Integrantes do Conselho Indigenista Missionário (Cimi)
tornaram-se alvo preferencial no processo de criminalização tocado
adiante pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em recesso
parlamentar, que investiga a atuação da entidade no Mato Grosso do Sul.
Nas sessões da comissão na Assembleia Legislativa do estado, é comum a
exposição de missionários e missionárias por fotos e citações
pejorativas, associando-os a práticas ilícitas não comprovadas por
nenhum dos depoentes à CPI – tampouco pela proponente e presidente da
CPI, a deputada ruralista Mara Caseiro (PTdoB).
O último episódio se deu durante a oitiva da presidente do
Sindicato Rural de Antônio João, Roseli Ruiz Silva. A fazendeira disse
que é preciso investigar a vida pessoal do coordenador do Regional Mato
Grosso do Sul do Cimi, Flávio Vicente Machado. Roseli afirmou que a
comissão deve saber se Machado possui carros, filhos. Na sessão anterior
da CPI, a TV Assembleia Legislativa do MS já havia exibido fotografias
de crianças num contexto investigativo, o que se configura em exposição
de menores - vedada legalmente.
“Isso é ameaça, intimidação. Expõe, inclusive, menores, caso dos
filhos do nosso missionário. A CPI, que foi instalada sem fato
determinado e descambou para uma tentativa antidemocrática de impedir o
trabalho dos integrantes da entidade, além de fazer um inventário das
calúnias e difamações contra o Cimi”, declara o secretário executivo do
Cimi, Cléber Buzatto. Para o indigenista, o parlamento
sul-mato-grossense não pode construir palanques que atentam contra a
liberdade, a democracia e a vida de pessoas sem nenhum envolvimento com
atividades criminosas.
Coincidência ou não, a casa em que Machado mora com sua família
passou a ser monitorada dia e noite por um indivíduo. Dentro de um
automóvel, que durante o mês de novembro era um Fiat Uno, o sujeito
filma ou faz fotos de quem entra ou sai da residência. A sede do Cimi,
em Campo Grande, também é alvo do mesmo perfil de monitoramento. Há
algumas semanas, um homem perguntou ao porteiro do condomínio sobre os
horários de funcionamento da sede e passou a vigiar a movimentação.
Em Dourados, município onde uma equipe do Cimi reside, a casa
também é monitorada e os missionários seguidos de forma explícita por um
mesmo veículo. Nas próprias sessões da CPI do Cimi, no interior da
Assembleia Legislativa, os integrantes da entidade também são comumente
fotografados e monitorados. “Entendemos, numa análise contextual, que o
objetivo é intimidar e ameaçar os missionários e suas famílias”, defende
Buzatto.
O caso da
missionária Joana Ortiz, religiosa franciscana, é exemplar. O delegado
da Polícia Federal Alcídio de Souza Araújo, em depoimento à CPI no final
do mês de outubro, tratou Joana como “suposta freira”. Alegou o
delegado que a religiosa não era freira porque não sabia quem era Jeová.
Na ocasião, o Cimi divulgou uma nota repudiando as declarações de
Araújo, que coordenou a desastrosa reintegração de posse que terminou
com a morte de Oziel Terena, em área retomada pelo povo Terena na Terra
Indígena Buriti.
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