16 de agosto de 2014

Chefe Indígena Candidato a Deputado Federal no MS

Darcy Ribeiro com Mário Juruna _ Antônio Brito
Texto e Edição _ Tereza Amaral


O cacique Ládio Veron,  chefe indígena da Aldeia Takwara, localizada no município de Juti (MS),  vai disputar uma vaga no Congresso Nacional. Depois de Mário Juruna, eleito pelo PDT na década de 80 (1983-1987 e responsável pela criação da Comissão Permanente do Índio), se tomar assento na Câmara Federal  será o segundo parlamentar indígena do Brasil em 125 anos de República. Amazônia Legal em Foco  fez a seguinte entrevista via e-mail:

ALF: O senhor é  um dos líderes da Resistência Guarani-Kaiowá que luta pela vida de etnias vitimadas pela inércia da demarcação e expansão do Agrogenócio em seu estado. Como será a sua plataforma política?

Cacique Ládio Veron: A minha plataforma brota da terra, dos anseios pela terra e clama por condições sustentáveis para nela viver. As flechas do meu povo atingirão as urnas para demarcar a vontade de transformar a sociedade,  acabando com a opressão que nós - povos da terra - sofremos há décadas . Há um genocídio legislativo no Congresso Nacional, onde a maioria dos deputados federais  defende  interesses do atual modelo neodesenvolvimentista brasileiro sustentado pelo agronegócio. A bancada ruralista negligencia os direitos dos povos indígenas, quilombolas e camponeses. Devemos retomar nossos direitos e para isto temos um programa denso  nas áreas de Educação, Saúde, Justiça, Direito da Criança, Direitos Humanos e Meio Ambiente para demarcar as demandas dos indígenas e da sociedade, em especial os oprimidos.

ALF: Um guerreiro em meio a poderosos inimigos representados pela maior bancada: a dos Ruralistas. Em caso de eleito, o senhor se sente preparado para o que o espera?

Cacique Ládio Veron: A minha candidatura não foi um decisão isolada. Depois do convite que me foi feito pelo saudoso Plínio Arruda houve a decisão do meu povo. Nós somos esta candidatura que representa um passo da luta pela existência. Sinto-me preparado para lutar em defesa do Direito Indígena, fazendo uso da diplomacia  e a força do guerreiro, legados do meu pai cacique Marcos Veron, assassinado na luta pela terra, em 2003, pelos mesmos que nos oprimem: o latifúndio. E quem viu a morte do pai e quase foi queimado pelos opressores está, sim, preparado. Eles não mataram apenas o meu pai e 237 lideranças indígenas em uma década. Eles mataram também o nosso medo! Chegou a hora de lutarmos pelos nossos direitos em condições de igualdade, na nascente da Lei, que hoje é uma grande preocupaçao nossa.

ALF: O nome Ládio Veron tem hoje uma projeção estadual, nacional e até no exterior devido ao genocídio em curso no MS. O senhor acredita que esse reconhecimento o levará ao Congresso Nacional?

Cacique Ládio Veron: Eu acredito que as sete etnias do Mato Grosso do Sul, incluindo a minha Guarani-Kaiowá, estão em primeiro lugar. Somos a segunda maior populacão indígena do país com 73.295 indígenas, segundo o censo demografico do IBGE. Deste total 43.401 são da minha - Guarani-Kaiowá -, segundo o ultimo censo. Mas é claro que o aceno de amigos de todos os cantos do país e exterior em muito nos ajudará. Muito emboras eles não votem em meu estado, muitos possuem parentes e amigos que aqui residem e estão pedindo para que votem em nossa candidatura.

ALF: Antes de ser candidato o senhor é um homem ameaçado de morte.Como pretende driblar seus inimigos – agronegócio -  sobretudo em exposições, tais como comícios?

Cacique Ládio Veron: A campanha me transforma naturalmente em um alvo móvel. Mas também tenho como driblar. Um exemplo disso é que decidimos usar estratégias, das quais só posso revelar uma: decidimos não mais divulgar a minha agenda. Os que querem a minha cabeça  são inteligentes, pois um atentado contra mim neste momento seria um tiro no pé. A imprensa nacional e internacional viria ao Mato Grosso do Sul e o culpado seria facilmente identificado.

ALF:  O senhor também tem em seu projeto ações voltadas para o Meio Ambiente, além de minorias como ribeirinhos e quilombolas?

Cacique Ládio Veron: Os povos originários historicamente são os maiores ambientalistas. Temos sim! Lutar pela proibição da aplicação de agrotóxicos em áreas indígenas, quilombolas e camponesas, fortalecer as iniciativas da sociedade civil contrárias ao uso de agrotóxicos que contamina as águas, os solos, animais e humanos e o fim dos incentivos fiscais às empresas do agronegócio são algumas das nosssas propostas.

ALF: A sua candidatura naturalmente tem como base o estado do Mato Grosso do Sul. O senhor vai viajar pelo Brasil?

Cacique Ládio Veron: Levar a brutal realidade do nosso povo e defender o eco da dignidade pelo país faz parte do caminho pela existência do nosso  povo. Até as eleições a prioridade é ficar no estado, mas havendo convites estou disposto e viajarei sim.

ALF: Além de Chefe Indígena o senhor é uma das lideranças da Grande Assembléia dos Povos Indígenas Kaiowá e Guarani do Mato Grosso do Sul. A sua candidatura teve o aval da Aty Guasu?

Cacique Ládio Veron: Teve sim porque todas as decisões do nosso povo passam necessariamente pela Aty Guasu. a forma própria de organização com seus saberes e jeito de ser e sobreviver.

ALF: O que representa a sua candidatura para os líderes espirituais (xamãs)?

Cacique Ládio Veron: Uma missão. Os lideres espirituais acreditam que se sobrevivi à tortura, a humilhação de ser arrancado da minha terra indigena e fui jogado na beira de rodovia junto com meu povo é porque tenho uma missão a cumprir.  É assim que as nossas lideranças veem a nossa candidatura.

ALF: Por que optou pelo PSOL?

Cacique Ládio Veron:O Partido Socilismo e Liberdade tem em seu estatuto  objetivos que defendem solidariedade às lutas dos trabalhadores  com vistas a construção de uma sociedade justa, igualitária. E inclue as lutas das minorias, nações e povos oprimidos.

ALF: Para finalizar, qual a mensagem o senhor deixa para o eleitorado?

Cacique Ládio Veron: O nosso voto demarcará a vontade de transformar a sociedade, acabar com a opressão que nós - povos da terra - sofremos e, sobretudo, nas últimas décadas . É hora de indígena representar indígena. Chegou o momento da nossa autonomia, de rompermos com essa velha política proposta há anos. É hora das minorias se unirem no enfretamento da mão que legisla em interesses próprios e segregadores.Veja algumas das propostas do Programa Político AQUI!


Fotos _ Assessoria de Imprensa/Arquivo Pessoal

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