As aulas foram suspensas para índios e filhos de fazendeiros
Foto: Álvaro Rezende |
Ao menos 450 alunos, entre crianças e adolescentes índios estão sem
aulas desde o início dos conflitos envolvendo indígenas e fazendeiros na
região de Antônio João, cidade sul-mato-grossense, na fronteira com o
Paraguai. Com a escola fechada dentro da aldeia e sem ônibus para
transportá-los até a cidade, restaram aos estudantes guarani-caiuás, com
até cinco anos de idade, juntarem-se aos adultos e equiparem-se com
flechas, feitos guerreiros.
Índios e fazendeiros travam há 11 dias um duelo pelo domínio de fazendas
que teriam sido declaradas território indígena, em 2005, pelo
ex-presidente Lula, mas a medida fora contestada judicialmente pelos
ruralistas. No sábado (29) à tarde, um índio foi morto baleado na
cabeça.
A reportagem do Correio do Estado notou que no dia mais delicado do
confronto, no sábado, crianças corriam e espalhavam-se pela mata com os
adultos, assim que viram camionetes indo para as fazendas que haviam
sido invadidas dias atrás.
Um garotinho pequeno, segurava uma flecha, provavelmente feita por ele
mesmo, com gravetos. Outro maior, com aparência de dez anos de idade,
vestido com uniforme escolar, também agitava-se com uma flecha.
Ainda no sábado, os ruralistas que ocupavam ao menos 40 camionetes,
entraram dentro de duas fazendas invadidas, a Barra e a Fronteira.
Quando perceberam os fazendeiros, os índios recuaram. Policiais foram
para o local depois que um índio já havia morrido com tiro no rosto.
Para a polícia, ainda não se sabe de onde partiu o tiro que matou o
guarani.
Além da morte do índio Simeão Vilhalva, outro índio de 27 anos foi
levado para o hospital com ferimento na cabeça. Uma mulher e uma criança
de um ano de idade foram feridas com balas de borracha.
Sem aulas, sem comida
Somente na aldeia Campestre, 7,5 quilômetros da área urbana de Antônio João, cidade distante 160 km de Itaporã, cursam o ensino infantil, fundamental e educação indígena, ao menos 370 índios na Escola Municipal M’bo Eroy Tupã I Arandu Renoi, fechada desde o dia 21, data do início das ocupações das fazendas. Os índios guarani ocuparam sete áreas que seriam deles, mas duas delas já foram retomadas pelos fazendeiros.
Somente na aldeia Campestre, 7,5 quilômetros da área urbana de Antônio João, cidade distante 160 km de Itaporã, cursam o ensino infantil, fundamental e educação indígena, ao menos 370 índios na Escola Municipal M’bo Eroy Tupã I Arandu Renoi, fechada desde o dia 21, data do início das ocupações das fazendas. Os índios guarani ocuparam sete áreas que seriam deles, mas duas delas já foram retomadas pelos fazendeiros.
A reportagem tentou entrar na aldeia Campestre, onde fica a escola, mas
não foi autorizada pelos líderes da comunidade. Sem aulas, as famílias
das crianças índias estariam com dificuldades de alimentar os filhos,
pois eles dependem da merenda escolar. A comunidade recebe o Bolsa
Família, programa do governo federal que paga a elas parcela mensal de
até R$ 175.
Além dos cerca de 370 alunos da M’bo Eroy, outros 80 alunos que cursam o
ensino médio e o Educação de Jovens e Adultos, o EJA, precisam
transporte escolar até as escolas de Antônio João. Ocorre que os
veículos não têm circulado durante os conflitos.
Alunos índios estudam nas escolas estaduais Pantaleão Coelho Xavier,
Aral Moreira e ainda na escola municipal Maicka Sanabria Pinheiro.
A diretora da escola Aral Moreira, Selzanet Ramirez, onde ao menos dez
índios estudam à noite, disse que além do risco de os alunos reprovarem
por faltas, há uma perda maior a eles. “Reprovar pela falta é mais
difícil, mas eles vão ficar com defasagem no aprendizado”, disse a
diretora.
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