8 de março de 2014

MS RECORD: Matéria sobre Cartilha traduzida em guarani ajuda indígenas a denunciar maus tratos em aldeias de Dourados. Em Tempo: A Reportagem 'esqueceu' os Dados de Brancas e Mestiças


Aldeias de Dourados estão com os mais altos índices de

 violência doméstica







Foto: Reprodução TV MS RecordPara que índias conheçam seus direitos foi criada uma cartilha de enfrentamento a violência
MS Record

Em Dourados um belo motivo para comemorar o dia da mulher. Uma cartilha traduzida em guarani ajuda indígenas a denunciar maus tratos, dentro de casa. O trabalho já colaborou para que dezenas de vítimas tomassem coragem para romper com o ciclo da violência doméstica.
A violência doméstica esteve presente por muitos anos na vida da kaiowá Miriam Ramires. A índia kaiwoá apanhava do marido, mas nunca denunciou por medo de não ter para onde ir com os cinco filhos. 
“Larguei meu marido com cinco filhos e não deu pensão até agora, mas todos já cresceram”, diz a índia kaiowá.
Só este ano Mato Grosso do Sul registrou 826 casos de violência doméstica, 587 só no interior do Estado. Dourados está entre as cidades com índices mais altos. A maioria dos casos ocorre na aldeias. No município vive a segunda maior população indígena do país. Só em janeiro duas índias foram assassinadas dentro de casa.
Por uma questão cultural muitas mulheres indígenas acreditam que é normal apanhar, porque tem que se submeter ao marido.  Para que todas conheçam seus direitos e saibam que qualquer tipo de agressão é crime foi criada uma cartilha de enfrentamento a violência. De um lado escrita em português e do outro, traduzida em guarani, principal língua fala nas aldeias.
Mulheres que também foram vítimas da violência, resolveram dar um basta e unir forças. “Apesar de não termos números e nem estatística que comprova isso nós que convivemos aqui dentro a gente tem conhecimento  dessa violência e a violência doméstica, não acontece só com as mulheres, ela tem acontecido com crianças, com jovens e até mesmo com meninos e meninas dentro da nossa comunidade”, diz a guarani Jussara Marques.
Quem vê a guarani, Janete de Souza hoje toda vaidosa não imagina quantos obstáculos teve que superar. Casou aos 16 anos, teve de parar de estudar para cuidar da casa e também sofreu violência física e psicológica.
Agora toda essa história ficou no passado. Faz faculdade de pedagogia, trabalha e tem muitos sonhos pela frente.
“A mulher indígena antigamente era vista no lar, a mulher indígena ficava só dentro da casa e hoje não, ela sai na rua, ela grita por socorro, ela mostra a cara e ela está guerreando por seu espaço”, diz a guarani.
A índia Kaiowá, Mirim faz questão de ler um trecho da cartilha em guarani.
“Eu li e disse a minha menina de 14 anos, antes de namorar tem que saber o jeito do homem, se ele é bom ou não”, diz Miriam.
“Nossa luta é dizendo para as mulheres que tem saída,  tem solução, nós conseguimos estudar, se formar, hoje a mulher indígena que foi espancada, hoje é professora, trabalha na sociedade co a cabeça erguida e a nossa luta é essa é nossa solução para as mulheres”, finaliza Jussara.
Amanhã, as atividades em comemoração ao dia da mulher, em dourados, começam, a partir das 8 horas na Praça Antônio João. Haverá panfletagem e atividades de conscientização, com um mutirão de serviços voltados à mulher. 
Serão feitas orientações sobre a rede de enfrentamento e agendamento de atendimentos no centro de atendimento viva mulher, órgão da prefeitura que oferece assistência às vítimas de violência. (Com colaboração Mirian Névola, TV MS Record)

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