30 de dezembro de 2014

Suicídio entre indígenas lidera no AM, diminui em RO e ameaça de morte coletiva chama a atenção das autoridades no MS

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Porto Velho, RO – Uma pesquisa elaborada pelo deepAsk – site de pesquisa em fontes oficiais de dados abertos – cruzando dados públicos de diversas fontes oficiais – mostra que o índice de mortes por suicídio (per capita por 100 mil pessoas) diminuiu 65,4% no município de Porto Velho, entre os anos de 2010 e 2012.
O levantamento foi elaborado a partir dos dados fornecidos pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Esta realidade também diz respeito ao índice de suicídio entre os índios. De acordo com a coordenadora de projetos da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, Ivaneide Bandeira, não há registros preocupantes de casos na história dos povos indígenas de Rondônia.
Nesta última década foi registrado um caso de suicídio que aconteceu entre os Uru-Eu-Wau-Wau, em Mirante da Serra. Bandeira explica que esse foi um caso específico de um jovem índio que teve envolvimento com “pessoas brancas”, resultando em distúrbios emocionais, alcoolismo e a morte precoce por envenenamento. Mas, “em geral há um acompanhamento sistemático dos povos indígenas aqui no Estado. Entidades indigenistas desenvolvem projetos que priorizam cada vez mais os direitos dos índios, principalmente quanto as questões que envolvem as terras e a preservação da cultura deles”, assegura.
LUTAS E CONQUISTAS
Em 2014 a Kanindé conseguiu concluir todo o processo de etnozoneamento dos Paiter Suruí, inclusive publicando o primeiro Código de conduta de uma nação indígena no mundo. “Iniciamos nesse mês de dezembro o Plano de Gestão, englobando os aspectos culturais, socioeconômicos e ambientais dos Cinta Larga”, informa Bandeira. Para a coordenadora da Kanindé esses projetos fortalecem as lutas e as conquistas dos povos indígenas da nossa região e “os coloca em posição privilegiada se comparados a outras nações indígenas do mundo”, declara.
Entretanto, dados do Mapa da Violência, publicado este ano, mostram que na região Norte do Brasil os suicídios passaram de 390 em 2002 para 693 em 2012. Isto significa um aumento de 77,7% influenciado pelos estados do Amazonas, Roraima, Acre e Tocantins que quase duplicam o índice. De acordo com o estudo, alguns dos municípios que aparecem no topo da lista de mortalidade suicida são locais de assentamento de comunidades indígenas, como São Gabriel da Cachoeira (AM), São Paulo de Olivença (AM) e Tabatinga (AM), Amambai (MS) Paranhos (MS) e Dourados (MS).

MAIOR NÚMERO DE CASOS
A cidade de São Gabriel da Cachoeira, no noroeste da Amazônia, ficou na primeira posição do ranking brasileiro de suicídios. A população desse município é composta por maioria indígena. Os novos dados do Mapa da violência 2014 revelam que, entre 2008 e 2012, a taxa de suicídios na cidade foi de 50 casos por 100 mil habitantes, dez vezes maior do que a média brasileira. Entre os que se mataram, 93% eram índios. Oito entre dez se enforcaram. O suicídio por ingestão de timbó – raiz venenosa que causa sufocamento – foi o segundo método mais usado.
Segundo as pesquisas, outras cidades com assentamentos indígenas também estão nas primeiras posições da lista dos suicídios, como São Paulo de Olivença e Tabatinga (AM); Amambai, Dourados e Paranhos (MS). Nos últimos dez anos, entre 2002 e 2012, o Amazonas foi o estado onde o suicídio de jovens mais cresceu (134%). Lá, onde os índios representam 4,9% da população, 20,9% dos suicídios foram praticados por indígenas. A situação é semelhante no Mato Grosso do Sul onde a proporção de índios entre os que se mataram é sete vezes maior do que o percentual deles na população.
Outro fato foi registrado em 2013: a ameaça de morte coletiva dos guaranis kaiowás, no sul mato-grossense, causando impacto e chamando a atenção das autoridades em âmbito nacional. O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) – vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – registrou 72 suicídios entre os guaranis kaiowás, a maioria com idade entre 15 e 30 anos. Segundo lideranças indígenas da região, as causas dessas mortes estão diretamente ligadas ao consumo de bebidas alcoólicas, drogas e à falta de opções de estudo, trabalho e lazer para adolescentes e jovens índios. O suicídio indígena representa 1% da população de índios, segundo o o Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
PANORAMA DO SUICÍDIO NO MUNDO
Considerando-se a faixa etária dos 15 aos 24 anos, observou-se um aumento de cerca de 2 a 3 vezes nos últimos trinta anos, tornando-se a terceira causa de mortalidade. Entre todas as comunidades étnicas, os povos nativos indígenas possuem as piores estatísticas. Valores muito altos, em proporções quase epidêmicas, são relatados entre algumas populações de Ilhéus no Pacífico Sul. Na ilha de Truk (Micronésia), para a faixa de 15 a 24 anos, no período de 1978 a 1987, foram 207 suicídios por 100 mil habitantes, tornando-se a primeira causa de morte entre adolescentes do sexo masculino. Em Gainj (Papua-Nova Guiné), a taxa anual média alcançou os surpreendentes 1.200 por 100.000 entre as mulheres de 20 a 49 anos, no período de 1978 a 1979. Um padrão semelhante e ascendente também é descrito entre os aborígenes da Austrália, nativos de Samoa Ocidental e os maoris da Nova Zelândia.
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MAIOR INCIDÊNCIA ENTRE JOVENS
Segundo a médica e pesquisadora do Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Cleane Oliveira, a Fundação Nacional de Saúde computou 6.594 casos no território nacional, em 1995, sendo a maior taxa entre a população de 20 a 39 anos (FNS, 1988). Em 1990, mais de 1,4 milhão de pessoas se suicidaram, o equivalente a aproximadamente 1,6% da mortalidade mundial, ficando o suicídio entre as dez principais causas de morte. Porém, se as tentativas também forem computadas esse número se torna de 10 a 20 vezes maior.
Apesar de haver uma tendência à relativa estabilização das taxas mundiais para a população em geral, nos últimos quinze anos a situação se agravou entre os jovens. No Brasil, apesar da pouca confiabilidade dos dados e dos parcos recursos destinados à sistematização de uma boa coleta, a Fundação Nacional de Saúde computou 6.594 casos no território nacional, em 1995, sendo a maior taxa entre a população de 20 a 39 anos.
Fonte: Diário da Amazônia 

NOTA: Este Blog alterou o título original da matéria Suicídio entre índios é pequeno em Rondônia

 

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