13 de agosto de 2013

Manchas da Vergonha

Fotos _ Egon Heck

Por Egon Heck/Cimi























A Anistia Internacional vem acompanhando com preocupação a realidade dos povos indígenas no Brasil e particularmente no Mato Grosso do Sul. Foi no intuito de ver e sentir a atual situação desses povos que uma delegação coordenada por Salil Shetty, secretário geral da organização, esteve no acampamento da Teko'á Wirixa (Xamã) Damiana, próximo a Dourados, na beira da BR 463.

Uma "mancha de vergonha", conforme expressou o representante da Anistia. Ali onde a cana e a soja se encontram, onde casebres Kaiowá Guarani estão espremidos entre a cerca e o asfalto, talvez seja a mais contundente imagem da discriminação, racismo e genocídio em curso contra comunidades desse povo.
A alta velocidade com que os veículos passam no local, sem nenhuma sinalização, fazendo frequentes vítimas, manchando de sangue o asfalto e a terra, é mais um trágico símbolo da violência estrutural ali implantada. Somente neste acampamento ocorreram a morte de cinco pessoas da mesma família, por atropelamento.
A delegação, acompanhada de várias lideranças indígenas da região e aliados, foi também, em silenciosa indignação, prestar sua homenagem às vítimas, especialmente crianças, mortas nos últimos anos, sem que até hoje nada tenha sido feito para punir responsáveis ou evitar a continuidade da tragédia. As cruzes na beira de um riacho, num resto de mata, têm que ser colocadas e visitadas à escondida, pois os donos do agronegócio na região querem impedir a todo custo o sepultamento das vítimas neste local. E narra a Xamã Damiana que viu o corpo de sua tia, ser arrancado por uma escavadeira a mando dos mesmos.

Não é apenas mais uma delegação a constatar a violência, contra os direitos humanos e étnicos de uma comunidade Kaiowá Guarani, é mais um grito de alerta internacional contra as "manchas de vergonha" espalhadas pelo Mato Grosso do Sul.
Dia Mundial dos Povos Indígenas
Por ocasião do dia mundial dos povos indígenas instituído pela ONU em dezembro de 1994, houve inúmeras manifestações, denúncias e protestos pelo mundo afora.
A Coordenação Andina dos Povos Indígenas (CAOI) divulgou uma carta na qual chamam atenção dos Estados nacionais e sociedade sobre o continuado desrespeito dos direitos dos povos indígenas, apesar de serem signatários de várias leis, normas e convenções que garantem o direito desses povos especialmente a seus território e recursos naturais, liberdade e paz.
Concluem se pronunciando "contra a perseguição judicial e todas as demais formas de criminalização do movimento indígena de Abya Yala como estratégia de intimidação aos líderes indígenas e contra a liberdade de expressão e direito de protestar que os povos originários temos tido como única estratégia de visibilização de nossos direitos".
Em Roraima, em torno de 500 indígenas marcharam pelas ruas da capital Boa Vista, 

protestando contra a violação de seus direitos, entregando documento em várias repartições públicas. Eles  denunciam as diversas ações em curso contra os direitos indígenas nos três poderes. Concluem conclamando "O Estado de Roraima deve aprender e trabalhar com a realidade local e adequar o plano de desenvolvimento a partir dos direitos indígenas. Com nossa Marcha no dia Internacional dos Povos Indígenas, chamamos atenção das nossas autoridades públicas para a grave situação dos direitos dos povos indígenas em Roraima para reverter esse quadro negativo, pela Justiça e Dignidade."

Mesa de diálogo ou de enrolação
Frustração. Esse foi novamente o sentimento entre os mais de 40 mil Kaiowá e Guarani no Mato Grosso do Sul. O governo, através de seus ministros havia prometido uma solução definitiva para a grave situação das terras indígenas desse povo e dos Terena. A reunião que deveria definir a proposta foi protelada do dia 5 para o dia 7, sem qualquer proposta concreta de solução, além de uma saída de duvidosa execução para a Terra Indígena Buriti, onde foi assassinado pela polícia a liderança Terena Oziel.
Os Kaiowá Guarani honraram sua palavra e não retornaram a nenhum território tradicional, originário, neste período. Já o governo, através da "mesa de diálogo", apenas gerou mais uma profunda decepção e total descrédito quanto às soluções infinitamente adiadas.
Com nosso grande profeta e poeta D. Pedro, nos colocamos na sintonia da esperança e transformação



Oração da causa indígena
Pai-Mãe da Terra e da Vida,
Deus Tupã de nossos pais e mães,
Venerado nas selvas e nos rios,
No silêncio da lua e no grito do sol:
Pelos altares e pelas vidas destruídas
Em teu nome, profanado,
Nesta nossa Abia Yala colonizada,
Te pedimos que fortaleças
A luta e a esperança dos povos indígenas
Na reconquista de suas terras,
Na vivência da própria cultura,
Na fruição da autonomia livre.
E dá-nos (a nós, neocolonizaores)
Vergonha na cara e o amor no coração
Para respeitarmos esses povos-raiz
E para comungar com eles em plural Eucaristia
Awere, Amém, Aleluia
(Dom Pedro Casaldáliga)

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