Assessoria de Comunicação do MPF/PA,
em CIMI
A
Justiça Federal de Altamira determinou a suspensão da Licença de
Operação da usina de Belo Monte até que a Norte Energia SA e o governo
brasileiro cumpram a obrigação de reestruturar a Fundação Nacional do
Índio (Funai) na região para atender os índios impactados pelo projeto. A
condicionante já constava na licença prévia da usina, concedida em
2010, mas nunca foi cumprida. Em 2014, o Ministério Público Federal
acionou a Justiça, que ordenou por meio de liminar o cumprimento da
condicionante. Até hoje, com todos os impactos atingindo severamente os
povos indígenas, a reestruturação não aconteceu.
A
liminar inicial do processo é de janeiro de 2015. E ordenava a
apresentação, em 60 dias, de um plano de reestruturação, que deveria
incluir a construção de sede própria para a Funai e contratação de
pessoal suficiente para atender as demandas geradas por Belo Monte no
atendimento aos oito povos indígenas impactados pela usina. O governo e a
Norte Energia não apresentaram o plano até hoje e o MPF comunicou à
Justiça o descumprimento e solicitou medidas mais rigorosas.
Como
resposta, a juíza Maria Carolina Valente do Carmo determinou “a
suspensão dos efeitos da Licença de Operação da UHE Belo Monte até a
satisfação da obrigação condicionante referente à reestruturação da
Funai, de modo a garantir as condições necessárias ao acompanhamento da
implementação das demais medidas e condicionantes relacionadas ao
componente indígena”.
Em
vez da reestruturação, o que ocorreu entre 2010, data da primeira
licença de Belo Monte, até 2015, data da última licença, foi a
desestruturação da Funai. Continua sem sede própria, em 2012 foram
retirados todos os postos das aldeias e tem hoje 72% menos funcionários
para atuar com os povos indígenas. O governo federal chegou a dizer à
Justiça, em 2015, que o problema dos funcionários seria resolvido com a
realização de um concurso público, mas até hoje não apresentou
cronograma para isso. E a situação se agravou, com mais funcionários se
afastando ao longo do ano. Em 2011 eram 60 servidores, hoje são apenas
23.
Em
junho de 2015, a coordenação regional da Funai enviou correspondência
para Brasília em que afirmou: “no âmbito da Funai de Altamira nunca
enfrentamos um desafio de tamanha grandeza, onde funcionários abnegados
se veem obrigados a aceitar o processo crescente de agregação de
atribuições, o que vem resultando em um desgaste físico, emocional e
laboral. Alertamos que, provavelmente, nos próximos 6 (seis) meses, se
nada for feito no sentido de analisar, avaliar e deliberar sobre a
questão em tela, corre-se o risco de um colapso e interrupção das
atividades desta regional, situação que prejudicará as ações
institucionais e as comunidades indígenas”.
A
situação da Funai agrava os impactos que Belo Monte provoca sobre os
povos indígenas, abandonados à própria sorte, lidando diretamente com
diretores e prepostos da Norte Energia S.A, que passam a atuar como se
fossem o Estado. “A reestruturação da Funai era medida indispensável
para que as demais ações condicionantes fossem devidamente
implementadas. O que ocorreu foi a desestruturação da FUNAI e o
corrompimento das obrigações do licenciamento pela Norte Energia”, diz o
MPF. Com isso o impacto de Belo Monte sobre os indígenas ultrapassou de
modo ainda não mensurado os prognósticos dos Estudos de Impacto
Ambiental.
A
decisão que suspende a licença de Belo Monte é de 11 de janeiro. Depois
que for notificado, o Ibama tem prazo de cinco dias para paralisar o
enchimento do reservatório. Além da suspensão da licença, a juíza
determinou multa de R$ 900 mil para União e Norte Energia, pelo
descumprimento da ordem judicial.
Clique aqui para ler a íntegra da decisão.
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