21 de julho de 2015

Valdelice Veron denuncia massacre do seu povo em discurso na Summit of Conscience, em Paris

Imagem enviada por Caroline Auboiron*
 
 
Sou indígena honrosa de pertencer à etnia Kaiowá. Sou filha do cacique Marcos Verón, assassinado em 2003, como 289 outras pessoas do meu povo que foram massacradas por latifundiários nos últimos dez anos: crianças, mulheres, idosos e homens na flor da idade.
 
Eu mesma estou ameaçada. Atuo em defesa do Tekoha, isto é do modo de vida tradicional do meu povo Kaiowa e guarani. Luto contra o genocídio e o etnocídio que se praticam no Brasil desde a chegada do colonizador no século 16. Preciso de ajuda! Meu povo pede socorro! Sou apenas a porta-voz de um povo que não quer morrer em silencio! Nosso único desejo é viver em paz nas terras onde nascemos, onde estão enterrados os nossos antepassados.
 
Sou uma guardiã das florestas cuja única ambição é a de assegurar para seus filhos o “testamento verde” que consiste na preservação da natureza. A relação respeitosa do meu povo para com a terra, a fauna e a flora é uma mera expressão do modo de vida Kaiowá. Nossos territórios estão sendo destruídos por homens gananciosos cujo único objetivo é o de se enriquecer com o abastecimento do mercado internacional com soja, carne... Para nós, o flagelo é o biocombustível: o etanol é feito com o sangue que jorra de nossas veias e que inunda a terra Kaiowá.
 
Também exigimos a estrita aplicação pelos países signatários da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Esta prática está na base da exportação ilegal de madeira, em outras palavras, de uma usurpação criminosa que conduz os povos indígenas a uma calamidade.

Durante suas viagens ao redor do mundo, os Caciques Raoni e Megaron tomaram consciência que os problemas que eles enfrentam são similares aos de quase todos os povos autóctones do mundo. Unidos com outros lideranças tradicionais e seus aliados, eles vão, então, oficializar durante a COP 21 o lançamento da Aliança dos Guardiões da Mãe-Natureza que é, para mim e para todos os que já aderiram à ideia, um caminho de esperança. Eis onde se encaixa a nossa Resistência a esses males que destroem nosso meio ambiente, do qual depende nossa sobrevivência.


Aqui estou para reivindicar leis internacionais realmente obrigatórias antes da construção de novas barragens hidrelétricas gigantescas, leis que consigam realmente impor, antes do início das obras, como pré-requisito essencial, o cumprimento das recomendações do relatório final da Comissão Mundial de Barragens (2000). A Aliança lutará pelo desmantelamento das grandes barragens que foram construídas em violação do direito à consulta prévia das populações indígenas afetadas, conforme estabelecido na Convenção 169 da OIT.


Enfim, solicito das instâncias internacionais o reconhecimento da noção de crime contra as gerações futuras, noção que deve definir o ecocídio, isto é, o crime da destruição parcial ou total dos ecossistemas de um território específico. Tal medida pode começar pela alteração do Estatuto de Roma, modificação que qualquer Chefe de Estado pode propor.

O mundo encontra-se em uma encruzilhada. Os direitos ancestrais dos índios brasileiros, reconhecidos pela Constituição brasileira, estão em risco. Nossa sustentabilidade cultural, econômica e social depende de Terra e Vida. A Mãe Terra também precisa de seus guardiões, precisa do povo originário, pois ele não sucumbiu nas mãos da ganância e do progresso ilusório. Devemos nos unir uns aos outros, guiados por esses guardiões que nos conduzem de volta à terra. Somente assim poderemos conquistar nosso futuro, juntos com todos os povos que lutam para que o planeta terra possa ainda respirar" . Leia sobre AQUI.
 
 Valdelice Veron-Kaiowa Xamiri Nhupoty, Paris 21/07/2015

* Caroline Auboiron é proprietária da ONG  Força é coragem !! (Page Officielle du groupe)


Nenhum comentário:

Postar um comentário