28 de junho de 2013

Povo Terena: Ex-deputado Ricardo Bacha quintuplicou suas terras rurais em dez anos no MS

Por Alceu Luís Castilho

Entre 1996, dois anos antes de se candidatar ao governo do Mato Grosso do Sul, e 2006, candidato a deputado estadual, o pecuarista Ricardo Bacha teve o patrimônio ampliado de R$ 554 mil para R$ 1,75 milhão. A quantidade de terras saltou de 1.252 hectares para 6.214 hectares. Os dados constam das declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral. 

Bacha é pivô da crise com os indígenas da etnia Terena, no Mato Grosso do Sul. Eles reivindicam 17 mil hectares na região. A Fazenda Buriti, do ex-deputado, leva o mesmo nome da Terra Indígena Buriti, já reconhecida pela Funai, mas não homologada pelo Ministério da Justiça. Foi lá que morreu o indígena Oziel Gabriel, em maio, baleado pela Polícia Federal durante reintegração de posse. Dias após, em outra fazenda, outro Terena foi baleado pelas costas, mas sobreviveu. 

A Fazenda Buriti já aparecia na declaração entregue em 1998, quando Ricardo Bacha foi candidato ao governo pelo PSDB. Seu valor era de R$ 272 mil. Um ano depois passou 
irmão de Oziel Gabriel chora sua morte/ Marcos Ermínio
para R$ 333 mil, valor que não foi mais corrigido. Ela tem 302 hectares – onde o pecuarista, formado em engenharia, cria gado. 


O blog solicitou os dados há algumas semanas ao presidente do TRE-MS, já que, ao contrário da declaração de 2006, eles não estão disponíveis na internet. Em 1998, Bacha apresentou a lista entregue ao Imposto de Renda em dois anos: 1996 e 1997. Os valores corrigidos de um ano para o outro não foram mais atualizados. 

Entre 1997 e 2006 o pecuarista adquiriu terras menos valiosas que a Fazenda Buriti, porém mais extensas. Bacha tinha somente três fazendas em 1997 (com 1.252 hectares). Em 2006, quando foi candidato à Assembleia Legislativa pelo PPS, a quantidade de fazendas saltou para 13. Perfazendo o total de 6.214 hectares. 

Uma dessas dez novas terras fica em Caracol (MS). É a Fazenda São Judas Tadeu, com 903 hectares, declarada por valores redondos: R$ 270 mil. Outra, a mais extensa, fica em Ribas do Rio Pardo (MS). A Fazenda Limão tem 3 mil hectares e foi declarada por R$ 300 mil. 

O preço das terras é considerado o principal motivo da resistência dos fazendeiros em deixar o local. O conflito no Mato Grosso do Sul foi um dos principais assuntos de maio. Em junho, com os protestos de rua em todo o Brasil, perdeu visibilidade. 

Note-se que a correção do preço da fazenda Buriti, em 1997, para R$ 333 mil, ocorreu já durante a vigência do real. E que a fazenda em Ribas do Rio Pardo, dez vezes maior que ela, foi declarada por menos que isso. 

* o autor deste blog (Outro Brasil) é também o autor do livro Partido da Terra – como os políticos conquistam o território brasileiro (Editora Contexto, 2012) 

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