Com
a prisão do líder do governo no Senado, cria-se um momento oportuno
para lembrar de seu histórico como político. Sem ir muito longe, no ano
de 2004, o pecuarista e senador sul mato-grossense Delcídio do Amaral
(PT) apresentou um Projeto de Lei (PL) que é a origem da Proposta de
Emenda à Constituição mais combatida pelo movimento indígena atualmente:
a PEC 215. O texto do PL 188/2004
propunha que todas as demarcações de terras indígenas fossem submetidas
ao Senado. Além disso, a proposta visava impedir a existência de terras
indígenas na faixa de 150 km da fronteira nacional. Isso equivale dizer
que nenhuma das terras reivindicadas nos estados do Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Santa Catarina, Rondônia, Roraima e Paraná seriam
reconhecidas e que as que já existem permaneceriam sob intervenção
militar.
A proposta pegou tão mal no movimento indígena - base de voto importante do senador no Mato Grosso do Sul - que no mesmo ano Delcídio chamou uma reunião com 700 lideranças de todos os povos daquele estado. Na ocasião, o parlamentar discursou, mentiu e chorou. Prometeu voltar atrás imediatamente... o que não fez.
A proposta pegou tão mal no movimento indígena - base de voto importante do senador no Mato Grosso do Sul - que no mesmo ano Delcídio chamou uma reunião com 700 lideranças de todos os povos daquele estado. Na ocasião, o parlamentar discursou, mentiu e chorou. Prometeu voltar atrás imediatamente... o que não fez.
De
volta a Brasília, o senador seguiu firme em sua posição e passou a
ameaçar processar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) por conta de
um editorial publicado no jornal da entidade, o Porantim,
cujo título era “Delcídio e Genocídio”. Foi assim que, na época, o
apelido “Delcído Genocídio” se espalhou e pôde ser visto em faixas e
cartazes em protestos do movimento indígena por todo Brasil.
Somente no início de 2006, notando que a mobilização dos povos Terena e Kaiowá inviabilizaria sua candidatura ao governo do Mato Grosso do Sul, foi que Delcídio retirou em definitivo o PL 188/2004. Delcídio perdeu a eleição para governador para André Puccinelli, do PMDB, e voltou para a bancada ruralista no Senado. Seu PL deixou de existir, mas espalhou sementes que cresceram, como a PEC 215, que hoje avança no Congresso Nacional.
Somente no início de 2006, notando que a mobilização dos povos Terena e Kaiowá inviabilizaria sua candidatura ao governo do Mato Grosso do Sul, foi que Delcídio retirou em definitivo o PL 188/2004. Delcídio perdeu a eleição para governador para André Puccinelli, do PMDB, e voltou para a bancada ruralista no Senado. Seu PL deixou de existir, mas espalhou sementes que cresceram, como a PEC 215, que hoje avança no Congresso Nacional.
É
uma pena que o latifundiário – amigo do ex-presidente Lula apresentado
por Delcídio do Amaral – José Carlos Bumlai tenha sido preso somente
esta semana pela Operação Lava Jato. Fosse preso por crimes aos quais
foi acusado anteriormente talvez evitasse o sofrimento de muitas
famílias Kaiowá.
Em
2010, os funcionários da Usina São Fernando, de cana de açúcar, do
grupo Agropecuária JB (Grupo Bumlai) e pistoleiros da empresa de
segurança patrimonial Gaspen atacaram o acampamento Guarani-Kaiowá Curral de Arame1.
Na ocasião, barracos foram incendiados e um senhor de 62 anos foi
ferido à bala. Antes ainda deste crime, as usinas de Bumlai foram
diversas vezes autuadas pelo Ministério Público do Trabalho em
flagrantes de trabalho escravo2.
Foto: Agência Senado
1- Reportagem de Verena Glass para a agência Repórter Brasil
2 - A usina São Fernando aparece no documentário À Sombra de um Delírio Verde. Ela é o inferno onde o senhor Kaiowá Orlando Jucá, que perdeu o filho de 15 anos esquartejado e degolado em sua primeira empreitada em um canavial, trabalha exaustivamente cortando cana.
1- Reportagem de Verena Glass para a agência Repórter Brasil
2 - A usina São Fernando aparece no documentário À Sombra de um Delírio Verde. Ela é o inferno onde o senhor Kaiowá Orlando Jucá, que perdeu o filho de 15 anos esquartejado e degolado em sua primeira empreitada em um canavial, trabalha exaustivamente cortando cana.
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