"Os
mbaraká, Takuara e Memby, instrumentos essencialmente religiosos,
usados nos rituais e manifestações culturais pelos Kaiowá Guarani,
voltaram a soar forte em Brasília. Representantes
desses povos vieram novamente a Brasília, para tomar posições e
defender os direitos dos povos indígenas do Brasil, novamente ameaçados,
agora por anunciadas revisões dos processos de terra assinados pela
presidente Dilma em seus diversos escalões".
Egon Heck, do Secretariado Nacional
Em carta da Grande Assembleia da Aty Guasu ao Ministro da Justiça afirmam: “Soubemos recentemente que há interesse de revogar e de anular decretos e avanços nas demarcações de nosso território conquistados no ultimo período... Revogar os processos de nossas Terras é humilhar nosso povo, pisar em nossos antepassados e violar o tumulo de nossos guerreiros. Isso não vamos permitir. Se acontecer, muitos de nossos velhos adoecerão de novo e teremos que partir para nossas retomadas”.
Depois
de mais de uma hora em ritual em frente ao Ministério da Justiça (MJ),
aguardando uma posição do Ministro ao pedido de ouvir e dialogar com os
Kaiowá Guarani, a resposta que obtiveram é de que um assessor do
assessor poderia recebe-los. Seria alguém que entende de índio.
Frustrados
e decepcionados, a delegação decidiu falar em coletiva à imprensa,
amanhã, tudo que gostariam de poder dizer diretamente ao novo Ministro
da Justiça.
Nosso koatiá (documento) é nosso grito
Na
carta encaminhada ao Ministro da Justiça lembram os ataques que
sofreram nos últimos anos, meses e dias, de grupos paramilitares, de
jagunços e fazendeiros. Denunciam mais uma vez a situação de
confinamento e massacres a que estão submetidos:
“Vivemos
um genocídio conhecido e reconhecido mundialmente. Morre mais gente
assassinada de nosso povo do que em países em guerra... Diante desse
quadro que está entre as piores situações de povos originários no mundo,
manifestam a sua decisão diante da única alternativa que lhes resta. Se
este Ministério e o Governo revogar estes decretos, não teremos outra
alternativa se não partir para nossas retomadas. Recuperar nossos
territórios que já estão estudados e demarcados por nós mesmos. Não
queremos ter mais mortos e nem empilhar nas costas do Executivo
Brasileiro mais cadáveres para serem contados no exterior. Mas não
teremos escolha. Um sinal como este de rever nossos direitos deverá ser
entendido por nós e por todos os povos do Brasil como um deboche e como
um anuncio de Guerra”.
Justiça seja feita
Na
carta, lembram as incontáveis vezes que deixaram suas famílias e
comunidades para vir a Brasília exigir justiça e respeito a seus
direitos. Quase sempre foram enganados com falsas promessas. Como fica a
questão de nossas lideranças assassinadas e outras constantemente
ameaçadas?
Apesar
de tudo, mais uma vez estão aqui clamando por Justiça Verdadeira.
Justiça que respeite a Constituição que ajudamos construir. A lei maior
que tantas vezes foi rasgada, como no caso da demarcação de todas as
terras indígenas, até 1993.
Desta
vez tem também motivos de comemorar alguns resultados das lutas, no
reconhecimento de algumas terras e ações judiciais contrárias ao “marco
temporal”. Não é nenhum favor, são resultados de décadas de luta,
sofrimento e mortes, que acabaram também criando uma grande
solidariedade nacional e internacional.
Ainda
na semana passado a liderança Kaiowá Guarani de Kurusu Ambá, Eliseu
Lopes, falou no Fórum Permanente da Organização das Nações Unidas (ONU)
sobre a questão indígena. “Não queremos mais que o sangue de nossas
famílias regue plantações de soja, cana ou sirva para o gado. Não vamos
desistir de nossos territórios”, disse o líder indígena Kaiowá Guarani
Eliseu Lopes, em discurso na semana passada diante de mais de mil
indígenas de todo o mundo.
No final da carta ao ministro da Justiça, os indígenas clamam por justiça: “O senhor tem duas escolhas. Fazer justiça e cumprir a constituição, e então terá nosso respeito, ou vender a justiça para os poderosos e manter o esbulho de nossas terras matando nosso povo e então teremos que combater e denunciar este governo. Mesmo com coração aflito pedimos ao senhor que pense, sinta e aja pelo Justo”.
No final da carta ao ministro da Justiça, os indígenas clamam por justiça: “O senhor tem duas escolhas. Fazer justiça e cumprir a constituição, e então terá nosso respeito, ou vender a justiça para os poderosos e manter o esbulho de nossas terras matando nosso povo e então teremos que combater e denunciar este governo. Mesmo com coração aflito pedimos ao senhor que pense, sinta e aja pelo Justo”.
texto: Egon Heck / fotos: Laila Menezes/Cimi
Cimi Secretariado Nacional-Cimi MS
Brasília, 18 de maio de 2016
Cimi Secretariado Nacional-Cimi MS
Brasília, 18 de maio de 2016
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