"As construtoras UTC, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, cujos principais executivos estão detidos ou indiciados, investiram em campanhas políticas ligadas ao agronegócio sul-mato-grossense. A Lava Jato teve início em março de 2014, ou seja, sete meses antes das eleições. Um dos principais beneficiados é o deputado Paulo Corrêa (PR), que recebeu das três empresas um montante que somado supera os R$ 300 mil"
"Empresas envolvidas no escândalo da Operação Lava Jato, investigação que apura o desvio de recursos da Petrobras para o pagamento de propina a políticos e lavagem de dinheiro, estão entre as doadoras das campanhas eleitorais de parlamentares ruralistas da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul, nas eleições de 2014, e que integram a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que pretende investigar as atividades do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no estado. Mineradoras, bancos privados, seguradoras, corporações e empresas do agronegócio também estão entre os doadores. Os dados são públicos e constam na página virtual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)."
As construtoras UTC,
Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão, cujos principais executivos estão
detidos ou indiciados, investiram em campanhas políticas ligadas ao
agronegócio sul-mato-grossense. A Lava Jato teve início em março de
2014, ou seja, sete meses antes das eleições. Um dos principais
beneficiados é o deputado Paulo Corrêa (PR), que recebeu das três
empresas um montante que somado supera os R$ 300 mil.
Corrêa será o relator
da chamada ‘CPI do Cimi’, Comissão Parlamentar de Inquérito que pretende
investigar as relações da organização indigenista com as retomadas dos
povos indígenas de terras tradicionais no estado. A parlamentar
ruralista Mara Caseiro (PTdoB) presidirá a CPI, que terá como
vice-presidente Marquinhos Trad (PMDB), também ligado ao ruralismo
sul-mato-grossense. As funções foram definidos na tarde desta
quarta-feira, 30.
"Juntos, os parlamentares receberam R$ 2.454.542,06 milhões em doações. Desse total, o relator da ‘CPI do Cimi’, deputado Paulo Corrêa, declarou ao TSE o montante de R$ 769.515, 50 - as construtoras UTC, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa financiaram, aproximadamente, 40% da campanha declarada pelo parlamentar ao TSE. O restante partiu de empresas ligadas à cadeia do agronegócio e demais doadores".
A presidente e
inventora da ‘CPI do Cimi’, deputada Mara Caseiro, declarou ter recebido
em doações para a campanha de 2014 o valor de R$ 607.238,65. Mara não
recebeu recursos diretos de nenhuma empresa ou construtora, apenas por
terceiros. Por exemplo, indivíduos com o sobrenome do vice-presidente da
CPI, deputado Marquinhos Trad, repassaram para Mara dois cheques com
dinheiro da JBS, o grupo dono da Friboi, totalizando R$ 26 mil. Na conta
de campanha de Mara chegou, por intermédio de Nelson Trad Filho,
ex-prefeito de Campo Grande (MS), um cheque do empresário João Roberto
Baird, que é acusado de participar de um esquema de desvio de R$ 48,7
milhões do Detran do Mato Grosso do Sul. Baird, até setembro de 2014,
era o nono maior doador individual das eleições, tendo repassado R$ 1,08
milhão para diferentes siglas partidárias.
"A deputada federal Tereza Cristina Corrêa (PSB/MS) também repassou doações de empresas para a campanha de Mara Caseiro, perto de R$ 125 mil da Iaco Agrícola S/A e da Energética Santa Helena S/A, uma usina de produção de etanol. Tereza Cristina estava na reunião do Sindicato Rural de Antônio João, no último dia 29 de agosto, quando Roseli Maria Ruiz, presidente do sindicato, acabou com o encontro convocando os fazendeiros para o ataque que culminou no assassinato de Semião Vilhalva Guarani e Kaiowá, na Terra Indígena Ñanderú Marangatú".
Já a senadora Simone
Tebet (PMDB/MS), uma das principais defensoras da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 71, que pretende transformar em parágrafo
constitucional o pagamento da chamada ‘terra nua’ aos fazendeiros com
propriedades em terras indígenas, enviou para Mara um outro cheque da
JBS de R$ 25 mil.
"Marquinhos Trad, do triunvirato que dirigirá os trabalhos da ‘CPI do Cimi’, foi quem mais arrecadou: R$ 1.077.787,91 milhão. O perfil de doadores segue o mesmo: construtoras, empresas agrícolas, JBS, Usina Santa Helena, o empresário Braid, mineradoras e a Engepar, empresa de engenharia investigada pelo Ministério Público Estadual, com inquérito correndo na Promotoria do Patrimônio Público e Social, de estar envolvida no pagamento de propinas da Operação Tapa-Buracos da prefeitura de Campo Grande na gestão de Nelson Trad Filho, irmão de Marquinhos Trad".
Não consta que as
doações apuradas junto ao TSE destes parlamentares sejam irregulares ou
ilegais. O setor privado, no Brasil, podia financiar campanhas em 2014 -
no último dia 17 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou
com as doações privadas. No entanto, o demonstrativo serve para a
sociedade averiguar quais interesses econômicos e financeiros estão por
trás dos deputados e deputadas que investigarão o Cimi e que insistem em
se opor aos direitos territoriais indígenas. Tanto os parlamentares
quanto seus doadores possuem interesses diretos ou indiretos nas terras
reivindicadas pelos povos indígenas no Mato Grosso do Sul.
Demais integrantes da CPI
A CPI é composta ainda pelos deputados Onevan Matos (PSDB),
ligado ao ruralismo, e Pedro Kemp (PT), única voz dissonante entre os
titulares da Comissão ao grupo liderado por Mara Caseiro. Os suplentes
serão os deputados e deputadas Antonieta Amorim (PMDB), João Grandão
(PT), Beto Pereira (PDT), Márcio Fernandes (PTdoB) e Ângelo Guerreiro
(PSDB).
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