– Nizio Gomes?
– Presenteee!
– Presenteee!
Por O Indigenista
No dia 18 de novembro de 2015 completa 4 anos do assassinato do
cacique guarani kaiowá Nizio Gomes, ocorrido em 2011, no acampamento da
retomada do Tekoha Guaiviry, localizado nos municípios de Aral Moreira e
Ponta Porã, ambos no Mato Grosso do Sul, chocou o país e causou
repercussão internacional.
As investigações e a consequente denúncia do Ministério Público
Federal (MPF) contam uma história digna de romance policial, com relatos
de suborno, acenos ligados à disputa do poder político (promessa de
apoio à eleição de um amigo da vítima ao cargo de vereador),
planejamento minucioso do crime na calada da noite, delação da amante do
dono da empresa envolvida no assassinato, entre outros.
Documentos públicos fundamentados em depoimentos e investigações
revelam que a trama que levou à morte de Nizio teria começado pouco após
a retomada de um pequeno trecho da Fazenda Nova Aurora pelos kaiowá de
Guaiviry, em 1° de novembro de 2011. Vizinhos da área, os réus Idelfino
Maganha (dono das Fazendas Querência, Cachoeirinha e Figueira), Claudio
Adelino Gali (dono das Fazendas Sonho Mágico e Arueira) e Samuel Peloi
(dono da Fazenda Dois Irmãos), além do presidente do sindicato rural e
Secretário Municipal de Obras de Aral Moreira (MS), Osvin Mittanck, e
dos advogados Levi Palma e Dieter Michael Seyboth (este último, genro do
fazendeiro Maganha) teriam discutido formas para retirar os indígenas
da área.
Segundo a denúncia, foram aventadas três possibilidades: convencer o
grupo a sair mediante o oferecimento de dinheiro; pedir reintegração de
posse na Justiça; ou contratar uma empresa de segurança privada armada
para promover a expulsão violenta.
Os fazendeiros teriam contatado a empresa de segurança Gaspem
(conhecida no Estado por suas ações violentas em acampamentos
indígenas), comandada pelo policial militar aposentado Aurelino Arce.
O advogado Levi Palma e o dono da Gaspem acertaram os detalhes da
ação. Aurelino Arce acionou, então, seus homens – os réus Josivam Vieira
de Oliveira (vigilante), Jerri Adriano Pereira Benites (aposentado),
Wesley Alves Jardim (ajudante de pedreiro), Juarez Rocanski (vendedor
ambulante), Edimar Alves dos Reis (vigilante), Nilson da Silva Braga
(vigilante), Ricardo Alessandro Severino do Nascimento (vigilante e
gerente da Gaspem), André Pereira dos Santos (vigilante), Robson Neres
do Araújo, Marcelo Benitez e Eugenio Benito Penzo -, enquanto Levi
cuidaria da logística e reuniria, junto aos fazendeiros locais, as armas
para o ataque.
Por volta das 22h do dia 17 de novembro de 2011, segundo a denúncia, o
grupo de Aurelino chegou à Fazenda Maranata, onde foi recebido pelo
fazendeiro Samuel Peloi, que lhes ofereceu um jantar. Após a refeição,
já na madrugada do dia 18, Cláudio Adelino Gali, Aparecido Sanches (seu
braço direito e capataz em sua fazenda), Samuel Peloi, Levi Palma e os
12 integrantes da Gaspem fecharam os detalhes do ataque. Conforme
testemunhas, os fazendeiros repassaram as armas de fogo (ao menos seis,
do tipo calibre 12). Decidiu-se o horário da ação e a logística de
carros.
O ataque ao acampamento foi perpetrado pelos jagunços Josivan, Jerri
Adriano, Wesley, Juarez, Edimar, Nilson, Ricardo Alessandro, Robson e
Marcelo Benitez.
Ao chegarem na trilha que dá acesso ao interior do acampamento de
Guaviry, os homens da Gaspem abordaram aos gritos o cacique Nízio Gomes
que, assustado, reagiu e acertou o pé direito de Josivan com uma
machadinha. Neste momento, o tiroteio começou. Com um tiro sub-axilar,
Jerri Adriano mata Nizio, em 18 de novembro de 2011.
Segundo testemunhas, Jerri vai até a vítima, chuta sua cabeça e diz: “esses índios mesmo mortos ainda nos dão trabalho”.
Após desaparecer com o corpo de Nizio, o consórcio de fazendeiros
teria montado uma estratégia para dificultar as investigações. Dois dias
depois do crime, Osvin Mittanck, Samuel Peloi e Idelfino Maganha teriam
se reunido com o índio Dilo na sede do Sindicato Rural de Aral Moreira.
Em troca de dinheiro, pagamento de advogado e apoio à sua candidatura a
vereador nas eleições de 2012, Dilo deveria dizer à Polícia Federal
(PF) que Nizio estava vivo, escondido em uma aldeia no Paraguai.
Gaspem e a violência no campo
A empresa tinha como clientes proprietários de terras em conflito
fundiário. Investigações do Ministério Público Federal apontaram
envolvimento de Aurelino e agentes da empresa em pelo menos 8 ataques
contra as comunidades indígenas ocupantes dessas terras, que resultaram
em duas mortes e dezenas de feridos. Para o MPF, o grupo atuava como
milícia, chegando a receber R$ 30 mil para cada desocupação
bem-sucedida.
Os primeiros registros de violência da Gaspem contra indígenas foram
registrados em 2005. Em 2009, funcionários da empresa de Aurelino
atearam fogo contra barracos da comunidade guarani-kaiowá Apyka’i
(Curral do Arame), em Dourados, o que se repetiu em 2013.
Demarcação é reivindicação antiga
A área indígena Guaiviry vem sendo reivindicada pelos Guarani-kaiowá desde 2004. De acordo com as lideranças, a área teria sido demarcada como indígena ainda no século 19, mas na década de 1910, com a criação da Terra Indígena Amambaí pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a população de Guaiviry foi transferida para lá e a área anteriormente ocupada, considerada terra devoluta. Segundo o MPF, “a demarcação da terra indígena Guaiviry é conhecido pleito dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul.
A área indígena Guaiviry vem sendo reivindicada pelos Guarani-kaiowá desde 2004. De acordo com as lideranças, a área teria sido demarcada como indígena ainda no século 19, mas na década de 1910, com a criação da Terra Indígena Amambaí pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI), a população de Guaiviry foi transferida para lá e a área anteriormente ocupada, considerada terra devoluta. Segundo o MPF, “a demarcação da terra indígena Guaiviry é conhecido pleito dos Guarani Kaiowá em Mato Grosso do Sul.
A resistência do povo Guarani Kayowá é mantida pela juventude que defendem seu território como mostra o vídeo. Confira AQUI.
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