Lorenzo Carrasco |
Deputado Pedro Kemp (C) |
Durante a CPI do CIMI (13), ao invés de oitivas, previstas no regimento
da Assembleia Legislativa, o que se deu ontem foi uma palestra do
jornalista mexicano Lorenzo Carrasco. Tanto Carrasco como o jornalista
Nelson Barreto não tem informação de que há uma participação do CIMI nas
ocupações das fazendas em Mato Grosso do Sul, conforme responderam
quando questionados pelos deputados Pedro Kemp e Marquinhos Trad.
A CPI tenta investigar o CIMI (Conselho Indigenista Missionário),
entidade conhecida por apoiar a causa indígena, por conta das ocupações
das terras em MS. Para a presidente da comissão, deputada estadual Mara
Caseira, da bancada ruralista, a participação de Carrasco e também o
jornalista Nelson Barreto foi para subsidiar a CPI com informações
teóricas. Porém, a realização de palestras ao invés de oitivas, foi
duramente criticada pelo vice-presidente da CPI, Marquinhos Trad e pelo
integrante, Pedro Kemp. Para ambos, a proposta da CPI, que tem custos ao
erário, não foi atingida já que os convidados nada têm de concreto
contra o CIMI.
“Não há em nosso regimento previsão de uma reunião como essa. Pessoas convidadas, palestras, audiência pública? No regimento interno está clara o que é função de uma CPI: Determinar diligências, ouvir indiciados, testemunhas, requisitar documentos de órgãos. O que é isso deputada? ”, dispara Kemp.
Para o deputado, as pessoas a serem ouvidas na CPI têm que ter vivência
e experiência na realidade de Mato Grosso do Sul e não, convidados que
desconhecem o dia a dia vivido pelos povos indígenas e pelo CIMI.
Conhecido por ser
seguidor de Lyndon LaRouche (teórico da extrema direita norte-americana
questionado por posturas nazistas), Carrasco fez um extenso discurso, de
quase 4 horas, sobre o que seria uma teoria da conspiração, a qual o
CIMI não teria intenções da integração dos indígenas à sociedade. E
ainda, considera a demarcação de terras, a criação de reservas,
segregação. Para o jornalista, o CIMI atua para tirar a autonomia da
nação e abrir espaço para os interesses estrangeiros.
Kemp
rebateu o seguidor de La Rouche e se posicionou dizendo que o Brasil é
um país multiracial, multietnico, livre e que garante ao seu povo o
direito de liberdade de expressão, que respeita a opinião do palestrante
mexicano, mas que não concorda com a teoria dele. Também teve que
defender o Brasil quando Carrasco questionou a legitimidade da
Constituição de 1988 feita pelos parlamentares constituintes,
“representantes legítimos do povo brasileiro, escolhidos através do
voto”. (Nela, deu-se o prazo de 5 anos para que o País fizesse a
demarcação. O que não foi feito).
Defensor da autonomia dos povos
indígenas, Kemp afirmou que o palestrante não conhece a realidade
enfrentada nas aldeias. Sobre o fato dos índios não estarem
integrados, conforme disse o jornalista mexicano, o deputado contestou
com a informação de que só em Mato Grosso do Sul há 800 indígenas nas
universidades, mestres, doutores. O parlamentar afirmou que o CIMI não
tenta barrar nada disso e que o jornalista está equivocado em comparar a
realidade brasileira com a de outros países, onde a população em sua
maioria é indígena.
Kemp também frisou para a presidente da CPI,
Mara Caseiro e ao relator, Paulo Correia, o descumprimento do regimento
já que cabe à CPI investigar por meio de oitivas, requisitar documentos,
e não, levar palestrantes para a Assembleia Legislativa. Antes da
“palestra”, o vice-presidente da CPI do CIMI, deputado Marquinhos Trad
também já tinha alertado publicamente o descumprimento do regimento.
Tanto ele como Kemp foram contra a palestra, mas foram vencidos pelos
votos de Mara Caseiro, Onevam de Matos e Paulo Correia.
Carrasco
preferiu não detalhar suas ligações com Lyndon LaRouche, disse que vive
da venda de livros, tem editora e que não é financiado pelo agronegócio e
que como mexicano, nasceu em um país indígena e não participa da CPI
para prejudicar os índios. O relator Paulo Correia disse que concorda
com a tese de Carrasco e abriu um parêntese ao repercutir a campanha em
redes sociais de boicote à carne de MS enquanto o governo federal não
resolver o problema.
“Quero saber quem é a mulher que disse aqui que a
carne nossa tem sangue de crianças indígenas? Vou fazer uma moção de
repúdio! ”, disparou.
Barreto por sua vez, falou bem menos, cerca
de 1 hora, criticou a valorização das culturas indígenas e quilombolas.
Segundo ele, há um movimento contra a cultura europeia. Ele também
criticou a atuação da Igreja junto aos indígenas.
A próxima
sessão da CPI do CIMI está prevista para o dia 21 de outubro,
quarta-feira, quando deverão ser ouvidos o delegado da PF (Polícia
Federal), Alcídio de Souza, o produtor rural de Dois Irmãos do Buriti,
Ricardo Bacha, a esposa Jucimara Bacha, ruralista Vanth Vanni Filho, o
antropólogo Edward Luz e o padre Ricardo Carlos, da UCDB (Universidade
Católica Dom Bosco).
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