4 de maio de 2015

'Só sentia pavor', diz técnico feito refém por 48 h em área indígena de RR

Técnico em enfermagem é um dos 13 reféns libertados nesse sábado (2). Outros 23 funcionários da Sesai continuam reféns; Funai acompanha caso.

Técnico em enfermagem foi um dos 13 servidores libertados ontem da Terra Indígena Yanomami; Exército Brasileiro removeu funcionários para Boa Vista (Foto: Arquivo pessoal)

 
 
Depois de passar 48 horas refém de índios na região de Surucucu, na Terra Indígena Yanomami (TIY), no Noroeste de Roraima, um dos 13 funcionários libertados no sábado (2) afirmou ao G1 neste domingo (3) 'ter passado momentos de muito terror' na localidade. Segundo ele, todos os servidores reféns são mantidos dentro do prédio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) na reserva, e sofrem pressão psicológica e racionamento de comida. "Só sentia pavor, desespero e nervosismo", disse o técnico em enfermagem.
Os cerca de 150 Yanomami que participam do protesto, e ainda mantêm 23 funcionários reféns, cobram a exoneração da coordenadora do Distrito Especial de Saúde Indígena Yanomami (Dsei-Y), Maria de Jesus, e do gestor da Secretaria Especial de Saúde Indígena, Antônio Alves.
 
Cerca de 200 índios armados com arcos, flechas e facões mantêm os funcionários reféns na região de Surucucus, no interior da Terra Indígena Yanomami, em Roraima (Foto: Arquivo pessoal)
Cerca de 150 índios armados com arcos, flechas e
facões mantêm os funcionários reféns na região
de Surucucu, no interior da Terra Indígena
Yanomami, em Roraima (Foto: Arquivo pessoal)
 
Conforme Maria de Jesus, a Sesai está negociando com os indígenas e garantindo que haja alimentação e assistência aos servidores que continuam reféns na Terra Indígena.
Segundo o técnico em enfermagem, as roupas, comidas e todas as bagagens dos servidores estão retidas dentro das quatro aeronaves que também foram apreendidas pelos índios no protesto.
"Então, a única comida que os funcionários têm é arroz. E só são apenas quatro quilos. Por isso, eu acho que hoje [domingo] já não tem nem mais comida para eles", afirmou.
Além de arcos, flechas, facões e pedaços de madeira pontiagudos, os indígenas também possuem armas de fogo, segundo o servidor. Ele acrescentou também que dois ex-servidores da Sesai em Boa Vista são apontados pelos índios como líderes do protesto.
"Eles ficam escondidos no mato com armas de fogo. Ninguém tem o direito de ir, vir e de se alimentar. Além disso, os índios invadem o prédio da Sesai na hora em que querem e dizem que os líderes do movimento são os indígenas Júnior e Anselmo Yanomami", disse.
O técnico em enfermagem contou ainda que ao chegar a Boa Vista, teve de receber atendimento médico e psicológico para 'tentar entender que conseguiu sair da região com vida'. "Todos os funcionários estão muito abalados e eu, apesar de já estar na cidade, continuo muito nervoso. Até agora não acredito que estou em casa", contou.
 
Coordenadora do Dse-Y diz que reféns não correm risco de vida; segundo ela, a Sesai negocia alimentação com o Exército Brasileiro (Foto: Emily Costa/ G1 RR)
Coordenadora do Dsei-Y diz que reféns não correm
risco de vida; segundo ela, a Sesai negocia alimentação
com o Exército Brasileiro (Foto: Emily Costa/G1 RR)
 
Sesai diz garantir segurança de reféns

 Conforme Maria de Jesus, 'toda a assistência necessária tem sido prestada aos funcionários e familiares'. Segundo ela, o Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF), Advocacia-Geral da União (AGU), além da Sesai central e do Ministério da Saúde (MS) já estão a par da situação.
"Quanto à alimentação, nós estamos negociando isso junto ao Exército Brasileiro para que não falte comida aos servidores", afirmou Maria, reiterando que eles não correm risco de vida. "É claro que a situação é traumática, mas estão seguros", garantiu.
Ainda conforme a coordenadora, desde sexta-feira (1º) a Terra Indígena Yanomami está com todas as atividades da área de Saúde prejudicadas. Além disso, a empresa proprietária dos aviões retidos pelos índios parou de fazer voos para a região.
"Neste mês de maio, estávamos fazendo uma completa ação de imunização dos indígenas. Contudo, com esse protesto, três polos de atendimento estão completamente impedidos de atuar, porque os profissionais tiveram de suspender a programação", detalhou.
Sobre o envolvimento dos ex-funcionários na manifestação, Maria comunicou que a Sesai está apurando a denúncia.
A reportagem do G1 tentou contato com a assessoria do Exército Brasileiro e da Sesai central, mas não obteve resposta.

Líderes negam envolvimento

 O ex-servidor da Sesai, Júnior Yanomami, negou qualquer envolvimento com o protesto. De acordo com ele, a decisão pela manifestação foi tomada por líderes indígenas da própria comunidade.
"A denúncia de que estou envolvido nesse protesto não procede. Na realidade, os indígenas estão protestando porque um líder deles morreu no mês passado por negligência da Sesai", comunicou.
O G1 tentou contato com Anselmo Yanomami, mas as ligações não foram atendidas.

Funai

 Por telefone, o coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami e Ye'kuana (FPEYY) da Fundação Nacional do Índio (Funai), João Catalano, declarou já ter procurado a representação da instituição em Brasília. "Estamos acompanhando o caso e mantendo contato com os órgãos responsáveis", pontuou Catalano.
 


Nota: Este Blog publicou Matéria na íntegra do G1. E questiona estado emocional de um técnico da área de Saúde Indígena que, ao que parece,  pelo  relato da reportagem não possui a mínima condição emocional de trabalhar com um povo massacrado por garimpeiros e madeireiros. Além disso, fica a pergunta: Por que Maria de Jesus continua no cargo em momento de negociação?

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