“Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido”, escreve em carta a comunidade depois de encontro, no Mato Grosso do Sul, que lembrou os cinco dos assassinatos impunes dos professores Rolindo e Jenivaldo Vera.
Os Guarani e Kaiowá cobram ainda a demarcação de terras, lembram do assassinato de Marinalva Manoel e denunciam mais um caso de discriminação e racismo no município de Paranhos. A vítima foi o cacique Ilson Soares, do tekoha Y’Hovy, oeste do Paraná.
Leia na íntegra:
Direcionado aos órgãos CNJ, FUNAI, SDH, MPF, STF, AGU, Casa Civil e 6ª Câmara
Nós da comunidade Ypo’i, nhanderu e lideranças, junto com outras várias comunidades, Potrero Guasu, Pirajuí, Paraguasu, Arroio Korá e Tekoha Y´Hovy do Paraná, reunidos nos dias 30, 31 de outubro e 1º de novembro no Tekoha Ypo’i, no estado do Mato Grosso do Sul, estamos aqui em homenagem aos cinco anos de passagem dos assassinatos dos 2 professores guaranis, Rolindo Vera e Jenivaldo Vera, que morreram em função da luta pela nossa terra. Estamos nessa homenagem muito tristes de lembrar o que aconteceu no nosso tekoha, lembrar do que aconteceu é viver de novo o que aconteceu. É importante lembrar que, mesmo passados cinco anos dos assassinatos dos nossos dois professores guaranis dentro da nossa Tekoha Ypo’i, nenhum responsável foi punido. Mas sabemos que aqueles que continuam a nos ameaçar são também aqueles que não querem que nos continuemos no nosso tekoha e, por isso, eles já mostraram e continuam a mostrar que estão dispostos a fazer qualquer coisa para nos tirar da nossa terra. Mas nós guaranis, não vamos sair da nossa terra porque essa terra é nossa, nossos pais, avós já moravam aqui há muitos anos, e nos pediram para voltar para nosso lugar, e já perdemos muitas lideranças, por isso já é mais um motivo para continuar resistindo. Porque a terra não é dos fazendeiros, a terra pertence aos Guarani.
Por isso nós da comunidade não vamos mais sair daqui, vamos morrer aqui, já perdemos dois professores e um membro da comunidade. Por essa razão do encontro dos nossos nhanderu, estamos nos organizando para fortalecer, ainda mais, o nosso espiritual. E os nhanderu exigiram nesse encontro que saia a demarcação e a homologação de todos os tekoha dos Guarani Kaiowá, e demais povos indígenas que estão na mesma situação. Exigimos ao governo federal, e ao estado do Mato Grosso do Sul, respeito a nossa decisão e a nossa cultura. Não basta só a demarcação da nossa terra, queremos também o fortalecimento da nossa autonomia e sustentabilidade, para que haja uma educação diferenciada e que esteja adequada a nossa cultura, um atendimento a saúde de qualidade, investimentos e fortalecimento da nossa agricultura, do nosso meio ambiente, e da nossa segurança. É importante lembrar nosso pedido de segurança: queremos que seja coordenada pela Operação Guarani da FUNAI, e não pela Força Nacional. Pedimos também atendimento a nossa documentação.
Justo ao final de nosso encontro, nós Guarani e Kaiowá ficamos sabendo de mais uma vítima da luta pela nossa terra. A jovem liderança kaiowá Marinalva Manoel, de 27 anos, foi encontrada na manhã desse sábado, dia 1º de novembro, jogada às margens da rodovia BR-163, em Dourados. Ela que era liderança na luta pela demarcação da Terra Indígena de Ñu Verá e integrante da Aty Guasu recebeu 35 facadas, e foi encontrada morta, depois de várias ameaças que a aldeia vinha recebendo de fazendeiros da região. Mal a gente saiu de uma homenagem de dois professores que foram assassinados e ficamos sabendo de mais uma noticia horrível.
Além disso, ainda na noite de sábado, estávamos num conhecido supermercado na cidade de Paranhos, quando presentes vimos um ato de discriminação a um indígena. Junto com a gente estava o cacique Ilson Soares, do Tekoha Y'Hovy, que sofreu discriminação porque estava com pena amarela no queixo, enfeitado com a nossa cultura. Quando depois que entrou no banheiro, o dono do supermercado chamou a Polícia Militar por causa de um índio que estava no banheiro. Esse ato de discriminação ao indígena já aconteceu várias vezes em centros comerciais de Paranhos. Repudiamos esses acontecimentos.
Exigimos que seja feita justiça imediata em relação aos assassinatos dos nossos dois professores. Pedimos e exigimos que não haja despejo em todos os tekoha, e seja publicada a portaria de identificação e providenciada a demarcação dos tekoha Ypo’i, Triunfo, Pyelito Kue, Mbarakay, Kurusu Amba, Guyraroka, Guaiviry, Santiagokue, Yvy Katu, Arroio Kora, Potrero Guasu, Potrerito, Ka’ajari, Karaja Yvy, Mãe Terra, Buriti, e demais tekoha que estão em estudos também no estado do Paraná.
Nós, da comunidade Ypo’i, pedimos dos conselhos Aty Guasu, Apib, Comissão Yvy Rupa para ajudar nossos povos que estão na luta. Porque nós Guarani e Kaiowa já estamos prontos para avançar na luta.
Tekoha Ypo’i, Paranhos (MS), 1º de novembro de 2014.
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