Oitava morte por atropelamento na terra indígena Apyka’i
Foto _ Cimi |
Por CIMI
Ramão Araújo, 41 anos, liderança indígena Kaiowá da aldeia Nhu Porã, município de Dourados, Mato Grosso do Sul, foi atropelado e morto na BR-463, próximo à terra indígena Apyka’i, na noite de 14 de março. De acordo com testemunhas, Ramão caminhava pelo acostamento e, no km 03, foi atropelado pelo condutor de um veículo Toyota Hillux que trafegava em alta velocidade. Isso ocorreu por volta das 19h30min. Como estava escuro, as testemunhas não conseguiram ler a placa do veículo.
Desde o atropelamento e morte de Delci Lopes, ocorrido há mais de um mês, Ramão residia na área do Apyka’i, onde prestava apoio à comunidade que luta pela demarcação da terra. Ele foi o oitavo indígena a ser atropelado e morto na BR-463 desde o ano de 2009. Em todos os casos, os condutores dos veículos fugiram do local sem prestar socorro às vítimas.
As lideranças indígenas do Conselho da Aty Guasu denunciam que, pela semelhança dos casos, os atropelamentos são, na prática, assassinatos disfarçados. “Acreditamos que a demora em demarcar as terras e as seguidas reintegrações de posse são as principais razões para estes atropelamentos. Se a terra tivesse demarcada e a comunidade nela, nada disso teria acontecido”, ressalta Tonico Benites. As lideranças informam ainda que os atropelamentos têm ocorrido sempre no início da noite, quando os indígenas retornam para suas aldeias ou acampamentos e, em todos os casos, os condutores dos veículos atropelaram as vítimas no acostamento da rodovia, entre os km 03 e 08, e fogem do local em alta velocidade.
Os Guarani-Kaiowá do Apyka’i vivem em uma inaceitável situação de abandono por parte do poder público, o que gera um clima de insegurança e de medo. Na busca pela garantia de seus direitos, em setembro de 2013 a comunidade retomou um pequeno pedaço da terra tradicional, onde se situa a Fazenda Serrana, que arrenda a área para a Usina São Fernando. O trecho retomado, no qual a comunidade reside desde então, fica a poucos metros da BR-463 e há aproximadamente de sete quilômetros de Dourados. O acostamento da rodovia, portanto, é a única alternativa para os indígenas se deslocarem a pé, entre a aldeia e a cidade.
A comunidade tenta reverter, no âmbito do Poder Judiciário, uma decisão de reintegração de posse a favor do fazendeiro, que alega ser o proprietário da terra indígena. Liderados por Damiana – que já teve o marido, dois filhos, netos e sobrinhos mortos por atropelamentos – os Guarani-Kaiowá do Apyka’i resistem às ameaças dos fazendeiros e usineiros, ao risco de despejo e aos constantes atropelamentos na rodovia, o que torna ainda mais desumana a situação a que eles estão submetidos.
É urgente que sejam tomadas medidas protetivas para a comunidade e que, na rodovia, sejam instalados redutores de velocidade para assegurar a vida de quem por ela circula. No âmbito do Governo Federal, é urgente a demarcação e regularização da terra indígena Apyka’i.
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