Foto David Majella _ El País |
Assessoria de Comunicação - Cimi
Fazendeira que incitou e liderou ataque contra Ñanderú Marangatú depõe nesta terça, 08, na CPI do Cimi
No último dia
29 de agosto, Roseli Silva encerrou de forma abrupta uma reunião entre
fazendeiros e parlamentares ruralistas. Era uma manhã de sábado no
município de Antônio João (MS). Dias antes, o povo Guarani e Kaiowá
havia retomado áreas tradicionais no interior da Terra Indígena Ñanderú
Marangatú, homologada em 2005. A fazendeira, presidente do Sindicato
Rural de Antônio João, afirmou que sairia do encontro para reaver o que
era dela, uma fazenda de criação de gado ocupada pelos indígenas.
Roseli, porém, não foi sozinha: por ela já esperava um bando empoleirado
em cerca de 100 camionetes.
O resultado
da incitação à violência foi um ataque covarde, acompanhado de perto
pelo Departamento de Operações de Fronteira (DOF) e pelo deputado
federal Luiz Henrique Mandetta (PSDB/MS). Uma criança de colo levou um tiro de bala de borracha (foto), de uso restrito da polícia. Enquanto
procurava o filho pequeno no meio do alvoroço provocado pela ofensiva,
Semião Vilhalva Guarani e Kaiowá foi atingido no rosto por um tiro
disparado do local em que estavam os homens liderados por Roseli. Morreu
no local. Uma emissora de televisão filmou todo o desenrolar da história
e chegou a ser impedida de prosseguir com o trabalho, já durante a
invasão, tendo um cartão de memória da câmera retido por fazendeiros.
Nesta
terça-feira, 08, pouco mais de três meses depois da morte de Semião,
Roseli irá prestar depoimento à CPI do Cimi, a partir das 14h30 (fora do
horário de verão), na Assembleia Legislativa do Mato grosso do Sul -
assista aqui.
A fazendeira foi convocada por um pedido articulado pela dupla de
deputados ruralistas Mara Caseiro (PTdoB), presidente da CPI, e Paulo
Corrêa (PR), relator da comissão. O depoimento de Roseli, conforme o
apurado junto a assessores parlamentares, será induzido por Mara e
Corrêa como a de uma testemunha e vítima do Cimi. Tal estratégia
ruralista não é novidade na CPI, depondo uma vez mais para a falta de
lisura e isenção dos trabalhos da comissão.
Mesmo com
todas as provas de que Roseli incitou e liderou o ataque contra os
Guarani e Kaiowá, que culminou na morte de Semião, a fazendeira não foi
responsabilizada e punida - o ataque de 29 de agosto não foi o único
liderado por Roseli. Sem sucesso na primeira empreitada violenta contra
os indígenas, dias depois Roseli liderou novo ataque. Dessa vez ela e
mais um bando armado conseguiram entrar na sede da fazenda, à noite. Os
indígenas correram para se proteger, mas não saíram da área.
Apenas depois
de todos esses acontecimentos, um pedido de reintegração de posse para
quatro fazendas incidentes em Ñanderú Marangatú foi feito à Justiça
Federal, que concedeu a liminar. O Supremo Tribunal Federal (STF),
porém, a suspendeu por decisão da ministra Carmem Lúcia, em meados de
outubro. O pedido de despejo dos indígenas foi arquitetado pela advogada
Luana Ruiz Silva, filha de Roseli. Luana conduz sua atividade
profissional no campo do ruralismo, fazendo uso de mentiras e calúnias
contra o Cimi. Tornou-se uma ferrenha opositora à demarcação de terras
indígenas. Durante as sessões da CPI do Cimi, é comum ver Luana
orientando os assessores de Corrêa e Mara.
Roseli volta a ameaçar
Com a
suspensão da reintegração de posse, Roseli voltou a ameaçar os Guarani e
Kaiowá de Ñanderú Marangatú. Conforme denúncia dos indígenas ao
Ministério Público Federal (MPF), a fazendeira teria dito a eles que
“iriam pagar por todos os crimes que haviam cometido (sic)”. Na
sequência, Loretito Vilhalva foi detido pela polícia em Antônio João por
conta de um mandado de prisão em aberto, referente a uma acusação de
porte de arma de 2007 – o indígena foi abordado por policiais enquanto
caçava. Loretito foi condenado a cinco anos de prisão no regime aberto.
No mesmo dia da prisão de Loretito, outros três adolescentes de Ñanderú
Marangatú também foram detidos, dessa vez em incursão policial na terra
indígena, sob suspeita de terem matado um não-indígena.
“Loretito
precisa ir todos os dias até Ponta Porã para assinar um termo na Justiça
de que não fugiu. Os adolescentes não fizeram nada, estavam na aldeia
quando esse karaí (branco) morreu na rua (cidade de Antônio João). A
gente pergunta: será que isso não é o cumprimento da ameaça da Roseli?
Precisa investigar. E também voltaram a atacar nossos acampamentos,
justo o de quem: do Loretito, que fica numa fazenda da família da
Roseli. Será que não tá tudo ligado?”, analisa uma liderança de Ñanderú -
não revelaremos sua identidade por razões de segurança.
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