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Por Marcelo Leite em Folha de S. Paulo
O custo de reduzir a zero o
desmatamento no Brasil é muito baixo. Erradicar a derrubada de áreas de
floresta amazônica, cerrado e mata atlântica –principais biomas brasileiros
para a produção agropecuária– diminuiria em R$ 46,5 bilhões o PIB acumulado até
2030.
A cifra
está num estudo do Instituto Escolhas lançado nesta segunda-feira (30). Ela
corresponde a R$ 3,1 bilhões anuais, menos de um terço do subsídio incluído no
Plano Safra 2017/18 (R$ 10 bilhões).
A grande
questão, no entanto, é quanto custa –em emissões de carbono, recursos hídricos,
biodiversidade– seguir desmatando como se faz no país todos os anos. Mas esta
pergunta o relatório "Qual o Impacto do Desmatamento Zero no Brasil?"
não responde.
GANHOS
AMBIENTAIS
"O
ganho ambiental é gigantesco, em genética e recursos naturais que se perdem
[com o desmatamento]", afirma Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, da
Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), responsável pela
estimativa.
"A dificuldade
é quantificar. Se não tiver uma base muito consistente, [o cálculo] não vai ser
aceito", explica. "Modelar e quantificar serviços ecossistêmicos é
impossível, hoje. Emissões de carbono, OK. Mas qual o valor da
biodiversidade?"
O estudo
do Instituto Escolhas limitou o foco ao impacto negativo sobre o PIB, sem dar
atenção para os ganhos (com produtos florestais, por exemplo). Uma abordagem
conservadora, que buscou reproduzir o ponto de vista do produtor rural,
sobretudo o do pecuarista.
A agropecuária
se expandiu no país com a abertura de áreas de mata natural. Conter a
devastação implica restringir essa atividade e pode reduzir sua produção –a não
ser que se aumente a produtividade, como de resto já vem acontecendo.
A partir
dos quatro cenários definidos (veja infográfico), o trio gerou mapas e tabelas
por Estado indicando, ano a ano, qual a área disponível para produção –cultivos
anuais, gado bovino etc. Com menos terra disponível para expansão, o PIB cai.
Muito
pouco, no entanto: 0,62% em termos nacionais (a média de R$ 3,1 bilhões ao ano
já mencionada). O agronegócio como um todo, incluindo insumos, serviços e
indústrias associadas, representou 20% do PIB em 2016, segundo o Centro de
Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq).
O PESO DO
BOI
Considerado
só o produto da terra diretamente impactado pela redução no desmatamento, essa
fatia cai para menos de 5%. Isolando a pecuária, a parcela se revela diminuta,
1,7% do PIB.
Segundo
Ferreira Filho, a pecuária sofre maior impacto porque as terras disponíveis, na
medida em que escasseiam, tendem a ser ocupadas por atividades mais rentáveis.
Toda a expansão do cultivo de cana após o Proálcool, mesmo em território
paulista, se deu sobre antigas áreas de pastagem.
Criar
gado, em particular com a baixa produtividade da pecuária extensiva brasileira
(grosso modo, uma cabeça por hectare), gera menos renda que commodities como a
soja e o milho.
Esse
eventual prejuízo para pecuaristas pode ser revertido com algum investimento em
eficiência, aponta o estudo do Instituto Escolhas. Com ganho anual de 0,29% na
produtividade da pecuária de corte e de 0,13% na leiteira já seria possível
reverter as perdas na produção desses dois ramos, indica a simulação de
Ferreira Filho.
Se é
pequeno o impacto da redução do desmatamento no PIB nacional, em termos
agregados, o mesmo não vale sob o prisma regional. Sofrerão mais as economias
dos Estados em que o setor agropecuário tem maior participação e onde há bom
estoque de florestas para derrubar.
Os que têm
mais a perder são Acre (-4,5% do PIB estadual), Mato Grosso (-3,2%) e Rondônia
(-3%). Seria imprescindível criar políticas específicas para compensar a perda
de emprego e renda nessas regiões, apontou o debate de lançamento do estudo no
auditório do Insper.
PREÇO ALTO
A PAGAR
Ainda no
governo Dilma Rousseff (PT), o Planalto descartou a meta do desmatamento zero e
se comprometeu apenas com eliminar o corte ilegal de florestas –ou seja,
cumprir plenamente a lei só em 2030– como contribuição do Brasil para combater
a mudança do clima.
Michel
Temer (PMDB) segue na mesma picada e comemora como vitória uma área desmatada
de 6.624 km² na Amazônia em 2016/17, o equivalente a um terço do Estado de
Sergipe –em um ano.
A
agropecuária nacional segue como o grande poluidor climático do país, gerando
74% de suas emissões de carbono. Quanto mais o Brasil demorar para reduzi-las,
mais caro lhe custará cumprir as metas do Acordo de Paris.
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