27 de agosto de 2015

Guarani Kaiowá: a dolorosa retomada

Foto _ Divulgação  Aty Guasu

Por Adriana Carvalho para os Jornalistas Livres

Depois de quase duas décadas de espera, a comunidade Guarani Kaiowá está retomando áreas da Terra Indígena Ñanderu Marangatu, na fronteira do Brasil com o Paraguai. Lideranças relatam que tiveram sua aldeia invadida esta semana por agentes do Departamento de Operações da Fronteira (DOF) e que foram ameaçados com disparos de armas de fogo.





Os Guarani Kaiowá cansaram de esperar. Querem avisar a toda a sociedade que dezoito anos já foi tempo bastante aguardando uma solução oficial para a demarcação de seu tekoa (território sagrado) no município de Antônio João, na fronteira do Brasil com o Paraguai. A Terra Indígena Ñanderu Marangatu, com cerca de 9 mil hectares, teve sua demarcação homologada em março de 2005 pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva. Poucos meses depois, porém, o Supremo Tribunal Federal, anulou a conquista. Com essa decisão, o presidente do STF na época, Nelson Jobim, atendeu aos apelos dos que alegam ser donos das terras. Teve início, então, uma sucessão de sofrimentos para a comunidade que hoje conta com cerca de mil indígenas. Mortes por assassinato, fome, atropelamento. Despejos. Invasões.
Na semana passada, os Guarani Kaiowá decidiram retomar o território. Homens, mulheres e crianças seguiram para a chamada Fazenda Primavera, cujas terras são reivindicadas pelo ex-prefeito da cidade, Dacio Queiroz Silva (PMDB). “Pouco tempo depois de ocupar a fazenda o Departamento de Operações da Fronteira (DOF) apareceu e fez ameaças aos indígenas. Os guarani kaiowá recuaram então um pouco, por prudência. Mas na terça-feira, dia 25, por volta das 14h, os policiais do DOF invadiram e atacaram a área da aldeia. Não foi nem na área de retomada esse ataque, foi na aldeia mesmo”, denuncia um dos membros da organização indígena Aty Guasu, que não quis se identificar.
Segundo ele, durante a invasão teriam sido feitos disparos com armas de fogo. Em comunicado, a comissão Aty Guasu relata que os invasores procuravam pelas lideranças da comunidade, entre eles o líder conhecido como Loretito. “Felizmente não houve vítimas nesse ataque. A comunidade está muito assustada, mas decidiu resistir e ampliar a retomada para as áreas de outras fazendas que estão dentro da Terra Indígena”, afirma o representante da organização.
A reportagem tentou entrar em contato com a regional da Funai em Ponta Porã, sem sucesso. Em comunicado divulgado esta semana, o DOF não responde às denúncias feitas pelos Guarani Kaiowá, mas alega que no sábado teria participado de uma ação para “socorrer e liberar reféns de índios, após invasão de propriedade”. Exibindo fotos divulgadas anteriormente pelos indígenas em redes sociais como se fossem imagens de divulgação do próprio órgão, o DOF acusa dos Guarani Kaiowá de ter feito reféns um adulto e dois adolescentes durante a retomada da Fazenda Primavera e de tê-los ameaçado com flechas e armas de fogo. A Comissão Aty Guasu diz que todas as acusações são falsas.

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