17 de junho de 2014

GOLAÇO DE WERÁ!


ENTREVISTA

Foto Luiz Pires/Comissão Guarani Yvyrupa


Por Tereza Amaral e Flávio Bittencourt

Diante de olhares curiosos  da Comissão de Arbitragem do jogo  Brasil 3 X Croácia 1, na última quinta-feira, e possivelmente furiosos da presidente Dilma Rousseff e Joseph S. Blatter, presidente da FIFA, Werá Jeguaka Mirim-guarani fez o maior drible do Mundial: Abriu a faixa para o mundo clamando pela demarçacão da aldeia krukutu, em São Paulo. 
O garoto de apenas 13 anos, filho do escritor Olivio Jekupe e Maria Kerexu, também é escritor de literatura nativa e tem o rosto bastante conhecido pelo trabalho realizado em defesa da causa Guarani-Kaiowá.
Mas foi no jogo de abertura da Copa, realizado na  Arena Corinthians, que ele entrou para a História, mesmo tendo sido `ignorado` naquele momento pela imprensa capitalista. Leiam entrevista Exclusiva, via e-mail,  concedida a este Blog: 



 ALF: Diante de milhões de pessoas do mundo e da presidente Dilma Rousseff, como o seu coração bateu ao entrar na Arena?
Foi muito emocionante, fiquei feliz ao ver tanta gente me olhando e fiquei feliz em ver os jogadores também, mas ao mesmo tempo estava preocupado porque logo eu tinha uma missão a cumprir que era mostrar uma facha que ninguém sabia.

ALF: Quem sabia da faixa além de você, é claro?
 Além de mim, quem sabia era o Fabio Costa,  liderança aqui da aldeia, o Tupã de Oliveira e a Jerá guarani,  Comissão Guarani Yvyrupa, e ninguém mais sabia, pois sei que foi um susto pra Dilma principalmente.


Foto com seu pai _ Arquivo Pessoal
ALF-A iniciativa de associar a pomba da paz ao apelo pela demarcação foi uma idéia do seu pai?
Quanto ao soltar a pomba não foi idéia da aldeia, pois foi ideia da FIFA mesmo, mas achei bonito pois a paz é para todos.

ALF:Em algum momento em que estava com a faixa escondida sentiu medo?
Sim, eu senti muito medo porque havia muitos fiscais nos observando e também fiquei com medo da reação do povo me olhando. Mas depois algumas pessoas me xingaram porque eu coloquei a facha, mas eu nem liguei, eu cumpri a missão.


ALF: Você tinha consciência, naquele momento, que se conseguisse seria o maior driblador do Mundial em Direitos Humanos?
Eu nem imaginava que ia ser tão falado, mas fiquei feliz ao ver tudo isso, muitos falando sobre a demarcação.
Isso me deixou feliz porque nós aqui das aldeias de São Paulo estão lutando a anos pela ampliação e demarcação das terras. E mesmo eu sendo tão novo eu fico feliz de saber que agi como um adulto.


ALF: Nos fale sobre onde escondeu a faixa e como driblou o nervosismo em como um guerreiro contrariar o cerimonial da Fifa.
Eu escondi dentro da cueca e ningué percebeu e naquele momento que eu entrava no campo fiquei com medo de algum fiscal perceber e viesse me tirar  dali....Mas fiquei feliz por ver que eles não perceberam.


ALF: Nem mesmo seus dois acompanhantes desconfiaram?
 Os meus amigos da aldeia que me acampanhavam eles sabiam.

ALF: Ao abrir a faixa os jornalistas viram. Qual a reação deles?
Quando abri a facha vi que o povo no estádio ficaram olhando mas não entenderam o que eu estava fazendo, talvez muitos não viam direito o que estava escrito, mas através do facebook onde a foto surgiu, ai muitos viram o que eu tinha feito e ai começaram a compartilhar e muitos outros faziam o mesmo, e ai vi que a noticia rodou pelos cantos do mundo... Agora muitos jornalistas estão me procurando e irei atender todos que vierem na aldeia, pois sei que o que eu escrevi é muito importante e tenho que falar ao mundo que nós estamos sofrendo muito nas mãos dos políticos que lutam contra nosso povo e não nos defendem, e eu sou garoto e quero um futuro melhor para mim e para todos os indígenas.

Imagem de Werá em defesa dos Guarani- Kaiowá
ALF: E o sentimento de ali representar a ânsia de 305 etnias?

Bom, eu não pensava em coisa grande, apenas falar pela demarcação de nossas aldeias da capital de são Paulo, mas fico feliz que pude mostrar ao mundo que a demarcação é para todoas as aldeias e espero que nossos parentes guarani e de outras etnias tenha gostado do que eu fiz, mesmo eu sendo tão novo, só 13 anos. Aliás, sou novo, mas ando com meu pai, Olivio Jekupe, ele é escritor e sempre que ele vai dar palestra me leva junto, e desde os 9 anos eu ando com ele, por isso aprendo muitas coisas da cidade, e também aprendi a escrever e hoje sou escritor também, e espero que um dia eu possa escrever um livro sobre a experiência que tive na copa de 2014. Leia matéria de Carta Capital AQUI!


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