Indígenas Guarani Kaiowá em roda do túmulo do indígena Semião Vilhava, assassinado durante ataque em Antônio João. (Fotos: Dionedison Terena) |
Paula Maciulevicius, Campo Grande News
O processo de fotografia o qual Dionedison exerce hoje tem uma razão por trás. Motivado pelo que acontece com a população indígena em Mato Grosso do Sul, o terena viu que não bastava enxergar a transformação do Estado num grande e sangrento palco de violação dos direitos humanos, era preciso testemunhar, registrar e criar mecanismos de defesa de um povo.
Ao entrar para os movimentos indígenas em 2007, Dionedison Terena, hoje com 38 anos, encontrou pela fotografia um meio de se armar. "Durante a minha caminhada eu percebi que faltava algo dentro do movimento: era exatamente fazer isso, o registro dos fatos que vem ocorrendo", explica. Através da câmera ele também tem uma segunda missão: a de tentar mudar a forma como os indígenas são vistos e tratados, em especial, pela mídia.
O que os olhos só viam e hoje clicam são torturas, espancamentos, ataques armados e assassinatos que ocorrem nas fazendas, aldeias e áreas retomadas por indígenas. Dionedison é nascido na aldeia Bananal, tem oito irmãos e se viu dentro do movimento depois que a família deixou a aldeia e chegou à cidade.
Em 2007, ele passou a conhecer o trabalho da Rede de Educação Cidadã, que trabalha a formação de indígenas. "A partir desses processos, passei a conhecer a importância de a gente ter o domínio dessas ferramentas dos meio de comunicação", conta. Foi na mesma época que Dionedison passou a participar ativamente das mobilizações indígenas, exatamente para registrar cada fato que acontece quando olho nenhum quer ver.
"Já vivenciei algumas reintegrações de posse, que me dá a oportunidade de fotografar e acompanhar todo esse processo. Um deles foi muito tenso e até hoje não apaga da minha memória, na aldeia Buriti, o Oziel Gabriel, assassinado pela Polícia", recorda.
Foi com fotógrafos de guerra, conectados via internet, que Dionedison aprendeu que teria de deixar a emoção de lado para focar na razão. "Às vezes eu não conseguia me concentrar, era um sentimento de dor, misturado com ódio e isso me atrapalhava um pouco a fazer esse trabalho de fotografia", descreve.
"Eu passei a conhecer o fotógrafo André Liohn e a trocar contato com ele nas redes sociais, ele que me passava orientação, de que forma proceder em várias situações dolorosas. É muito difícil quando você se depara com indígenas sofrendo, sendo o principal alvo numa reintegração de posse", exemplifica.
Até hoje não é fácil de ver e nem de clicar momentos de tensão assim. Ele também se vê perseguido por fotografar e filmar e alerta que é preciso cautela, assim como qualquer profissional numa cobertura mais delicada. "Eu sempre procuro chegar nesses locais de ataque recente, colher depoimento das pessoas. Elas relatam tudo o que acontece", explica.
O primeiro contato com a câmera foi ainda no Pontão de Cultura Guaicurus, que alguns anos atrás oferecia cursos de vídeo e foto, mas só nos últimos dois que uma câmera semiprofissional tem acompanhado Dionedison. Um pouco antes do equipamento, as imagens capturadas já eram expostas na rede, pensando em relatar o "lado indígena", por tantas vezes massacrado na imprensa, o terena criou a página no Facebook "Resistência do Povo Terena", onde posta fotos e comenta, baseado no que vive e no que lê, das notícias.
"Eu não tenho uma formação em fotografia, em jornalismo. Toda essa aprendizagem, esse conhecimento que eu tenho é do que eu vivi mesmo". E o motivo de soltar suas fotos ao mundo é contrapor o que os jornais insistem em estampar, diz ele. "Quando faz retomada, a primeira coisa que aparece é invasão. Eu tento contrapor a fala da mídia. Não é invasão quando os indígenas retomam suas terras, que são consideradas terras tradicionais", frisa.
Sobre quem é Dionedison por trás das câmeras? Ele resume como descreveu em sua página: "Dionedison Terena é um fotógrafo indígena abrangendo questões sociais, principalmente questão indígena em Mato Grosso do Sul / BRASIL".
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