2 de fevereiro de 2014

NOTA da Aty Guasu sobre a aldeia Apyka'i (MS): Mortes por atropelamentos, torturas por pistoleiros a mando de fazendeiros e omissão do Estado


“o meu pai, o meu marido e meus filhos já foram assassinados e enterrados aqui, eles foram assassinados pelos fazendeiros, eu e a comunidade vamos morrer tudo aqui também. Não quero mais voltar na beira da rodovia, lá sofremos muito, lá é um lugar de morrer, por isso em vez de voltar na beira da rodovia, quero que a justiça do Brasil mande matar-nos todos aqui”



Cacique Damiana _ Fotos Aty Guasu
Marido da cacique


Esta nota da Aty Guasu visa comunicar a todas as sociedades nacionais e internacionais que a comunidade GUARANI KAIOWÁ DO TEKOHA APYKA’I-DOURADOS-MS SOFRE O RISCO IMINENTE DE EXTINÇÃO/DIZIMAÇÃO PELA AÇÃO DA USINA DE ÁLCOOL E AÇÚCAR SÃO FERNANDO E DA JUSTIÇA FEDERAL. 


  • Há mais de 15 anos, a comunidade Guarani Kaiowa reivindica a demarcação de tekoha Apyka’i. Em 2008, a mando da Usina de Álcool São Fernando e fazendeiros, dezenas de pistoleiros atacaram a comunidade Guarani Kaiowá e queimaram todas as ocas/casas e destruíram as plantações e animais domésticos dos indígenas.
  • Os pistoleiros renderam e torturaram todos os integrantes da comunidade indígena, fraturaram as pernas e os braços dos Guarani Kaiowa. Os homens fortemente armados despejaram e largaram indígenas à margem da rodovia. Alguns dias depois, da margem da rodovia, a comunidade despejada retornou ao tekoha Apyka’i quando começou a sofrer cerco de pistoleiros contratado. Na época, a liderança religiosa idoso da comunidade Guarani Kaiowa foi atropelado e dilacerado pelo veículo da fazenda. O cadáver da liderança foi sepultado no tekoha Apyka’i. 

  • A viúva Damiana assumiu a liderança da comunidade. Em 2009, a Usina São Fernando e fazendeiro conseguiu uma ordem de despejo judicial dos indígenas do tekoha Apyka’i. A ordem judicial foi executada pela força policial em 2009. A comunidade Guarani Kaiowa novamente foi largada à margem da rodovia onde não tinha água para eles beber e monitorada pelos pistoleiros.

  • No final de 2010, a comunidade Guarani Kaiowa pela segunda vez retornou ao tekoha Apyka’i, mas foi atacada e retirada pelos pistoleiros da Usina de Álcool no momento que mais uma liderança foi torturada e assassinada pelos pistoleiros da fazenda. Pela terceira vez a comunidade foi atacada, torturada e expulsa de sua terra tradicional Apyka’i. Os pistoleiros despejaram a comunidade à margem da rodovia. Em 2011, um dos filhos da Damiana foi atropelado e dilacerado pelo carro da fazenda.

Em 2012, à margem da rodovia, em suas barracas, a comunidade inteira começou a sofrer ameaça de morte, mais uma criança foi atropelada pelo veículo da fazenda. Em 2013, uma indígena idosa morreu intoxicada pelo veneno lançado pelo avião da Usina de Ácool São Fernando. Em 2013, mais uma criança foi dilacerada pelo carro da Usina São Fernando. Em agosto de 2013 todas as barracas foram incendiadas pelos homens da Usina de Álcool. Na margem da rodovia, a comunidade além de sofrer ameaça de morte e bebia agua poluída, passando miséria e fome.
Em setembro de 2013, a comunidade Guarani Kaiowa mais uma vez retornou ao tekoha Apyka’i onde tem água da mina d’água, a comunidade construiu as suas barracas, ficando distante da margem da rodovia. Desde setembro de 2013 a comunidade do tekoha Apyka’i passou a sofrer ameaça de morte. Uma das comunidades Guarani Kaiowa mais ameaçada e sofrida nos últimos quinze (15) anos no município de Dourados-MS. Esses fatos acontecidos com a comunidade Apyka’i, no último ano, já foram divulgados amplamente nas imprensas nacionais e internacionais.
 Em 2014, no dia 23 de janeiro de 2014 a comunidade Guarani Kaiowa do tekoha Apyka’i mais uma vez foi notificada pela Justiça Federal (TRF3/SP) para ser expulsa de sua terra tradicional, autorizando a força policial para despejar os indígenas do Apyka’i. 
Diante disso, a liderança viúva-Damiana e comunidade declarou que não vai sair do tekoha Apyka’i. 
A viúva Damiana ameaçada de morte falou assim: “o meu pai, o meu marido e meus filhos já foram assassinados e enterrados aqui, eles foram assassinados pelos fazendeiros”, “eu e a comunidade vamos morrer tudo aqui também. Não quero mais voltar na beira da rodovia, lá sofremos muito, lá é um lugar de morrer, por isso em vez de voltar na beira da rodovia, quero que a justiça do Brasil mande matar-nos todos aqui”. “Estou avisando o governo, justiça e todos (as) sociedades que vou morrer também lutando pelo pedaço de nossa terra Apyka’i, essa é nossa decisão”.
 “Pedimos apoio de todos (as) para que o governo e justiça em vez de despejar e matar-nos, é para demarcar o pedaço de nossa terra tradicional Apyka’i”.

Nós lideranças da Aty Guasu solicitamos também ao Governo e Supremo Tribunal Federal para deixar VIVER O TEKOHA APYKA’I. NOSSO GRITO ALTO É: CHEGA DE EXTERMÍNIO DA COMUNIDADE DO TEKOHA APYKA’I
JUSTIÇA DO BRASIL E USINA SÃO FERNANDO NÃO EXTERMINE GUARANI KAIOWA DO TEKOHA APYKA’I
DEIXA TEKOHA APYKA’I SOBREVIVER.
Tekoha Guarani Kaiowa Apyka’i-Dourados-MS, 01 de fevereiro de 2014
Aty Guasu luta contra o extermínio do povo nativo Guarani Kaiowa

Assista ao vídeo do MPF AQUI!

Nenhum comentário:

Postar um comentário