O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio de seu Regional Amazônia Ocidental, vem a público repudiar as declarações do deputado estadual Denilson Segóvia (PEN/AC), que nesta última quinta-feira, 17 de outubro, fez um pronunciamento na Assembleia Legislativa do Estado do Acre em que acusa os povos indígenas, de forma preconceituosa e visando criminalizar e demonizar as culturas e os próprios indígenas, entre outras coisas, de infanticidas e pedófilos.
Ao associar as culturas indígenas ao infanticídio e a pedofilia, o deputado mostra que desconhece por completo a realidade destes povos. Não há no Acre um único caso de infanticídio, como quer fazer crer o deputado. De outro lado, se há casos de pedofilia, cabe a quem souber denunciar às autoridades e, a estas, apurar e aplicar a legislação prevista para o caso. O que não pode é acusar sem nenhum fundamento e sem apresentar qualquer indício, conforme o fez o deputado Denilson Segóvia.
Quanto a associação das culturas indígenas à indolência e à preguiça, revela apenas um gigantesco preconceito e um etnocentrismo exacerbado e fundamentalista apresentado como se fosse um dado da “evangelização”, o que não é. Os povos indígenas do Acre, ao contrário do que afirma o deputado, ajudaram decisivamente na construção deste Estado trabalhando incansavelmente nas estradas de seringa e outras lidas rurais.
O que o deputado chama de “cultura civilizada” nada mais é do que o fruto do mesmo etnocentrismo e fundamentalismo religioso que escravizou milhares de povos pelo mundo. Longe de incentivar este tipo de “civilização” ou “cristianização”, as igrejas deveriam se desculpar e reparar o grande mal que fizeram a estes povos. Vários povos foram dizimados em nome desta “civilização”. Não nos é mais possível, em pleno século XXI, admitirmos métodos e argumentos medievais, genocidas, para impor certa cultura, religião e cosmovisão, tida como superior.
O Cimi, Regional Amazônia Ocidental, reafirma o respeito às diversidades culturais e religiosas desses povos e exige retratação pública por parte do deputado Denílson Sagóvia e que se cumpra a Constituição Federal em seu artigo 231 “São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.”
Rio Branco, 18 de outubro de 2013.
Conselho Indigenista Missionário
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