17 de abril de 2014

GUARANI-KAIOWÁ: O DESABAFO DO GUERREIRO

"Dilma, por não demarcar nossa terra a metade da cor vermelha que tem na Bandeira do PT é manchada da cor do sangue dos indígenas que foram assassinados pela bala de arma de fogo.
E a outra metade manchada de sangue das crianças que morreram de fome, falta de remédio e acidente de carros." (Oriel Benites)



Fotos _ Arquivo Pessoal de Oriel Benites

Por Tereza Amaral  com Gian Marco Longato
Força e Coragem

Ele é formado em Matemática pela UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), educador , faz Mestrado em Ciência Política e é um das 34 lideranças da Grande Assembleia dos Povos Guarani e Kaiowá (Aty Guasu), além de integrar o Conselho Continental Nacional Guarani.
 
Na infância, ainda teve o privilégio de tomar banho de rio e pescar...Hoje, aos 29 anos, usa como 'arma' a caneta e o caderno para tentar salvar o futuro das crianças mutiladas psicologicamente pelo genocídio do seu povo.
 Leia comovente e esclarecedora entrevista da liderança Guarani-Kaiowá Oriel Benites concedida a este Blog, ontem, via E-Mail
 
  
P- O senhor entrevistou crianças e jovens para entender o universo infanto juvenil nesse clima de
guerra. O que elas responderam?
  
R: Responderam três coisas: perderam medo de enfrentar o perigos, não vêm suas infâncias ou
juventudes como se fossem normais, nunca abrirão mão ou consciência de seu tekoha (terra).
Muitas crianças e jovens ainda estão confusos. Eles não conseguem entender porque se
aplica tanto nas escolas contra violência, sendo que os Guarani-Kaiowá convivem direto e indireto
com isso. Hoje eles já perderam esperança de ter suas vidas como se fosse qualquer  criança, apesar do nosso país ter Direito e dever para tudo. Por que diariamente enfrentam preconceito,
discriminação e, acima de tudo, ameaça de morte?
 
 
P- O que o governo Dilma faz - e aqui recorrendo ao Estatuto da Criança e do Adolescente - como
forma de minimizar os impactos dessa violência?
    
R: Raramente se cumpre essa lei porque ninguém vê isso com os povos indígenas em geral e,
principalmente, com as comunidades Kaiowáa e Garani que convivem diariamente com os tiros de
revólveres e ameaças. Não existe nenhuma proteção que garanta as crianças e jovens se sentirem
tranquilos. E hoje quem faz a frente de todos os perigos são eles, os jovens, como dá para perceber
claramente no vídeos do Puelitkue. Até nas aldeias demarcada pelo SPI, isso não acontece.
   
P -"A arma agora é o caderno e a caneta". Li esta afirmação em uma matéria sobre um debate que
o senhor participou na USP (“O Luto e a Luta dos Povos Indígenas), em novembro de 2012. Nos fale
sobre a 'luta intelectual' para combater o genocídio.
 
 
 
R: Como hoje não dá mais para lutar com armas como antes -  arma letal - nós também temos
capacidade de seguir adiante a nossa luta intelectualmente. Porque percebemos que os órgão
do governos e justiças estão nos matando dessa forma. Onde eles têm argumentos para executar
seus projetos de lei e outros, sem levar em consideração as HISTÓRIAS, MODO DE INTERPRETAR E ENTENDER ENQUANTO UM SER INDÍGENA. Então precisávamos mostrar isso a sociedade através da nossa versão com a língua que possam entender. Mostrar que as violências silenciosas estão acabando os indígenas K/G de forma contínua. Precisávamos também registrar por escrito tudo que estava acontecendo com o povo em toda região e exigir mais respeito de todos não índios.
 
P- Os povos Guarani-Kaiowá vivem hoje em quantos acampamentos e qual o percentual de crianças
no que chamo "A Faixa de Gaza Indígena"?
 
R: Vivem em 13 acampamentos. Em todos acampamentos vivem desumanamente sem nenhum
perspectiva de vida, principalmente as crianças e os jovens. De vez enquanto a FUNAI leva cesta
básica com menos de 20 kg, com feijão, leite tudo podre. A maioria dos produtos já esta quase sem condição de consumir, mesmo assim as comunidades dão um jeito para não morrer de fome. Apesar de que as crianças tem vontade de estudar e ser alguma coisa na vida. essas comunidades estão totalmente excluídas dos olhos dos governos e da justiça.
 
P- Gostaria que o senhor nos explicasse sobre o Tekoha, desde a etimologia da palavra até a
ancestralidade e o significado de pertencimento da terra. Na mesma entrevista que li o senhor afirmou: "A terra não é nossa. Nós é que somos da terra."
 
R: O (TEKOHA). a palavra é extremamente sagrada. TEKO significa VIDA, CULTURA, MODO DE SER, TRADIÇÃO, CRENÇA e o HA quer dizer o lugar onde tudo isso se plantou por grande criador do mundo TUPÃ, brotou, semeou e assim vai se multiplicando ao decorrer de muito e muito anos. Esse lugar foi batizados pelo criador exclusivamente para o ser que ele criou, onde cada um cuida dos outros, cada um pertence aos outros. Exemplo: Natureza pertence ao índio, índio pertence
a natureza. Por isso cada tipo de ser que possui na natureza é simbolizado no corpo através da
pintura.
 
P- E quanto a sua aldeia, também continua sob litígio?
 
R: A minha aldeia é o Jaguapiré e foi retomada em 1990. Um pedaço do TEKOHA que foi retomado já esta legalizado. Tem uma parte que sobrou ainda está na luta.
 
P- Todos temos um profundo respeito pela Aty Guasu. Como funciona - e apenas até onde pode nos
revelar - a Grande Assembeia dos Povos Guarani e Kaiowá?
 
R: Como deve já ter  conhecimento, o Aty Guasu foi fundado pelos grandes líderes que hoje muitos
não se encontram mais aqui. Objetivo principal da assembleia é lutar pela vida, respeito e fortalecimento do povo K/G. A decisão não sai só de um líder, mas sim coletivamente, porque assim todos tem em conhecimentos o que o Aty Guasu está fazendo e levando adiante em nome de todos povos.
 
P- O que é o Conselho Continental Nacional Guarani?
 
R: A sigla é (CCNAGUA) Conselho Continental da Nação Guarani, tem como lema DIREITO, TERRA E TERRITÓRIO. Foi fundado para lutar com os povos Guarani a nível internacional. Principal objetivo que o povo guarani tenham acesso livre de um País para outro,  respeitando a Convenção 169 da OIT. Historicamente o território guarani fazia parte dos 4 países Argentina, Paraguai, Bolívia e Brasil. Como diz esse Parágrafos;
 
"Reconhecendo as aspirações desses povos a assumir o controle de suas
próprias instituições e formas de vida e seu desenvolvimento econômico, e
manter e fortalecer suas identidades, línguas e religiões, dentro do âmbito
dos Estados onde moram;
Observando que em diversas partes do mundo esses povos não podem gozar dos
direitos humanos fundamentais no mesmo grau que o restante da população dos
Estados onde moram e que suas leis, valores, costumes e perspectivas têm
sofrido erosão freqüentemente;
 Lembrando a particular contribuição dos povos indígenas e tribais à
diversidade cultural, à harmonia social e ecológica da humanidade e à
cooperação e compreensão internacionais; "
 
P. Estamos - ativistas e simpatizantes da causa - com um petição solicitando uma audiência entre o
cacique Ládio Veron e o Chefe do Estado do Vaticano, Papa Francisco. O senhor também acredita que ele - o Sumo Pontífice - pode interceder favoravelmente, a começar pela visibilidade, a favor do seu povo?
 

R: Claro! Qualquer um dos líderes que conhece a luta de muito anos dos K/G  que tivesse esse encontro seria uma vitória de uma parte da luta. Porque vai ser grande a visibilidades da causa indígena no Brasil não só dos K/G em geral, por que o Estado Brasileiro não esta violentando somente os K/G, mas todos os povos indígenas que estão no país. E todos os povos K/G estarão apoiando sim.
 
P- Para finalizar que recado deixa em vésperas do 'Dia do Índio' para a presidente Dilma Rousseff
em relação ao engavetamento das demarcações?
 
R: Dilma, por não demarcar nossa terra a metade da cor vermelha que tem na Bandeira do PT é
manchada da cor do sangue dos indígenas que foram assassinados pela bala de arma de fogo. E a outra metade manchada de sangue das crianças que morreram de fome, falta de remédio e acidente de
carros. Essa é minha mensagem pra ela.


ASSINE PETIÇÃO AQUI!
 
 
 
 

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