Foto _ Portal da Copa/Carol Delmazo |
Longe de querer subestimar as jogadas de Marketinh da presidente Dilma Rousseff e do presidente da Fifa, Joseph Blatter, especificamente envolvendo os povos indígenas e a Copa, a matéria que segue não representa o pensamento do belo mosaico indígena brasileiro. Pelo menos não em sua totalidade, envolvendo as 305 etnias.
Muitos deles questionam e sofreram diretamente com a realização do Mundial no Brasil. Exemplo disso são os indígenas que foram despejados da Aldeia Maracanã.
Em um dos momentos inesquecíveis - e apesar da sonegação da mídia - o jovem Guarani Werá driblou o cerimonial de abertura do evento com uma faixa que mais se assemlehava a `Bandeira Indígena` apelando pela demarcação. Até o momento nem a Fifa nem o governo brasileiro disseram uma única palavra.
A resposta parece vir através de três jovens indígenas das etnias Tikuna, Xavate e Guajajara que com outros foram contemplados com ingressos para o jogo Coreia do Sul x Bélgica, na Arena Corinthians, em São Paulo.
Um pequenino recorte de uma figura maior...e os que estão nesta última torcem mais pelo respeito ao Direito Indígena que vem sendo desrespeitado pela presidente Dilma Rousseff e seus aliados, sobretudo, a Bancada Ruralista. A matéria abaixo está reproduzida na íntegra, inclusive, com a `barrigada`do total de indígenas no país que são 896,9 mil (IBGE): Indígenas acompanham partida na Arena Corinthians em São Paulo
Por Portal R 3
Para Wagner, foi difícil dormir de quarta para quinta. O dia 26 de junho marcaria sua primeira partida de futebol em um estádio: Coreia do Sul x Bélgica, na Arena Corinthians, em São Paulo.
Logo em uma Copa do Mundo e justamente no estádio do time do coração. Ele se soma a muitos outros torcedores que também experimentaram esse momento especial, mas como uma diferença: Wagner representou, no estádio, um dos cerca de 374 (896,9/Censo IBGE) mil indígenas brasileiros.
Ele é Xavante e nasceu no Mato Grosso. Wagner e outros dois mil indígenas receberam ingressos a partir de uma doação de 50 mil tíquetes feita pela FIFA ao governo federal brasileiro. Quarenta e oito mil ficaram com estudantes da rede pública ligados ao projeto Mais Educação.
“Eu fiquei muito ansioso. Isso é um sonho de todos os meus irmãos. Mesmo antes da partida eu já estava me imaginando lá, sentindo a energia” disse, na entrada da arena.
Ele veio de metrô, junto com a esposa Silmara, grávida de cinco meses. Ela é da etnia Guajajara, com origem no Maranhão. As bochechas estavam pintadas de laranja, arte feita com tinta de Urucum, especialmente para vir à partida e fazer parte da confraternização entre diferentes povos, o ponto mais positivo da Copa do Mundo, na opinião dela.
“É um evento de encontro de culturas, você pode viver a diversidade, valorizar a diversidade. E nós indígenas também queremos fazer parte disso. A nossa presença ajuda a quebrar a imagem de que estamos isolados, em outro mundo. Não. Também podemos estar nos centros urbanos, convivendo com todos”, afirmou.
Peixe assado
No caminho para a entrada Oeste da Arena Corinthians, Silmara Guajajara e Wagner Xavante encontraram-se com as irmãs We’e’na e Meme’ena. O primeiro nome quer dizer “onça nadando para o outro lado do rio”. O segundo, “a pata bonita da onça”. Elas são da etnia Tikuna, que está presente no estado do Amazonas. We’e’na casou-se com o cacique Tukumbó Guarani e hoje mora no estado de São Paulo. Mas Meme’ena ainda vive na região amazônica do Alto Solimões, onde, segundo ela, os jogos da Seleção Brasileira sempre reúnem a aldeia, com um cardápio especial.
“Fica todo mundo junto para assistir à Seleção. A gente torce com força, grita, vibra. A gente sempre faz um peixe assado para acompanhar. Nós adoramos futebol, mas lá não escolhemos um time, como Corinthians ou Palmeiras. A gente torce para o Brasil. Quando ganha, é uma festa. Se perde, a gente fica triste, mas entendemos que faz parte, alguém tem que perder em um jogo”, disse Meme’ena, fã de David Luiz e de Neymar.
We’e’na também nutre uma relação muito especial com o futebol e com a Copa do Mundo. “Amamos futebol como qualquer outro brasileiro, e a Copa é incrível porque é um momento de misturar culturas. E é legal ver que os outros povos estão felizes com a nossa recepção aqui no Brasil. Tem que ser assim, confraternizando, mesmo quando se perde. Não tem que brigar, tem que compartilhar alegria e proporcionar união”, afirmou.
Encantamento
A presença dos indígenas diante do estádio causou encantamento na maior parte dos turistas que passaram por eles, sejam brasileiros, coreanos, belgas ou de várias outras nacionalidades. Em menos de uma hora, foram dezenas de pedidos de fotos, todos eles atendidos pelo grupo com simpatia e muitos sorrisos. Mas o estranhamento e curiosidade são mais uma prova da distância que os indígenas sentem, em muitos momentos, do restante da sociedade.
“Estou muito feliz com essa oportunidade porque, na maioria das vezes, a cultura indígena é excluída da socidade. É importante quebrar a imagem de inferioridade. Os indígenas são cidadãos com CPF, RG e título de eleitor. Queremos e podemos participar de momentos como este”, reforçou We’e’na.
Jogos indígenas
Ela e o marido Tukumbó organizaram, em abril deste ano, a primeira edição dos Jogos Indígenas de São Paulo. Na disputa de futebol, os vencedores foram os Guaranis, maior parte entre os 86 índios que ganharam ingressos para a partida entre Coreia do Sul e Bélgica. Entre uma ligação e outra para tentar organizar a chegada do grupo, Tukumbó enfatizou a importância da representação indígena na Copa.
“Isso é histórico. Uma história que ainda não tinha sido contada. Éramos seis milhões quando os portugueses chegaram, 914 etnias. Agora somos apenas 215, cerca de 374 mil indígenas, segundo o último censo. Mas falamos 180 línguas, temos a nossa história e fazemos parte deste país”, disse.
Altura e emoção
Já dentro do estádio, Tukumbó viveu, pela primeira vez, a experiência de torcedor na arquibancada. Em uma frase ele definiu o momento: “Isso vai ficar guardado para sempre no meu coração”.
Perto do cacique, estava Wagner, que perdeu a noite de sono por causa do jogo. Ele teve dificuldade para achar o assento, mas os voluntários o ajudaram. Lá da arquibancada Norte, a primeira coisa que chamou a atencão foi a altura. Demorou um pouquinho, mas ele se tranquilizou. E permitiu-se curtir o momento tão esperado.
“Não sabia que era tão alto. Depois me acostumei. A energia, as pessoas incentivando…fiquei muito emocionado. Talvez não tenha outra Copa no Brasil. E eu estou aqui. Isso me deixa muito contente”, contou.
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