3 de outubro de 2014

URGENTE! Guarani-Kaiowá sob ataque de pistoleiros

Cacique com Valdelice
Veron, liderança da Aty Guasu
Muitas crianças em Kurussu Amba _ Fotos Luciano de Mello Silva

Por *Luciano de Mello Silva,
do Mato Grosso do Sul


O Cacique Smath e sua esposa Cilene ligaram avisando que estavam sendo atacados desde às 12:00hrs desta sexta-feira. A comunidade está recuando no mato e os indígenas não sabem o que fazer. Pedem ajuda a todos, em car;ater de urgência, para denunciar o que está acontecendo. A comunidade é composta por muitas crianças, mulheres, idosos e a desproporcionalidade da força de ataque dos fazendeiros fizeram com que eles recuassem de sua área tradicional retomada.
A comunidade Kaiowá da retomada do Tekoha Kurusu Amba há dias vive momentos de tensão.Os Kaiowá estão voltando para sua terra sagrada. Kurusu Amba. O local do firmamento na terra é um tekoha antigo, que sempre foi terra indígena, desde milhares de anos atrás, segundo registros arqueológicos para a região. Eles viviam lá desde muito antes da presença não indígena no continente.
Com a chegada da Companhia colonizadora Mate Laranjeira, em 1928, foi feita a tentativa de expulsão dos Kaiowá de sua Terra Sagrada,que não foi bem sucedida e, portanto, se iniciou o processo de escravidão e confinamento nas reservas indígenas dos Kaiowá que resistiam e continuam resistindo na sua terra sagrada.
Nesta época, os Barões da companhia colonizadora Mate Laranjeira marcavam "seus índios" escravizados com seus sobrenomes e, assim, quando houve a criação do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), estes sobrenomes foram utilizados para registrar os índígenas. Como por exemplo a família Veron, escravizada por uma família de franceses e descendentes espanhóis da argentina.
Hoje, os Kaiowá estão retomando uma pequena parte do que foi o território de Kurusu Amba, apenas a área onde era a aldeia antiga e o cemitério, abrindo mão assim de todo território de caça, conforme lhes garante a constituição federal.
Neste momento Kurusu Ambá está refém, sitiada e cercada pelos latifundiários do local. Nenhuma viatura da SESAI (Secretaria (Secretaria Especial de Saúde Indígena) é permitida chegar na localidade há dias, nem as viaturas da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) levando cestas básicas, ou mesmo o ônibus escolar pode se aproximar da área. Apenas recentemente, há dois dias atrás, é que foi permitida a chegada de serviços essenciais.
A história da retomada de Kurusu Ambá é marcada por episódios de violência e crimes impunes.Uma descendente da família Kaiowa desta localidade conta que na primeira tentativa de retomada Ortiz Kaiowá, que era liderança na região, foi traído e seu interesse de retomar a área descoberto. Em consequência foi assassinado com seis tiros na boca. Eles nem chegaram a entrar na área, ainda estavam acampados na beira da estrada quando na ocasião ocorria o Aty Guasu.

A segunda tentativa de retomada com a nova liderança Osvaldo Kaiowá à frente da comunidade também foi frustrada pelo assassina brutal de Osvaldo. A informação, da mesma forma como ocorreu na primeira tentativa de retomada vazou e Osvaldo foi assassinado também ainda no acampamento, na beira da estrada. Ele foi assassinado e jogado na beira do asfalto para ser atropelado.
A terceira e mais brutal de todas violências ocorridas em Kurusu Ambá foi na terceira tentativa de retomada. Os Kaiowa desta vez entraram em seu Território Sagrado e no terceiro dia de retomada mais de 20 caminhonetes com pistoleiros chegaram na madrugada, 3 horas da manhã, e começaram a atirar. Eles invadiram o aldeamento a procura da liderança. A anciã, Nhandesy, rezadora Kaiowa, Xurite Kaiowa, que fugia com seus 3 netos no colo foi cercada pelos pistoleiros e assassinada com 2 tiros de arma calibre 12 na frente de seus netos que tinham 8 meses, 2 anos e 4 anos.
Esta história triste, de violências incompreensíveis e impunes, não se justifica, nem pela sua existência, nem pela omissão do Estado e dos orgãos de justiça e govenamentais. Neste momento, a comunidade Kaiowá de Kurusu Ambá está de novo em processo de retomada, eles estão agora novamente dentro de seu território sagrado e não vão mais sair de lá.
Não aguentam a difícil vida à beira da estrada, nem a tristeza que é para sua cultura, não podendo ser enterrado junto a seus velhos. Kurusu Ambá tem mais ou menos 500 famílias, com grande grupo de estudantes de séries iniciais e também de ensino médio, muitas mulheres e muitas crianças e também muitos idosos. As demais crianças e adolescente ainda carecem de melhores condições na área educacional, saúde e serviços públicos. As vias de acesso a Kurusu Ambá precisam urgentemente serem desobstruídas pela justiça e o crime cometido hoje investigado e os responsáveis punidos.
*Luciano de Mello Silva é oceanógrafo e ativista indígena

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