15 de janeiro de 2016

Guarani e Kaiowá retomam parte de seu território tradicional na Terra Indígena Taquara, no MS, e já sofrem ameaças

Fotos _ Cimi Regional MS

Na madrugada desta sexta (15), indígenas do povo Guarani e Kaiowá retomaram mais uma parte de seu território tradicional na Terra Indígena (TI) Taquara. A área retomada, sobre a qual está sobreposta uma fazenda, é conhecida pelos indígenas como Lechucha e integra a tekoha – lugar onde se é – Taquara, localizada junto ao município de Juti, no Mato Grosso do Sul (MS). Durante o dia de hoje, indígenas relataram ter recebido ameaças de homens armados em caminhonetes, os chamados "jagunços" ou "pistoleiros".

A nova retomada aconteceu dois dias depois do assassinato do cacique Marcos Veron, morto em 13 de janeiro de 2003, completar 13 anos. Marcos foi uma liderança histórica da TI Taquara, responsável por liderar os Guarani e Kaiowá de volta à sua tekoha, em 1997, após anos aguardando a resposta do governo aos pedidos de identificação e demarcação de sua terra. 

Atualmente, o território aguarda a homologação da área pelo governo federal. Os estudos de identificação da terra tradicional iniciaram em 1999, e em 2010 o Ministério da Justiça publicou a Portaria Declaratória, reconhecendo aos Guarani e Kaiowá a tradicionalidade de seu território.

Até a retomada realizada hoje, os cerca de 600 indígenas da tekoha viviam confinados em uma pequena porção de seu território tradicional, ocupando apenas 300 dos 9.700 da TI Taquara. Nesse espaço restrito, os Guarani e Kaiowá vinham sofrendo com constantes abusos, ameaças e violações dos mais diversos tipos, além de serem cotidianamente impactados pelo uso de agrotóxicos nas plantações de cana de açúcar próximas e pelo desmatamento provocado pelos fazendeiros das redondezas.

Os indígenas vêm denunciando, há anos, a prática de crimes ambientais pelos fazendeiros locais e a poluição do rio que passa no interior da terra indígena com o veneno utilizado nas plantações.


Em maio de 2015, uma representação da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados visitou a tekoha Taquara, para conhecer a realidade de violações que os Guarani e Kaiowá enfrentam na região. Na ocasião, uma das lideranças da tekoha afirmou aos visitantes: “Levem daqui todo o sofrimento de um povo, tragam no retono justiça, porque aqui embaixo já deixamos de saber o que é justiça há muito tempo, mesas de dialogo, enrolação, desculpas, isso já nos levou 25 anos sem nossa demarcação”.


Um longo histórico de violência marca a trajetória recente dos Guarani e Kaiowá da TI Taquara. Em outubro de 2001, os indígenas foram expulsos da área retomada em 1997 e passaram a viver sob lonas ao lado de uma rodovia. No início de 2003, a comunidade resolveu retomar mais uma vez seu território tradicional. Após a retomada, o cacique Marcos Veron foi espancado por jagunços e veio a falecer horas depois.

Além do assassinato de Marcos Veron, pelo menos outras quatro lideranças da comunidade foram mortas nos últimos anos, e os indígenas denunciam que estupros contra as mulheres indígenas da tekoha são recorrentes, praticados pelos jagunços que são contratados pelos fazendeiros locais.

Funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai), notificados da retomada, partiram na tarde de hoje para averiguar a situação do acampamento. Segundo relatos de indígenas, homens armados que rondam a retomada em caminhonetes fizeram ameaças contra os Guarani e Kaiowá e possíveis ataques podem acontecer a qualquer momento.



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