Foto Arquivo Pessoal de VV |
Ela é mãe, esposa, filha órfã do cacique Guarani-Kaiowá Marcos Veron barbaramente assassinado pelo agrocrime, em 2003, no Mato Grosso do Sul.
Valdelice Veron é mais do que uma mulher indígena: é uma guerreira que luta bravamente na defesa dos direitos do seu povo roubados da mesma forma que a terra em que seu pai e inúmeras lideranças tombaram...
"Fia, se ajeita que hoje é dia de retomada", dizia o pai à jovem que, desde a mais tenra idade, nasceu com a responsabilidade de jamais desistir do seu tekoha nem dos parentes das etnias daquele estado.
Aprendeu e segue na luta mesmo sob ameaças de morte. Valdelice trabalha em várias frentes, desde a distribuição de donativos - juntamente com o seu marido Natanael Ñandeva Vilharva Caceres - até em defesa das vidas nos territórios já reconhecidos como no recente episódio, ainda em litígio, da Yvy Katu (Foto).
É respeitada e reconhecida internacionalmente. Irmã do cacique Ládio Veron, também sob ameaça de morte, Valdelice merece todos os prêmios que lhe foram concedidos e o respeito pelo sublime amor que sente pelo povo sofrido e massacrado Guarani-Kaiowá.
Palestras e conferências também fazem parte do cotidiano da liderança que denuncia para diversas plateias a real situação do povo indígena mais perseguido e violentado em seus Direitos Humanos.
A dedicação da guerreira é tanta que devido às torturantes investidas o nosso projeto editorial autobiográfico ainda está iniciando. Mas temos esperança que em 2014 o bom senso sinalize para a pacificação e demarcação das terras...Enquanto isso, os presenteio com o relato do nascer da guerreira:
O cacique aguarda do lado de fora enquanto tenta ouvir o sussurrar da sua sogra e uma rezadeira que se revezavam no parto da sua esposa. O dia na reserva indígena Te'yikwe * está ensolarado. Ele fixa o olhar na terra quando escuta o anúncio da chegada de mais um descendente.
- É uma menina, diz de forma cerimoniosa a mãe da sua esposa Júlia Cavalheiro Veron.
Ele se agacha e, num gesto de comemoração, pega no chão um punhado de terra e pergunta:
- Como elas estão?
- A tua filha traz nela o bravo espírito da xamã Yvyrapoty!
O cacique Marcos Veron rapidamente se levanta e toca suavemente o ombro direito da sogra que o deixa entrar.
No quarto pequeno, Júlia está com a linda criança nos braços. Ela pede para a rezadeira sair e mostra a ele a recém-nascida dizendo:
- Olha a cabeça!
A bebê tinha uma marca com fios de cabelos brancos na cabecinha. Ele a pega nos braços, eleva seu corpinho em direção a uma fresta de luz para observá-la e fazendo um sinal com o polegar direito na testa preconiza:
-Júlia, a nossa filha será uma guerreira!
No ritual de nominação a criança foi chamada de Xamiri Nhupoty, nome de uma flor do campo resistente ao frio e calor. Assim nasceu em 1978, em Japorã, no Mato Grosso do Sul, a liderança indígena Guarani-Kaiowá Valdelice Veron.
NOTA - Preâmbulo do livro
Me emocionei.... muito lindo tudo isso, essa luta, essa líder Valdelice, nasceu no mesmo ano que meu filho...
ResponderExcluirAdmirável !!
Não deixou nada a desejar à profecia do pai. Sem contar q esteve entre os brancos aprendendo suas tecnicas educacionais, mas não trocou pelo seu povo. Brava Valdelice.
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