Nesta
semana, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) realizou, por meio de
sua assessoria jurídica, denúncias em diversos órgãos federais a
respeito de ataques químicos contra o povo Guarani e Kaiowá da Terra
Indígena (TI) Tey’i Juçu, no Mato Grosso do Sul (MS), e de intimidações e
ameaças contra o povo Kanela do Araguaia, no Mato Grosso (MT).
As
denúncias foram protocoladas a pedido das comunidades indígenas e
dirigidas ao Presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), João
Pedro Goncalves da Costa, à Subprocuradora-Geral da República e
coordenadora da Sexta Câmara do Ministério Público Federal (MPF),
Deborah Duprat, ao Ministro da Justiça, Eduardo Cardozo, e à
Corregedoria Geral da Polícia Federal.
Kanela do Araguaia: invasão de acampamento indígena, intimidações e ameaças de morte
No
caso do povo Kanela do Araguaia, o ofício enviado às autoridades
solicita urgência no procedimento de demarcação da Terra Indígena
Pukañu, no município de Luciara (MT). Em ata enviada ao Cimi pela
Associação da Comunidade Indígena Kanela do Araguaia Núcleo de Canabrava
do Norte – MT (Acikan), os indígenas denunciam a ocorrência de ameaças
de morte, perseguição a lideranças e tentativas de intimidação.
Em
julho de 2015, um mês após realizarem a retomada de uma área
tradicional reivindicada sobre a qual estão sobrepostas fazendas, cerca
de 120 indígenas do povo Kanela do Araguaia foram despejados por uma
reintegração de posse ilegal e que sequer era direcionada a eles –
na ocasião, o juiz estadual que determinou a reintegração de posse
afirmou não saber que se tratava de comunidade indígena, situação sobre a
qual apenas a Justiça Federal tem competência para decidir. Os
indígenas, expulsos pela Polícia Militar, foram levados para fora da
retomada em um caminhão de transporte de gado.
Desde
então, os Kanela do Araguaia que foram despejados estão acampados no
quintal de uma anciã, no município de Canabrava do Norte (MT).
Segundo
o relato da Acikan, em dezembro, pistoleiros contratados pelos donos
das fazendas Londrina e Lago Bonito – esta última, local da retomada da
TI Pukañu – invadiram o acampamento indígena procurando pelas lideranças
e realizaram ameaças de morte aos indígenas.
“Estamos
confinados em um acampamento [...] em situação de vulnerabilidade
social e correndo risco de vida, uma vez que estamos constantemente
sofrendo ameaças”, afirma o documento da Acikan. “Todos nós estamos
apreensivos e decidimos em reunião que só teremos o mínimo de segurança
dentro da nossa aldeia de onde fomos despejados em 07 de Julho de 2015”.
Tey’i Juçu: sete ataques químicos registrados em menos de um ano (Ver AQUI)
No caso do tekoha
– lugar onde se é – Tey’i Juçu, as famílias Guarani e Kaiowá que vivem
no território denunciam os ataques químicos realizados contra a
comunidade ao longo de 2015, e que se intensificaram entre dezembro de
2015 e janeiro de 2016.
Os
ataques têm sido realizados com aviões, que despejam agrotóxicos sobre a
comunidade e as nascentes de onde os indígenas coletam água para beber.
E, junho de 2015, três ataques com veneno já haviam sido notificados
pela comunidade que resiste em Tey’i Juçu.
Entre
os dias 20 de dezembro de 2015 e 12 de janeiro de 2016, pelo menos
outros quatro ataques são denunciados pelos Guarani e Kaiowá, sendo que
em diversas ocasiões os ataques com veneno são acompanhados pela
presença de pistoleiro e outras formas de violência contra os indígenas.
Segundo as famílias da tekohá, muitas crianças têm passado mal e
adultos e idosos têm apresentado sintomas de intoxicação.
Atualmente,
25 famílias (entre várias outras que transitam pela área) resistem na
tekoha Tey’i Juçu, terra indígena reconhecida pela Funai e inserida no
Grupo de Estudo da Bacia Dourados – Amambai Pegua I. O Relatório de
Identificação e Delimitação (RCID) referente a este estudo, iniciado em
2008, já está em condições de publicação e depende apenas da ação da
Funai, que tem agido com morosidade e negligência.
Em
dezembro de 2014, cansados de esperar pelo andamento do processo de de
demarcação e preocupados com a destruição cada vez mais rápida das matas
e recursos naturais de seu território tradicional, em função da
monocultura de cana-de-açúcar e soja praticada em fazendas sobrepostas à
área, cerca de 100 famílias Guarani e Kaiowá retomaram 70 hectares de seu território tradicional, sobre o qual estão sobrepostas diversas fazendas.
No dia 8 daquele mês, um brutal ataque feito por pistoleiros
resultou na morte da jovem indígena Julia Venezuela, de 17 anos, cujo
corpo baleado foi levado pelos pistoleiros em uma caminhonete e nunca
mais foi encontrado.
Em 15 de janeiro de 2016, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu uma decisão de reintegração de posse movida por fazendeiros contra os Guarani e Kaiowá de Tey’i Juçu
e determinada para acontecer dali a cinco dias. Em represália,
fazendeiros e jagunços bloquearam a estrada que liga Tey’i Juçu à
reserva Tey Kue, onde vivem cerca de 7000 Guarani e Kaiowá.
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