30 de outubro de 2014

Resistência Guarani-Kaiowá: Comunidades Kurusu Amba e Pyelito Kue começam a cavar covas

Foto _ Aty Guasu


Por Aty Guasu 

ATY GUASU DIVULGA 2ª CARTA II DE COMUNIDADE GUARANI E KAIOWA DE TEKOHA PYELITO KUE, 2 ANOS DEPOIS DA 1ª CARTA QUE REPERCUTIU EM OUTUBRO DE 2012. GUARANI E KAIOWÁ COMUNICA ÀS TODAS AS SOCIEDADES NACIONAIS E INTERNACIONAIS QUE IRÁ RESISTIR ATÉ MORTE PELAS TERRAS. COMUNIDADES DE KURUSU AMBA E PYELITO KUE ESTÃO COMEÇANDO A CAVAR BURACO. É A RESISTÊNCIA GUARANI E KAIOWA. SEGUE A CARTA II 
Carta II da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil

Nós 570 Guarani Kaiowá (170 homens, 200 mulheres, 200 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, juntamente com mais de 20.000 vinte mil Guarani e Kaiowa dos acampamentos precários indígenas, pela segunda vez vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de ordem de nossa expulsão/despejo em curso expressada e anunciada pela Justiça Federal no Mato Grosso do Sul, de Tribunal Regional Federal de São Paulo, Supremo Tribunal Federal-Brasília-DF. No dia 25/10/2014, um dia antes da eleição, recebemos a informação de que justiça federal de Navirai-MS vai mandar atacar e despejar nós em meados de novembro de 2014. Assim, fica evidente para nós, mais uma vez que a ação da Justiça Federal continua gerando as violências sem fim contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver nas nossas terras tradicionais Pyelito Kue/Mbarakay. Assim, analisamos e entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena do MS/Brasil. Queremos deixar claro ao Governo e Justiça Federal que estamos cercado de pistoleiros aqui, continuamos na mira de arma de fogo, para piorar tudo acabamos de receber a notícia que seremos expulso de nossa terra, que as nossas terras não serão demarcadas pelo governo e nem pela justiça, assim já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira e nem no governo federal. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal continua gerando e violências contra nós. Nós já avaliamos as nossas situações atuais e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, estamos passando fome, já morreram três indígenas em dois meses, assim não temos e nem teremos perspectiva de vida digna aqui no acampamento. Já são setes (07) morreram em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyelito Kue/Mbarakay. 
De fato, sabemos muito bem que no centro de nossos territórios tradicionais estão enterrados todos os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados, as terras são nossas. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, diante de não mais demarcação de nossas terras, diante de ordem de despejo anunciada pela justiça brasileira, mais uma vez pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar somente a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui em nossas terras. Em geral esse pedido é de todas as comunidades de acampamentos precários no MS onde as crianças estão passando fome e morrendo sem assistência. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção totais, além de comprar milhares caixões funerárias e enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos cadáveres. Esse é nosso pedido aos juízes federais do TRF, STF e ao governo Dilma reeleita. Já aguardamos pronta esta decisão da Justiça Federal e do governo, Assim, se não demarcar as nossas terras é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay, Kurusu Amba, Apyka’i, Guyraroka, Takuara, Ypo’i, etc, mais de 20.000 vinte mil Guarani e Kaiowá decidimos resistir até morte em nossas terras tradicionais e para enterrar-nos todos aqui em nossas terras. Visto que mais de 20 mil indígenas Guarani e Kaiowa decidimos integralmente a não sairmos de nossas terras com vidas e nem mortos e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo. Sabemos que seremos atacadas e expulsas de nossas terras pela justiça do Brasil, porém não vamos sair de nossas terras. Como o povo nativo/indígena histórico, decidimos definitivamente em resistir até morte pelas nossas terras. Já pedimos ao governo e justiça brasileira que nem os nossos cadáveres para não retirar de nossas terras, é para enterrar em nossas terras. Entendemos que em 2014 e 2015 não temos outra opção e nem alternativa, RESISTIR é a nossa última decisão unânime diante de várias ordens de despejo autorizadas pela Justiça Federal de Navirai-MS, justiça federal de Ponta Porã, justiça federal de Dourados, Tribunal Federal em São Paulo, Supremo Tribunal Federal.

Atenciosamente,
Tekoha Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS, 30 de outubro de 2014
570 comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay 20.000 guarani Kaiowa

Nenhum comentário:

Postar um comentário