Entre luzes, piruetas e aplausos durante o encerramento do Circo da Democracia, que chegou ao seu 10º dia nesta segunda-feira (15), um relato mais doloroso tomou conta da tenda azul e amarela, chamando a atenção da plateia. Glicéria Jesus da Silva, liderança indígena da Aldeia Tupinambá Serra do Padeiro, localizada no Município de Buerarema, no sul da Bahia, denunciou a perseguição contra os povos da região que lutam há pelo menos uma década pelo encarramento do processo de demarcação de suas terras.
A demora na demarcação, além do impacto do areal Bela Vista e da mineração sobre os povos da região, de acordo com Glicéria, tem obrigado a comunidade a viver em condições precárias, com contaminação da água das crianças e dos peixes. “Com isso vocês vêem a violação que estamos sofrendo”, afirmou, reiterando que o Judiciário tem sido conivente com essa forma de exploração que impacta o meio-ambiente.
“A ciência está muito avançada, mas, que eu saiba, não aprendeu ainda a fazer água. Deus nos deu a condição de preservá-la. Tínhamos mais de 15 nascentes de rios”, declarou.
Além disso, a militante relatou como o território reivindicado pelos índios da etnia Tupinambá é contantemente alvo de ações possessórias, o que aumenta o conflito na região. Somada a este cenário está a a criminalização sofrida pela realização de ações diretas de luta. Um exemplo disso, foram as prisões de seus irmãos Rosivaldo Ferreira da Silva, o cacique Babau Tupinambá, e José Aelson Jesus da Silva, o Teity Tupinambá, pela Polícia Militar (PM), no município de Olivença, no início deste ano.
Perseguição
O ataque dos ruralistas e o preconceito em relação aos povos tradicionais que lutam pela terra, também se expressa no posicionamento de parlamentares. A militante criticou o deputado federal e engenheiro agrônomo, Luiz Carlos Heinze (PP), do RS, que chegou a afirmar que quilombolas, indígenas e o MST “não prestam”. “Entramos com um pedido para a cassação do mandato dele”, condenou.]
Glibéria Tupinambá ainda explicou que os povos no litoral estão em situação de ainda mais fragilidade. “Na serra estamos um pouco mais protegidos, porque protegemos. Temos cinco espécies de onças, preguiça, um monte de animais preservados, porque não existe a caça e o desmatamento. Nós não precisamos destruir, mas eles estão nos perseguindo”, denunciou.
Em 2010, Glicéria foi presa junto com seu bebê, Erúthawã, com base em um mandado de prisão preventiva expedido pela justiça estadual. No documento não constavam os delitos de que era acusada. Ela permaneceu em um presídio no município de Jequié durante dois meses e 13 dias. “A polícia Federal entrava na aldeia. No presídio, passei dois meses presa com meu filho, período em que a gente aprende a ver as dores do outro”, contou, lembrando que teve sua casa queimada durante uma perseguição.
Em relação às medidas colocadas contra as terras indígenas no Congresso, ela demonstrou preocupação com a PEC 215. “Quantos direitos são violados, de pessoas que estão nas ruas e que poderiam estar nas terras?”, questionou.
*Edição: Camilla Hoshino
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