Doze anos depois da morte do cacique Marco Veron, a viúva Julia Cavalheiro clama pelo fim da impunidade e pela demarcação da aldeia Taquara
Por Tereza Amaral
Julia Cavalheiro com a netinha Arami (Pedaço do Céu) que não conheceu o avô, mas vive perguntando por ele _ Foto Arquivo |
Por Tereza Amaral
Uma madrugada com chuva fina e a baixa temperatura do mês de Janeiro, beirando os dez graus em Juti (MS). Por volta das 2h30m na madrugada do dia 13 de 2003, o chefe indígena Marcos Veron reacendia o amor e responsabilidade pelo seu povo. Ele se revezava com o filho Ládio, o sogro e a filha Geisabel, mantendo uma fogueira acesa para minimizar o frio no acampamento da Terra Indígena (TI) Taquara.
Na manhã do sábado (11) havia brincado e até chegou a cantar em meio a um banquete de batatas doces com os netos. Ali foi a despedida com as crianças. A fúria e atrocidade do dono da fazenda Brasília do Sul, que incide sobre a TI, acabou com a sua vida aos 73 anos naquela madrugada.
Cerca de 30 a 40 homens armados atacaram o acampamento. O líder Guarani-Kaiowá foi espancado até a morte com pontapés e socos, além de coronhadas de espingarda na cabeça. Enquanto isso, sete familiares amarrados na carroceria de uma caminhonete foram sequestrados e torturados num local da fazenda.
Já a filha que também o ajudava a reacender o fogo - grávida de sete meses - arrastada pelos cabelos, espancada e o seu sucessor - Ládio - quase queimado vivo por pistoleiros contratados pelos proprietários da fazenda. E foi o fim do sonho de ser atleta do seu neto, Reginaldo Veron, que levou um tiro na perna.
No laudo, a causa mortis do cacique foi traumatismo craniano por agressão. "Foi uma ação contundente. Qualquer instrumento usado, alguma coisa que tenha levado a produzir este efeito dentro do crânio do índio", atestou o médico legista do IML de Dourados, Damacir Yacomo.
A barbárie e repercussão acordou o Judiciário com um inédito desaforamento, tendo o júri sido transferido de Dourados para São Paulo a fim de evitar influência no julgamento.
A barbárie e repercussão acordou o Judiciário com um inédito desaforamento, tendo o júri sido transferido de Dourados para São Paulo a fim de evitar influência no julgamento.
Considerado histórico por ter sido o primeiro julgamento envolvendo acusados pela morte de indígenas, três réus foram condenados - Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos, Jorge Cristaldo Insabralde - a 12 anos e 3 meses de prisão em regime fechado por crimes de sequestro, tortura e lesão corporal, formação de quadrilha armada e até fraude processual. O mandante impune e um quarto pistoleiro fugiu.
Esperança
Uma chama de esperança parece reacender. Doze anos foragido desde a prisão preventiva decretada, Nivaldo Alves de Oliveira - denunciado pelo Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul pela participação no homicídio - se entregou acompanhado por um advogado na Procuradoria da República, em Dourados, no dia 23 do mês passado.
Informações extraoficiais, e cuja fonte será mantida sob sigilo, apontam que durante todo o tempo o assassino estaria trabalhando em uma fazenda, no estado de São Paulo, do filho do dono da Fazenda Brasília do Sul.
Enquanto os netos pequeninos de Marco Veron perguntam pelo " vô" e o cacique Ládio Veron vive sob sistemáticos ataques e ameaças de morte, Jacinto Honório da Silva Neto ostenta em uma Rede Social - totalmente aberta ao público - fazendas, estância, bois, cavalos, aviões, pescarias, pousada e até posta arma. Isto é uma vergonha e o que se espera é que a Justiça puna não apenas Nivaldo Oliveira, mas a conexão de mandantes do brutal assassinato.
Enquanto os netos pequeninos de Marco Veron perguntam pelo " vô" e o cacique Ládio Veron vive sob sistemáticos ataques e ameaças de morte, Jacinto Honório da Silva Neto ostenta em uma Rede Social - totalmente aberta ao público - fazendas, estância, bois, cavalos, aviões, pescarias, pousada e até posta arma. Isto é uma vergonha e o que se espera é que a Justiça puna não apenas Nivaldo Oliveira, mas a conexão de mandantes do brutal assassinato.