A Polícia Federal intensificou nesta segunda-feira (30) as buscas aos três homens desaparecidos no interior da Terra Indígena Tenharim Marmelos, no sul do Amazonas. As quatro principais testemunhas do caso, que são integrantes da Polícia Militar do Amazonas, foram levadas ao local onde dizem ter visto índios empurrando o carro dos homens, próximo a aldeia Tabocal, no município de Manicoré (a 332 quilômetros de Manaus).
O major Franciney BO., chefe da Seção de Operações do Comando Especializado da Polícia Militar do Amazonas, disse ao portal Amazônia Real que os quatro militares seguiram nas primeiras horas desta segunda-feira para o local do desaparecimento, sem previsão para o retorno.
“Esses quatro policiais viram os índios empurrando o carro. Eles disseram que não acharam estranho, os índios empurrando o carro, porque eles têm carro”, afirmou.
Pela primeira vez, desde o desaparecimento dos homens em 16 de dezembro, caciques tenharim prometeram ajudar nas investigações, informou o delegado Alexandre Alves em coletiva à imprensa na Prefeitura de Humaitá (a 180 quilômetros de Manicoré).
Estão desaparecidos o professor Stef Pinheiro de Souza, o gerente da Eletrobrás Aldeney Ribeiro Salvador, e o comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire.
As famílias acusam os índios tenharim de sequestro e homicídio motivados por vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim, no dia 02 de dezembro. A polícia diz que o cacique foi atropelado, mas não apresentou um laudo conclusivo.
Os índios negam envolvimento no caso. Veja depoimento da líder Margarida Tenharim ao Mídia Ninja aqui. A Funai (Fundação Nacional do Índio) não descarta suspeitas de homicídio para a morte do cacique.
Stefanon Pinheiro de Souza afirmou em entrevista à reportagem que sua família acredita que o professor Stef Souza, 43, esteja vivo e sequestrado em alguma aldeia. Ele é casado e tem três filhos. “Temos certeza que foram os índios que pegaram eles. Mas queremos uma resposta das autoridades. Não dá para ficar esperando”, disse.
A falta de investigações sobre o desaparecimento dos três homens provocou uma revolta em Humaitá, no dia 25 de dezembro. Durantes os protestos, cerca de 3.000 manifestantes atearam fogo em carros e barcos da Funai, na sede do órgão, na Casa do Índio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), único local de tratamento de saúde indígena. Cerca de 140 índios foram ameaçados de morte e alojados num quartel do Exército na cidade.
Na sexta-feira (27), cerca de 300 pessoas invadiram aldeias da Terra Indígena Tenharim com a justificativa de buscarem os corpos dos homens desaparecidos. Em outro ponto da reserva, os manifestantes destruíram com machados, facões e fogo o posto de cobrança de pedágio ilegal e casas dos tenharim. O pedágio seria também um dos motivos da revolta popular em Humaitá.
Nesta segunda-feira, a Polícia Federal informou que os caciques acordaram em suspender o pedágio na BR 230. Os 120 índios que foram refugiados no quartel do Exército retornaram às aldeias em ônibus com escolta da Força Nacional de Segurança e Polícia Rodoviária Federal, por determinação da Justiça Federal do Amazonas.
Depois do atos de vandalismo em Humaitá, o governo federal enviou à região uma força-tarefa, que tem participação do Exército e Polícia Militar do Amazonas. São mais de 400 homens na operação.
Discriminação
A violência em Humaitá provocou também uma onda de discriminação contra os tenharim nas redes sociais. O Ministério Público Federal do Amazonas recomendou ao Facebook, portais de notícias e outros veículos de imprensa do sul do Amazonas a retirada de publicações já feitas e a abstenção de novas mensagens que contenham conteúdo discriminatório, preconceituoso ou que incitem a violência, o ódio e o racismo contra os povos indígenas da região, em especial o povo Tenharim.
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