10 de novembro de 2016

Indígenas do povo Terena ocupam Funai em Campo Grande (MS) contra nomeação de coronel



Por Renato Santana,
Um militar proprietário de terras é o novo coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. O coronel reformado do Exército Renato Vida Sant’Anna teve a nomeação publicada na edição desta quinta-feira, 10, do Diário Oficial da União (DOU). Evair Borges, coordenador exonerado, declarou que foi pego de surpresa, durante o expediente, e não sabia que a substituição ocorreria.
A indicação do coronel foi assumida à imprensa sul-mato-grossense pelo deputado federal ruralista Carlos Marun (PMDB/MS). O parlamentar afirmou que a indicação se deu pela “vasta história de trabalho nessa área” do coronel e também “por uma questão histórica de amizade entre militares e os índios”. A notícia de que o militar foi nomeado para coordenação da Funai gerou revolta entre os indígenas do Mato Grosso do Sul.

Na tarde desta quinta, indígenas Terena ocuparam a sede da Funai em Campo Grande contra a nomeação. O escritório atende as terras indígenas Água Limpa, Buriti, Buritizinho, Cachoeirinha, Guató, Kadiwéu, Lalima, Limão Verde, Nioaque, Nossa Senhora de Fátima, Ofayé-Xavante, Pilad Rebuá e Taunay/Ipegue. “Este governo deseja militarizar a Funai novamente e sabemos que isso não é bom”, diz Lindomar Terena.

O Terena explica que as tentativas de militarizar a Funai tiveram início tão logo Michel Temer assumiu o Palácio do Planalto depois do golpe parlamentar contra a presidente Dilma Rousseff. Em julho deste ano, o general Roberto Sebastião Peternelli, integrante do PSC, chegou a admitir que recebeu o convite e aceitaria assumir a presidência da Funai - a articulação foi do senador Romero Jucá (PMDB/RR).

“Não vamos aceitar essa mudança. É um retrocesso muito grande: um coronel indicado pelos ruralistas? Querem acabar com a gente mesmo, mas vamos resistir e não vamos aceitar isso”, diz Lindomar , da Terra Indígena Cachoeirinha. Para o coordenador regional da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), professor Alberto Terena, “o direito de consulta foi desrespeitado e isso é ruim para o nosso diálogo com o governo”.

Sobre a experiência do coronel Sant’Anna com a questão indígena, o que mais perto ele chegou de quaisquer aldeias para “uma vasta história de trabalho nessa área” foi no comando do 23º Batalhão Logístico de Selva, com sede em Marabá, no Pará. Todavia, não há nada que o coloque em trabalho direto com as demandas dos povos indígenas. Peternelli também alegou ter experiência: pilotou aviões do Exército locomovendo, inclusive, indígenas.

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