Material, que inclui cadernos de pesquisas e um
vídeo, é o primeiro produzido em línguas
indígenas e por índios no Brasil
O lançamento de livros, cadernos de pesquisas, catálogo das leis e um vídeo dos estudantes do curso de Licenciatura Indígena Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, das etnias tukano, baniwa e nheegatu do Alto Rio Negro marca, nesta sexta-feira (24), as primeiras produções científicas de um curso dessa disciplina no País.
A explicação, dada pela coordenadora do projeto, professora Ivani Farias, é necessária, segundo afirma, porque de um total de 26 cursos em funcionamento, apenas o da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) conseguiu esse mérito. O melhor, segundo ela, é que os materiais, produzidos nas línguas oficiais da respectivas etnias, poderão ser usados nas escolas de ensino fundamental e médio nas comunidades indígenas em seus respectivos municípios.
Entre os lançamentos, estão o Catálogo das leis baniwa, acordo ortográfico da língua Nheegatu e um vídeo em tukano que aborda a educação escolar indígena no alto Rio Negro. De acordo com Ivani, o curso veio em resposta a uma demanda dos povos indígenas do Alto Rio Negro em parceria com a Federação das Organizações Indígenas (Foirn) e Secretaria Municipal de São Gabriel da Cachoeira. Houve, de acordo com a coordenadora, discussões amplas com as comunidades da região no período de 2005 a 2009. A primeira turma foi ofertada em 2010, pelo Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), até a construção do Centro Universitário Indígena do Rio Negro.
Pesquisa
Segundo a professora Ivani, esses trabalhos são frutos das pesquisas determinadas e realizadas pelos estudantes de licenciatura. O curso é tão inovador que não funciona com aulas semelhantes a escola dos brancos, mas com pesquisa que é realizada durante o ano. “Tudo é feito por eles e produzido nas suas línguas nativas”, afirmou Ivani, destacando ser uma produção científica inédita, com rigor científico, que vai contribuir não só para a promoção e fortalecimento da língua, mas também para conter a diglossia, que é a situação na qual uma língua majoritária inibe e até extingue a outra.
Como cerca de 20 línguas são faladas na região do Alto Rio Negro, uma situação atípica no País, a ideia é evitar que a língua portuguesa reprima as nativas, explica. O curso é regular, com ingresso bianual, com três turmas (tukano, baniwa e Nheegatu) definidas a parti r da territorialidade linguística, podendo ser ofertada para outras turmas conforme demanda dos povos indígenas em caráter especial, devido sua proposta metodológica.
O fato da base do conhecimento ser produzido por meio do ensino via pesquisa, dá ao curso uma estrutura curricular flexível, orientada pelas pesquisas desenvolvidas pelos discentes. Isso contribui não só para a formação pedagógica dos alunos, mas permite também a gestão do conhecimento e de tecnologias sociais tradicionais indígenas e não-indígenas, intercultural, assim como uma discussão e gestão territorial de suas comunidades e das Terras indígenas do Alto Rio Negro.
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