Na
semana em que acontece a abertura do I Jogos Mundiais dos Povos
Indígenas, lideranças denunciam na Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, da Organização dos Estados Americanos (OEA), o genocídio de
seus povos em várias regiões do Brasil e, principalmente, no Mato Grosso
do Sul. Neste mesmo estado, na Assembleia Legislativa, foi instalada a
“CPI do Genocídio”.
De
última quarta-feira (21) para cá, os Guarani-Kaiowá tiveram duas
decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) suspendendo a reintegração de
posse nos tekohas (“lugar onde se é”) Ñhanderú Marangatú e Guaiviry, no
Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai. Vitórias fundamentais dos
povos indígenas e das lutas contundentes pelos seus direitos,
especialmente suas terras. Neste contexto, têm sido decisivas as
manifestações de repúdio, as declarações e gestos de solidariedade dos
povos indígenas e seus aliados no Brasil e no mundo.
E
o presidente da Comissão Especial da Proposta de Emenda Constitucional
(PEC 215), deputado Nilson Leitão, após a realização de três reuniões
nesta semana - em que inúmeras manifestações de racismo e colonialismo
foram feitas pelos membros ruralistas da comissão -, garantiu que da
semana que vem a votação do Parecer da PEC não passa.
Ou
seja, a realidade indígena indica que a realização destes Jogos, e o
seu caráter celebrativo, por si, são extremamente contraditórios.
Dilma Rousseff e Kátia Abreu, juntas na abertura
Juntamente
com a ministra Kátia Abreu, a presidente da República, que se nega a
receber representantes dos povos indígenas para tratar da paralisação
das demarcações das terras indígenas, estará na abertura do I Jogos
Mundiais dos Povos Indígenas. Para garantir a “segurança” da presidente,
um forte esquema de segurança foi montado, envolvendo as polícias
civil, militar e federal. Segundo um jornal local, até um esquadrão
antibombas está à disposição.
Testando esquemas de segurança e repressão
Entre
os movimentos sociais e povos indígenas vêm circulando informações
sobre um sofisticado esquema de “inteligência” de segurança que estaria
sendo testado nesses jogos com o intuito de ser utilizado nas Olimpíadas
do Rio de Janeiro, no próximo ano. Além disso, estão sendo utilizados
espécies de robôs para desarmar artefatos explosivos e bombas, além de
cães treinados na identificação de explosivos.
Na fila dos indignados
Continua
o clima de insatisfação de muitos indígenas, especialmente os que
vieram com a intenção de vender seus artesanatos durante a realização do
evento internacional. Tinham como referência os jogos indígenas
nacionais, onde existia um acesso livre para essas atividades. O fato
foi denunciado ao Ministério Público Federal (MPF) que intimou a
organização dos jogos a liberar o acesso dos indígenas, caso contrário
medidas judiciais poderão ser tomadas.
Repórteres
internacionais mostraram-se surpresos com a proibição imposta aos
indígenas de darem entrevistas. Conforme informações colhidas no local,
nem pessoas credenciadas puderam adentrar na arena dos jogos. Fotos, nem
pensar.
Quem ganha, quem perde
Um folder sobre os jogos, produzido pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), tem sido distribuído e divulgado, em português, espanhol e inglês.
Este material contém uma série de informações e questionamentos que
procuram fazer um contraponto ao ufanismo que envolve os jogos e que
tentam desviar o foco das lutas e realidades dos povos indígenas. Além
disso, várias lideranças e povos indígenas questionam o fato de se estar
gastando vultosas quantias de recursos públicos. Enquanto o governo
alega falta de recursos para a demarcação de terras indígenas e
políticas públicas para esses povos, a informação corrente por aqui é de
que pelo menos R$ 163 milhões teriam sido disponibilizados para os
jogos.
Indígenas insatisfeitos
“Não
sou contra os jogos. Acho até que já deveriam se realizar há mais
tempo, só que não concordo com a forma de como estão sendo conduzidos”,
expressou uma liderança Guarani-Mbyá de São Paulo.
Num
depoimento emocionado, uma liderança Karajá relatou como se sentiram
traídos com a condução dos jogos, falando que a presença de Kátia Abreu,
será um horror, pois ela é declaradamente contrária aos povos
indígenas: “Será um horror. Estarão zombando de nós. Estão cometendo um
genocídio contra nossos povos”.
“A
construção da arena é um padrão não indígena. A gente quer fugir desse
formato de ‘rodeio’, de campeonato de índios. Como são os primeiros
jogos mundiais, todos esses ingredientes que a gente não conhecia
fugiram do nosso controle. A ideia inicial era fazer uma coisa mais
aberta, mas tem a questão de segurança, bombeiros. Todas essas situações
fizeram com que houvesse um desenho essencialmente urbano” (Agencia
Brasil, 21/10/15).
Conforme
desejo manifesto pelos organizadores, a intenção é de que seja dada
continuidade aos jogos mundiais indígenas. Porém, a desorganização e as
insatisfações demonstradas até o momento mostram que será necessária uma
mudança radical nos procedimentos e na condução dos eventos futuros.
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