30 de outubro de 2015

Guerrilha, "Tex" e 6 milhões de reais: o depoimento do delegado Alcídio, da Polícia Federal, na CPI do Cimi

 Assessoria de Comunicação - Cimi

O que o personagem dos quadrinhos western chamado Tex, um policial texano herói da colonização do oeste estadunidense, tem a ver com a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul que investiga o trabalho do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) no estado, a chamada CPI do Cimi?    


Aparentemente, nada - mas, conforme o delegado da Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo - responsável pela operação que culminou na morte de Oziel Terena, na Terra Indígena Buriti, município de Sidrolândia (MS) - afirmou nesta terça-feira, 27, durante oitiva da CPI, é onde tudo começa. Foram as leituras do gibi Tex que o introduziram à questão indígena - e juntando com o que ele “ouviu dizer” ou “disseram para ele, mas não é possível provar” sobre o Cimi, ele pôde concluir que a organização indigenista financia e incita as retomadas de terras no Mato Grosso do Sul, o que para ele compõe um mosaico de ilegalidades envolvendo técnicas de guerrilha e financiamentos milionários.

Como, de que forma e quais elementos materiais comprovam estes supostos procedimentos de atuação do Cimi junto aos povos indígenas, não houve Tex que ajudasse o delegado a comprovar. Tampouco Jeová, evocado por Alcídio para lançar dúvidas se de fato uma freira do Cimi que atua no Mato Grosso do Sul era religiosa ou farsante, posto que, conforme o delegado afirmou, a freira sequer sabia quem era Jeová.

Nesta quarta-feira, 28, o Cimi divulgou uma nota demonstrando indignação com a declaração do delegado.  

Conspiração

Acusações graves de todo tipo, sem provas: treinamentos de táticas de guerrilha, falsidade ideológica de missionários e assessores; milhões de reais despejados pelo Cimi na conta de um indígena anônimo - tudo devidamente enquadrado pelo delegado Alcídio no científico e metodológico “ouvi dizer” e no “me disseram, mas não posso provar”. Aliados a teorias da conspiração - formalmente convocadas na CPI através do depoimento/palestra do sociólogo mexicano Lorenzo Carrasco - de que, para atender a "interesses estrangeiros", o Cimi trabalha para impedir a "integração" dos indígenas à sociedade branca, as afirmações do delegado tornam-se matéria-prima para os parlamentares ruralistas construírem uma narrativa fantasiosa e subjetiva de criminalização do Cimi, jornalistas e integrantes dos movimentos sociais no estado.

A CPI é conduzida por parlamentares cujas campanhas eleitorais foram financiadas pelo agronegócio e por empresas envolvidas na Operação Lava Jato. A ruralista Mara Caseiro (PTdoB) preside a Comissão, que tem como vice o deputado Marquinhos Trad (PMDB) e como relator o deputado Paulo Corrêa (PR). O triunvirato recebeu, nas eleições de 2014, R$ 2.454.542,06 milhões em doações. Desse total, o relator da ‘CPI do Cimi’ declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) o montante de R$ 769.515, 50 - as construtoras UTC, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa financiaram, aproximadamente, 40% da campanha declarada pelo deputado.

Na mesma reunião da Comissão, foi ouvido também o indígena Dionedson Terena, autor do vídeo que registra a apreensão de equipamentos do jornalista Ruy Sposati. Ainda, sob sigilo, foram colhidos depoimentos de indígenas Guarani Kaiowá do município de Coronel Sapucaia, na fronteira com o Paraguai, a 350km do local onde ocorreu a tentativa de reintegração de Buriti, base das acusações da CPI.

A cada sessão, convocam mais e mais depoentes, como o vice-governador de Roraima Paulo César Quartieiro - alegando, sem fatos determinados, que a “tecnologia usada pelo Cimi no estado é a mesma no restante do país”, nas palavras do relator, deputado Paulo Corrêa, e que, portanto, é relevante para o relatório da Comissão. A Comissão tornou-se um muro de lamentações e calúnias contra o Cimi e a demarcação das terras indígenas - mesmo que paralisadas - no Mato Grosso do Sul. Uma espécie de julgamento macartista: o deputado Corrêa chegou a perguntar ao indígena Dionedson Terena o que ele fazia numa assembleia... Terena.     

Alcídio: o delegado do “ouvi dizer”

Sem precisar nomes, datas e documentos, o delegado acusou o Cimi de financiar e organizar os indígenas em ocupações de terra, realizando treinamentos "de guerrilha", além de transferir quantias milionárias sem motivo definido para contas bancárias de indígenas no Mato Grosso do Sul.

"Como chefe da delegacia, não só indígenas como fazendeiro (sic) me traziam essas informações, mas ninguém consegue materializar isso", contou o delegado, ao ser questionado se ele tem convicção de que o Cimi instiga, incita e financia ocupações de terra no estado.

No dia da apreensão do equipamento, continua o policial, "alguns especialistas até dizem que coloquei minha vida em risco, quando eu saí da coluna de proteção dos policiais e fui até o suposto jornalista, ao componente do Cimi. Porque eu vi ali, como policial a possibilidade de trazer elementos de comprovação (…). Então, me surge a oportunidade, e eu não poderia deixar… E eu posso garantir aos senhores [deputados], quando os senhores pedirem a cópia: o inquérito tá gostoso".

Questionado pela deputada Mara Caseiro se existiam outros inquéritos a respeito do Cimi na PF, Alcídio desvia, lamentando: "como vivemos num regime democrático de direito, a polícia fica de mãos atadas em alguns momentos". Comentando o tipo de armamento utilizado pela Polícia Federal - em contraposição a tipos de cápsulas encontradas em ataques contra os indígena -, o delegado informou que “ (...) todo policial, ao sair agora, graças ao nosso bom deus, tem uma glock 9mm".

A compaixão aos indígenas parece ser outra lição de Tex ao delegado Alcídio. O policial sugeriu que os indígenas se juntassem com fazendeiros para exportar produtos, arrendando as próprias terras. Como toda terra indígena pertence à União, sendo o usufruto exclusivo da comunidade que a ocupa, arrendar é crime federal. Para o delegado, porém, organizações como o Cimi lucram com a miséria dos indígenas, e por isso jamais desejariam vê-los produzindo ao lado de fazendeiros ou arrendando as terras. Questionou, ainda, "por que só tem território indígena onde a terra é rica?", no lastro do pensamento conspiracionista proposto por Lorenzo Carrasco. Respondeu a si próprio dizendo não concordar com a ideia de que "o branco destrói e o índio não".

Guerrilha pelo telefone

"Pra se fazer uma ocupação, há uma logística", explanou Alcídio. "Pra se conseguir essas invasões, precisa-se de dinheiro. Mesmo que a comunidade se organize, há necessidade de dinheiro. Se então, o senhor [deputado Paulo Corrêa] me pergunta [se o Cimi financia as ocupações indígenas], eu diria que sim".

Relator da CPI, o deputado Paulo Corrêa (PR-MS) comentou o depoimento do delegado: "posso considerar (...) que houveram técnicas de guerrilha: eles [indígenas Terena] foram treinados pra fazer isso, e pelo jeito, pelo que se coloca aqui, é o Cimi. Segundo, teve que ser financiado, tem que ter um dinheiro que veio de algum lugar. E terceiro, é que depois de feito a negociação toda, volta o Cimi e força a barra pra não…".

Cortando o deputado, Alcídio continuou: "eu me lembro que esse senhor [não precisou quem seria] mencionou o seguinte: 'enquanto fica a gente negociando' - e isso eu pude perceber, ele falou, isso ele falou - 'o Cimi por telefone instigando: não sai, não sai, não sai'. Aí eles, à frente ali da negociação, que que acontece? Um sai, atende o telefonema, retorna… e ficam… usando…". "Quem lê Tex, pesquisa profundamente", disse o deputado Paulo Corrêa, elogiando o delegado, e seguiu: "O senhor pesquisou depois sobre o Cimi, tentou entender o que é o Cimi, como ele funciona?", ao que o delegado respondeu: "eu tentei umas pequenas leituras, compreendi e fiquei satisfeito com o que eu li… Eu não me aprofundei, pra ser sincero".

6 milhões de reais

O delegado acusou o Cimi de ter pago 6 milhões de reais a um estudante indígena Guarani Kaiowá da região de Dourados, sem precisar os porquês. "Teve um índio (...), quando o [rezador] Nísio Gomes faleceu [assassinado], ele menciona que tem um índio fazendo faculdade em Dourados, que recebia em torno de 6 milhões na conta dele, vindo do Cimi", depôs sob juramento o policial federal. "Esse índio não quer colocar no papel, porque, o temor.... Aí eu já instigo os senhores [deputados] a verificar a contabilidade do Cimi".

"Essa acusação é uma loucura completa. É um factoide, uma manobra, porque eles querem abrir as contas do Cimi", opina o secretário executivo do Cimi, Cleber Buzatto. "Nós não temos nada a esconder sobre o nosso trabalho. E, no entanto, eles querem acabar com a gente de qualquer jeito, inclusive trabalhando com ficções, e gastando dinheiro público em uma CPI que trouxe até sociólogo mexicano simplesmente pra afirmar, no fundo, que não se deve demarcar terras indígenas - e mais, que é preciso exterminar aqueles que apoiam estas populações em suas lutas pela terra".

Na CPI, ao menos três integrantes do Cimi deverão ser ouvidos: o coordenador regional da entidade no Mato Grosso do Sul, Flávio Machado, o secretário nacional, Cleber Buzatto, e o presidente do Cimi, Dom Roque Paloschi.



"Quem faz ocupação somos nós", afirma indígena na CPI do Cimi

A CPI ouviu o indígena Dionedson Terena, autor do vídeo que registra o momento exato em que o delegado da Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo apreende um laptop e um gravador do jornalista Ruy Sposati, que realizava cobertura da reintegração de posse contra indígenas Terena.

A oitiva iniciou com o deputado Paulo Corrêa exigindo a qualificação do advogado que acompanhava o indígena. Dionedson - cuja primeira língua é o Terena - prestou depoimento em português, e foi o primeiro a falar 'sob juramento'. O procedimento, até então, não havia sido utilizado para colher os depoimentos do casal de fazendeiros e nem dos teóricos que foram convidados a palestrar-depor nas sessões anteriores.

Dionedson exibiu, na íntegra, o vídeo da apreensão dos equipamentos. O conteúdo registrado pelo Terena e publicado no Youtube em 2012 havia sido parcialmente utilizado em uma reedição audiovisual apresentada pela fazendeira Jucimara Bacha, na reunião anterior da CPI. "Na semana passada, o vídeo foi utilizado de forma a incitar [provar] a participação do Cimi na retomada. Eu quero contradizer a fala da produtora rural na semana passada e passar o vídeo inteiro hoje", afirmou o indígena.

Na sessão anterior, após a exibição do vídeo, os deputados afirmaram haver ali provas de que o Cimi estaria "por trás" da "invasão de terras". Dionedson discorda da interpretação de que aquelas imagens ali comprovariam o envolvimento do Cimi no financiamento e organização das retomadas. Ao contrário, para Dionedson as imagens registradas por ele no vídeo colocam a entidade, outros movimentos sociais e jornalistas na condição de vítimas da ação policial. "Eu quero usar esse vídeo pras pessoas entenderem e compreenderem o contexto em que ele foi filmado, que era a primeira tentativa de reintegração de posse de Buriti".

A apreensão de equipamentos do jornalista provocou reações entre organizações que defendem o trabalho da imprensa. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul acompanharam a questão, e mais de cem organizações prestaram solidariedade, acusando a polícia federal de violação de direitos profissionais.

Uma semana depois da apreensão, na segunda tentativa de reintegração de posse, uma violenta ação da Polícia Federal - ocasião em que dezenas de celulares e câmeras também foram apreendidos pelos policiais - culminou na morte do indígena e agente de saúde Oziel Terena.

Dionedson explicou como se organiza politicamente o povo Terena. Segundo ele, os indígenas se organizam "nas assembleias, quando lideranças de todas as aldeias e retomadas se encontram para discutir a situação das terras. Quem convoca as assembleias é o próprio povo terena, é um coletivo. Quem decide nas assembleias é o povo Terena". Dionedson refutou as acusações dos parlamentares de que movimentos não-indígenas estariam "por trás" das ocupações. "No momento das decisões de ocupação quem decide somos nós, ninguém de fora pode participar. Não é nenhuma organização governamental ou não-governamental que faz isso, é o coletivo Terena".

29 de outubro de 2015

Carta aberta a deputada estadual Mara Caseiro (PTdoB do MS)






Comunicamos a deputada estadual por Mato Grosso do Sul, Mara Caseiro (PTdoB) que a campanha do Boicote ao Agronegócio de Mato Grosso do Sul não é apócrifa (texto ou obra que não tem autenticidade confirmada), ela é assinada e não precisa ficar procurando, muito menos fazendo acusações infundadas na Casa de Leis, durante as sessões ordinárias, como a senhora fez na manhã desta quinta-feira (29), tentando descobrir quem fez ou quem se responsabiliza por essa luta.

Mais uma vez vamos deixar claro para vossa senhoria que a decisão de lançar a campanha foi do Conselho do Povo Terena e do Conselho Aty Guasu, do Povo Guarani-Kaiowá e apoiando a luta dos povos indígenas de Mato Grosso do Sul, que estão cansados de ver o seu povo sendo assassinado, torturado, estuprado, sequestrado, assinam centenas de entidades, organizações e movimentos sociais e sindicais de todo o país e do mundo.

Inclusive estes movimentos se organizaram e soltaram uma nota oficial que está publicada no mundo todo, portanto, não há nada a esconder nobre deputada, tudo está as claras e a nossa luta é feita dessa maneira de cara limpa, pois o medo já se foi e cansamos de ficar calados diante das barbaridades que ocorrem em Mato Grosso do Sul com o povo indígena, massacrado pela inoperância do estado brasileiro, pela violação dos direitos individuais e coletivos do capitalismo selvagem e pela força brutal de muitos que fazem parte do agronegócio e compõem a classe ruralista deste estado.

Sobre quem fez e está fazendo a campanha, esperamos que não tenha mais dúvidas excelentíssima, pois não temos nada a esconder, todo o material está sendo feito por diversos companheiros e companheiras da área, que estão espalhados por este país e pelo mundo, nos enviando contribuições e isso, para nós, também é motivo de muito orgulho, pois dessa maneira, com vários artistas trabalhando, nós temos conseguido denunciar ao mundo o que acontece aqui em MS.

Aproveitando, queremos lembrar a nobre deputada, que qualquer um ou qualquer uma pode frequentar nossos protestos, mobilizações e somar com a nossa luta, pois ser militante da causa ainda não é crime constitucional em nosso país, apesar de que, infelizmente, pessoas como a senhora tentam criminalizar muitos de nós, inclusive em um tom de intimidação para que as pessoas desistam da luta, o que é uma pena, pois não fazemos o mesmo quando vocês se organizam e defendem as bandeiras que acreditam serem corretas.

Portanto, mais uma vez, listamos as entidades que assinam com o Conselho Terena e com o Aty Guasu do Povo Guarani-Kaiowá nessa campanha e acreditamos que todas as outras que forem necessárias para gritar - em alto e bom som - que está mais do que na hora de colocar um fim ao genocídio dos povos indígenas em Mato Grosso do Sul: 



ABA - Associação Brasileira de Antropologia 

ACAÓ - Associação de Conservação Ambiental Orgânica

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade – AFES

Alternativa Terrazul

ANEL – Associação Nacional dos Estudantes Livres
ANAI- Associação Nacional de Ação Indigenista
ANP- Articulação Nacional das Pescadoras
AMPJ - Ética, Justiça, Cidadania 
AMAR Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária / Paraná
Articulação Internacional dos Atingidos e Atingidas pela Vale S.A.
Articulação Antinuclear Brasileira (Brasil)
Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul – Arpinsul
Associação Ka'apor Ta Hury do Rio Gurupi
Associação BEM TE VI Diversidade
Associação Movimento Paulo Jackson - Ética, Justiça, Cidadania (Bahia)
Associação Ambiental Voz da Natureza (ES)
Arpinsul, - Articulação dos Povos Indigenas da Região Sul
Articulação Nacional de Quilombos 
APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)
APOINME
APROMAC Associação de Proteção ao Meio Ambiente / Paraná
Blog Amazônia em Foco
Cáritas Brasileira
CEBI - Centro de Estudos Bíblicos
Centro de Trabalho Indigenista – CTI
Centro de Defesa de Direitos Humanos do Mato Grosso do Sul – Marçal de Souza Tupã-i
Centro de Defesa de Direitos Humanos Heróis do Jenipapo
Centro de Defesa de Direitos Humanos Tomas Balduino de Atilio Vivacqua – Espírito Santo
Centro de Defesa de Direitos Humanos Nenzinha Machado
Centro de Defesa de Direitos Humanos Elda Regina
Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva – Cedefes
Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre - CDDHEP
CESE - Coordenadoria Ecumênica de Serviço
CIMI – Conselho Indigenista Missionário
Comunità di S. Francesco Saverio, Trento - Itália
Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura do Piauí - CEPCTPI
Comitê Estadual de Educação em Direitos Humanos do Piauí – CEEDHPI
Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo – CDHPF
Comissão Pastoral da Terra – CPT
Comissão Nacional de Juventude Indígena/CNJI
COMIN- Conselho de Missão entre Povos Indígenas
CONIC - Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
CPP - Conselho Pastoral de Pescadores 
CONAQ - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas
Coletivo Terra Vermelha
Coletivo Papo de Rua
CUT - Central Única dos Trabalhadores de Mato Grosso do Sul 
CSP – Conlutas
FBOMS 
FLD - Fundação Luterana de Diaconia 
Fórum Mudanças Climática e Justiça Social
Fórum de Mulheres de Mercosul/PI
Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara - FAPP-BG 
Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – FBOMS
Fundação instituto Nereu Ramos – Finer – Lages
Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas
Iepé - Instituto de Pesquisa e Formação Indígena
INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos
Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN)
Instituto Internacional de Educação do Brasil
IPES - Incubadora Popular de Empreendimentos Solidários
Marcha Mundial de Mulheres
MAM - Movimento pela Soberania Popular na Mineração.
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH
Movimento dos Pequenos Agricultores/MPA
Movimento Quilombola do Maranhão
Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Brasil 
Movimento de Apoio aos Povos Indígenas – MAPI
MMC - Movimento de Mulheres Camponesas
MNDH-SC
MNDH – RS
Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (NINJA) da Universidade Federal de São João del-Rei
O RUA - Juventude Anticapitalista
PAD – Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiros
Pastoral da Juventude Rural (PJR)
Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil
PJR/ TB
PSTU/MS
RBJA
Rede de Profissionais em Antropologia (PROA)
Rede Jubileu Sul Brasil
Serviços SVD de JUPIC
Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM)
Serviço Interfranciscano de Justiça, paz e ecologia - Sinfrajupe
UMAM/CG
Uma Gota no Oceano
Via Campesina do Brasil
Vivat International
Rede de Juventude Indígena/REJUIND
TPT - Tribunal Popular da Terra
Teatro Imaginário Maracangalha
TOXISPHERA Associação de Saúde Ambiental / Paraná
KOINONIA - Presença Ecumênica e Serviço

(A foto da deputada é da Assessoria de Imprensa da Assembleia Legislativa de MS e está disponível na internet)

Jogos Mundiais: a repercussão da, cada vez pior, PEC 215



 Egon Heck, do Secretariado Nacional do Cimi, e Cimi Regional Goiás/Tocantins

O real embate que está estabelecido é o da demarcação das terras e dos territórios indígenas. É isso o que pensa também boa parte dos indígenas presentes em Palmas, capital de Tocantins, no I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas.

Na tarde da última terça-feira (27) os embates entre os povos indígenas e seus aliados e setores anti-indígenas aconteceram em três cenários distintos e distantes.

Em Brasília mais uma vez os povos indígenas foram barrados ao buscarem entrar na “Casa do Povo”, o Congresso Nacional, no momento em que uma das mais graves ofensivas aos seus direitos estava sendo encaminhada. Lá dentro o golpe já estava armado contra os direitos e as vidas dos povos originários deste país. A surpresa é que a nova redação do texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 215) consegue ser ainda pior e mais violador dos direitos indígenas.

Originariamente essa emenda constitucional tinha como foco possibilitar ao Congresso a decisão sobre os processos de demarcação das terras indígenas, que cabe hoje ao Poder Executivo. Aliás, as terras indígenas, conforme o Artigo 231 da Carta Magna pertencem originariamente a esses povos, cabendo ao governo estabelecer os limites e protegê-las.

A última redação apresentada, inesperadamente, pelo relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) vai muito além, incluindo o famigerado “marco temporal” e retirando o usufruto exclusivo dos recursos naturais existentes nas terras indígenas. Além disso, o projeto passaria a dar o poder ao Congresso de avaliar todas as terras indígenas pelos novos critérios, ou seja, seriam atingidas as terras indígenas já demarcadas, as em processo de regularização e todas as que precisam ainda ser demarcadas. Ou seja, as terras do presente, passado e futuro estariam sob a batuta dos parlamentares, majoritariamente anti-indígenas, assim como a definição de todo e qualquer direito dos índios sobre seus territórios.

Enquanto isso, em Campo Grande, no Mato Groso do Sul, acontecia mais uma sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cimi, com depoimentos indígenas em sigilo, afirmações intempestuosas, com o intuito de criminalizar a questão indígena e a entidade aliada de seus direitos. Estes depoimentos sigilosos são bastante preocupantes também tendo em vista a dificuldade de compreensão e expressão em português. Não se sabe se houve tradução, conforme garante a legislação.

O protesto também brotou no asfalto quente da arena dos Jogos, em Palmas. Enquanto as atividades esportivas e manifestações culturais aconteciam, um expressivo grupo se manifestou contra a PEC, contra o genocídio e na defesa de seus direitos. Representantes indígenas presentes nos jogos mundiais realizaram nesta semana a paralisação de uma das rodovias que dá acesso ao espaço dos jogos. E se organizam para novos protestos contra a PEC 215.

A vitória que os povos indígenas almejam é a demarcação e garantia das suas terras tradicionais. Como diz Antônio Apinajé: “A melhor atitude pela paz é demarcar e respeitar os territórios indígenas que são sagrados para nossos povos e necessários para o equilíbrio e a sustentação do clima no planeta terra”.

Finalmente, os indígenas que vendiam seu artesanato do lado de fora do evento foram conduzidos para dentro do espaço dos jogos, e podem participar dos debates e das celebrações. Porém, seus artesanatos ficam expostos no chão, castigados pelo forte calor e ainda sujeitos às chuvas. Enquanto isso, estandes climatizados e desocupados não podem ser utilizados pelos indígenas. Tomara que um dia o apartheid indígena acabe no Brasil. Continuamos na luta para que isso aconteça o mais rápido possível.

Fotos: Indígenas em protesto durante o I Jogos Mundiais dos Povos Indígenas, em Palmas (Laila Menezes)

28 de outubro de 2015

Índios do Brasil pedem boicote da agricultura "manchado de sangue indígena"

Des Indiens du Brésil appellent au boycott de l'agriculture "tachée de sang indigène"


Rio de Janeiro (AFP) - Un sac de soja dans une mare de sang, une barquette de viande révélant le visage d'un vieil Amérindien... Des peuples indigènes de l'ouest du Brésil appellent au boycott international des produits agricoles de leur région, marquée par un conflit meurtrier avec les exploitants agricoles.
"Les Etats-Unis, l'Asie et l'Europe doivent savoir qu'une partie du soja, de la viande et du sucre de canne qui leur parvient est tachée du sang des enfants indigènes. Continuer à les consommer, c'est entraîner plus de crimes contre nos peuples", a assuré à l'AFP Lindomar Terena, coordinateur de l'Articulation des peuples indigènes du Brésil (Apib).
L'appel au boycott, lancé il y a quelques jours, provient de six peuples indigènes, appuyés par des dizaines de mouvements sociaux, syndicaux et de l'église brésilienne ainsi qu'Amnesty International.
Les Amérindiens demandent aux acheteurs étrangers de cesser d'acquérir, via des géants brésiliens comme JBS, Marfrig, Bunge ou encore ADM, des produits agricoles du Mato Grosso do Sul.
Contactées par l'AFP, ces entreprises ne s'étaient pas exprimées à la conclusion de cet article.
- 41 assassinats d'indigènes en 2014 -
Cette région, à la frontière avec le Paraguay, est le théâtre d'un conflit meurtrier entre les Indiens, notamment Guaranis, et les agriculteurs. Certains pâturages et plantations sont reconnus comme terres indigènes mais la justice tarde à y réintégrer les tribus.
Condamnés à vivre au bord des routes ou dans des bidonvilles, certains Amérindiens réoccupent des territoires, ce qui fait monter la tension.
Plus de 40 assassinats d'indigènes ont eu lieu dans le Mato Grosso do Sul en 2014 d'après les chiffres de l'ONG CIMI, qui dénonce un "génocide". Le dernier meurtre en date, celui d'un jeune leader guarani, remonte à fin août. Le taux de suicide dans cette population est par ailleurs l'un des plus élevés au monde, d'après l'ONG Survival International: 232 pour 100.000 en 2013.
L'appel au boycott international inquiète les fermiers de la région, dont toute la richesse repose sur la vente de denrées agricoles, notamment à l'étranger. "C'est une initiative totalement grotesque. Les Indiens se font manipuler dans le but de fragiliser notre économie", a dénoncé auprès de l'AFP Mara Caseiro, députée locale et fille d'agriculteurs.
"Il n'y a pas d'hommes de main envoyés par les exploitants, il n'y a pas d'attaques contre les communautés indigènes. Il y a des entrées illégales sur des propriétés privées, ce qui crée des conflits", a-t-elle ajouté.
- "Toucher au portefeuille" -
Le chef Elpidio Guarani a décidé en août, avec d'autres habitants, de réoccuper une portion de ferme. Le jugement sur le statut de cette terre était suspendu depuis 2013.
"Vous voyez cette marque ? Une balle m'a traversé la hanche lors d'une attaque, en septembre. Je sais que le commanditaire était un exploitant de la région", racontait-il début octobre dans une université de Rio de Janeiro, pour rallier des soutiens à sa cause.
D'autres porte-parole indigènes sont allés relayer l'appel au boycott enAllemagne et en France ou encore auprès de l'OEA (Organisation des Etats américains), à Washington.
"Nous comptons sur l'opinion internationale, car ici le gouvernement n'a pas la moindre volonté d'en finir avec cette incertitude juridique sur les terres indigènes", expose Lindomar Terena.
"Toute tentative de dialogue avec l'agrobusiness échoue, la seule solution est de le toucher au portefeuille", complète Edmilson Schinelo, du CEBI (Centre d'études bibliques), l'un des articulateurs de la campagne au Brésil.
L'Etat du Mato Grosso do Sul est un important producteur de soja, de maïs, de canne et de viande. Il exporte principalement vers la Chine, l'Italie, l'Argentine et les Pays-Bas.

Traduzido

Rio de Janeiro (AFP) - Um saco de soja em uma poça de sangue, uma bandeja de carne revelando o rosto de um velho ... Os povos nativos no oeste do Brasil apelam para um boicote internacional dos seus produtos agrícolas na região, marcada por conflitos sangrentos com os agricultores.

"Os Estados Unidos, Ásia e Europa devem saber que uma porção de soja, carne e cana de açúcar que vem a eles está manchado com o sangue de crianças indígenas. Continuar a consumir é causar mais crimes contra nosso povo ", disse à AFP Lindomar Terena, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

Lindomar Terena (E) com Elizeu Guarani-Kaiowa na Casa Branca
Foto _ Pela CPI do Genocídio 

O boicote, lançado há poucos dias, envolve seis povos indígenas, apoiado por dezenas de movimentos sociais, sindicatos e da Igreja brasileira e Anistia Internacional.

Os nativos apelam para que compradores estrangeiros parem com a aquisição, via gigantes brasileiros como JBS, Marfrig, Bunge ou ADM, de todos produtos agrícolas de Mato Grosso do Sul.

Contactado pela AFP, estas empresas não se manifestaram ate a conclusão deste artigo.

- 41 assassinatos indígenas em 2014 -

Esta região na fronteira com o Paraguai é o cenário de um conflito sangrento entre os índios, especialmente o Guarani, e produtores. Alguns pastos e plantações são reconhecidos como terras indígenas, mas a justiça é lenta para reintegrar as tribos.

Condenados a viver na beira da estrada ou em favelas, alguns índios reocupam territórios, o que aumentou a tensão.

Mais de 40 assassinatos indígenas ocorreram em Mato Grosso do Sul em 2014, de acordo com dados do CIMI ONG, denunciando um "genocídio". O último assassinato até à data, a de um jovem líder Guarani, foi no final de agosto. A taxa de suicídio nessa população é também uma das mais altas do mundo, de acordo com a ONG Survival International: 232 por 100 mil em 2013.

A chamada para um boicote internacional preocupa os produtores da região, incluindo toda a riqueza que é baseada na venda de commodities agrícolas, especialmente no exterior. "É uma iniciativa totalmente grotesca. Os índios estão sendo manipulados a fim de enfraquecer a nossa economia", denunciou à AFP Mara Caseiro, deputada local e filha de produtores.

"Não há capangas enviados pelos operadores, não há ataques contra as comunidades indígenas. A entrada ilegal em propriedade privada gera o  conflito", acrescentou.

- "Tocando o portfólio" -

O líder Elpidio Guarani decidiu em agosto, com outros moradores, reocupar uma parte da fazenda. O julgamento sobre o estado desta terra foi suspensa desde 2013.

"Você vê esta marca? A bala atravessou o quadril durante um ataque em setembro. Eu sei quem fez e da região", disse no início de outubro em uma universidade no Rio de Janeiro, para reagrupar o apoio para sua causa.

Outro porta-voz nativo foi retransmitir o apelo ao boicote na Alemanha, França e a OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington.

"Contamos com a opinião internacional, porque aqui o governo não tem a menor vontade de acabar com essa insegurança jurídica na terra natal", explica Lindomar Terena.

"Qualquer tentativa de diálogo com o agronegócio falha, a única solução é bater o portfólio", Edmilson Schinelo completa, do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos), um dos articuladores da campanha no Brasil.

O estado de Mato Grosso do Sul é um grande produtor de soja, milho, cana e carne. Ele exporta principalmente para a China, Itália, Argentina e Holanda soja, milho, cana e carne. 

NOTA

Este Blog usou o Google Tradutor.