terça-feira que vem, dia 13 de outubro, discutir com os
indígenas planos de combate ao incêndio da área.
Ao fim do ato, indígenas fizeram uma fogueira controlada
para que os representantes do governo "sentissem o calor" que os índios
estão experimentando há tantos dias (© Alan Azevedo / Greenpeace)
Terra que arde
A partir de imagens da NASA analisadas pelo Greenpeace, os primeiros
focos de incêndio na TI Arariboia, que abriga mais de 5,3 mil indígenas
Tentehar/Guajajara e um grupo Awá Guajá isolados, foram registrados no
dia 19 de agosto. Até o último monitoramento, datado de 3 de outubro,
foi contabilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
um total de 445 focos de queimada na região.
Com uma área total de 413 mil hectares, a TI Arariboia engloba os
municípios maranhenses de Buriticupu, Arame, Amarante do Maranhão, Bom
Jesus das Selvas, Grajau e Santa Luzia. As perdas chegam a mais de 100
mil hectares, ou seja, um quarto do território foi consumido pelo fogo.
O fato da queimada se prolongar por mais de 50 dias mostra que o
estado do Maranhão não está preparado para combater as queimadas e muito
menos a extração ilegal de madeira, que degrada a floresta e contribui
para a ocorrência de grandes incêndios nessas áreas.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), as lideranças
indígenas e entidades da sociedade civil tem cobrado do poder público
estadual a construção do Plano de Prevenção e Controle de Desmatamento e
das Queimadas no Maranhão (PPCD-MA). No entanto se alega que não há
fundos para custear ao menos a alimentação dos brigadistas.
Por ora foi possível a criação de um efetivo formado por indígenas,
bombeiros, Ibama e Fundação Nacional do Índio (Funai). No entanto o
grupo não é grande o suficiente para controlar os quase 100 quilômetros
de linha de fogo, que se aproxima perigosamente da comunidade de índios
Awá isolados que vivem no interior da TI.
Segundo dados disponíveis pela NASA, é possível perceber o aumento
das perdas atuais em relação as queimadas de anos anteriores. A
destruição por queimada registrada de 1º de janeiro até o fim de
setembro desse ano já é maior que os números para o mesmo período dos
anos de 2011 até 2014. Vale ressaltar que a destruição até setembro
desse ano é 25% maior que medição para o ano inteiro de 2013.
Efeito cumulativo
Esta não é a primeira vez que acontece um incêndio nessas proporções
no território Arariboia. Em 2008, madeireiros invadiram a aldeia Lagoa
Comprida, no coração da mata, mataram o indígena Tomé Guajajara, de 60
anos, e saíram ateando fogo na floresta.
As queimadas consecutivas trazem um acumulo de impactos que fragiliza
a floresta até tal ponto que ela não consegue mais recuperar. Sem uma
intervenção adequada para prever esses fogos, as chances aumentam a cada
ano, uma vez que a humidade da área esta diminuindo, assim como a
vegetação. Essa biomassa seca multiplica a probabilidade de fogo.
Veja abaixo um gráfico que mostra o histórico de queimadas na TI Arariboia:
O cenário de destruição representa a morte de diversas formas de vida
e o empobrecimento das comunidades indígenas. As perdas não são apenas
florestais; as centenas de animais mortos pelo incêndio são a base
alimentar dos índios, além de compor a cosmologia desses povos.
O Greenpeace Brasil alerta para a necessidade de o poder público
realizar ações mais efetivas pela proteção da floresta e dos povos
indígenas na região. As autoridades precisam mostrar mais esforços para
combater o fogo, assim como para combater com eficiência a extração
ilegal de madeira dentro da TI.
Salve os índios do Brasil! Os índios do Brasil podem ser a última esperança da humanidade. Conheçam nosso grupo: PROTOCOLO DE JOINVILLE CONTRA A EXPLOSÃO DEMOGRÁFICA MUNDIAL e nosso blog www.amayorca.blogspot.com.br
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