20 de agosto de 2016

PF e MPF trocam farpas sobre demora para prender envolvidos na morte de índio

PF diz que MPF pediu prisão, mas não deu endereço
 
Celso Bejarano, em Midiamax
 

Polícia Federal e Ministério Público Federal trocaram farpas por meio de notas emitidas à imprensa, na manhã desta quinta-feira (18), logo depois da operação que cumpriu mandados de prisão contra cinco fazendeiros supostamente envolvidos na morte de um índio, em junho passado, numa fazenda situada nos arredores da cidade de Caarapó.

O MPF acusou a PF de atrasar as prisões em 44 dias. A PF rebateu sustentando que o MPF pediu a prisão dos suspeitos, mas não deu endereço deles, daí a demora.
 
O MPF foi o primeiro a se manifestar, logo depois das prisões. No comunicado, a assessoria de imprensa da instituição narra a razão da operação, mas logo diz que a Justiça Federal de Dourados havia expedido os mandados de prisão no dia 5 de julho passado, isto é, “por mais de 40 dias”.
 
Em seguida, no texto do MPF, é citado que para os integrantes da força-tarefa Avá Guarani (que investigou o assassinato do índio) “a demora na execução da determinação judicial é reflexo da falta de priorização da questão indígena pelo Executivo (governo) em todo o País”.
 
Na nota do MPF, que alega demora injustificada da operação, a crítica sobre quando cita-se outro episódio violento ocorrido na fazenda onde ocorrera o assassinato. “Apesar da morte de um índio e da lesão de outros nove, foi necessário aguardar 44 dias para que os responsáveis pela violência fossem presos. Se não houvesse essa demora injustificada, ao menos seria possível evitar o segundo ataque à comunidade, que feriu três indígenas”.

CONTRA-ATAQUE

Assim que divulgado o comunicado do MPF, período de uma hora e meia, mais ou menos, a PF emitiu sua nota, contra-atacando a discórdia do MPF acerca da demora das prisões dos fazendeiros.
 
“Primeiramente, não ocorreu qualquer atraso injustificado para o cumprimento das decisões judiciais, sendo que causa espécie esta manifestação, uma vez que o MPF participou de todo o processo de investigação, acompanhando todas as necessárias diligências realizadas pela Polícia Federal para o deslinde da questão”, afirmou a nota.
 
Ao rejeitar a ideia do atraso nas prisões, a PF justifica: “observe-se que diversos mandados de busca e apreensão e a totalidade dos mandados de prisão preventiva foram requeridos pelo MPF, sendo que chegaram à Polícia Federal sem qualquer tipo de informação acerca dos locais para cumprimento. É uma questão que passa da técnica policial, entrando na seara do bom senso, pois são absolutamente necessários levantamentos velados para verificar as formas de acesso, a periculosidade dos alvos, a possibilidade de haver armas nos locais, dentre outros fatores”.
 
Quanto à questão de prioridade na investigação, a PF assim refutou: "no que concerne a alegação de não existir prioridade na questão indígena, importa esclarecer que, além da investigação em andamento, foi encaminhada para o Mato Grosso do Sul, imediatamente após o conflito, permanecendo até hoje na região, uma equipe da Polícia Federal sediada em Brasília, especializada em questões indígenas, a qual realiza constantes tratativas com integrantes da Funai, lideranças indígenas, produtores rurais e o próprio MPF, com o escopo de manter a paz e estabilidade social na região do conflito”.
 
Foto Midiamax reproduzida do Cimi

O CASO

O índio Clodioude Aquileu Rodrigues de Souza foi morto baleado em 14 de junho passado, dois dias depois de o local ter sido ocupado por um grupo de ao menos 50 índios. A área, fazenda Yvu, em Caarapó, cidade distante 272 km de Campo Grande, incide sobre a conhecida Terra Indígena Dourados Amambaipeguá. Ou seja, os índios entraram nela como meio de pressionar o governo federal a legalizá-la como terra indígena.
 
Donos da fazenda Yvu juntaram proprietários rurais da região, cercaram a fazenda e dispararam tiros contra os índios. No ataque, morreu Clodioude e outros sete ficaram internados por terem sido alvos de tiros. Nenhum ruralista ficou ferido.
 

PRISÕES


Os mandados de prisões e de buscas e apreensões foram efetuados pela PF nas cidades de Dourados, Campo Grande, Caarapó e Laguna Caarapã. Os cinco detidos, que não tiveram os nomes divulgados, foram denunciados pelo MPF por crimes de formação de milícia privada, homicídio, lesão corporal, constrangimento ilegal e dano qualificado.

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