ENTREVISTA
Por Tereza Amaral
Como todo chefe de estado, o cacique Raoni também tem um porta-voz. Trata-se do seu sobrinho, o cacique Megaron Metuktire, que é muito mais do que ‘o dono da voz’ do lendário chefe indígena.
Num olhar entre eles podemos visualizar além de duas lideranças... Eles se amam e igualmente amam seu povo!
No início de dezembro Megaron, que é funcionário da Funai, foi apresentado em Paris em uma emissora francesa de televisão como o seu sucessor. “Ele que fica no meu lugar”, disse Raoni.
Em entrevista via e-mail Megaron diz estar pronto para continuar a luta em defesa da Amazônia e dos povos indígenas. Leia entrevista na íntegra:
P: Assumir o lugar do seu tio Raoni, cuja idade já sinaliza para a necessidade de descanso, significa o que para o senhor?
R: Que eu aprendi e estou pronto para continuar a luta pela preservação das florestas, dos rios, da terra indígena, uma luta que não é fácil, mas estou pronto para isso.
P: Na cultura dos brancos quando um chefe se aposenta tem uma solenidade. Como funciona na cultura indígena? Haverá um cerimonial de despedida?
R: Vai acontecer um grande encontro/reunião das lideranças, onde meu tio vai se despedir e me indicar para sua sucessão.*
P: Quando a ‘aposentadoria’ acontecer, de fato, Raoni continuará sendo o principal conselheiro?
R: Ele sempre será o meu conselheiro e do meu povo.
P: O senhor irá continuar na Funai?
R: Eu vou continuar na Funai até eu me aposentar.
P: Ainda criança o senhor foi orientado também pelos irmãos Villas Boas. Qual deles o orientou a abraçar a causa indígena e com que idade?
R: Eu morei e trabalhei mais com o Orlando, desde os 14 anos, quando eu disse que precisávamos preservar a nossa cultura para defender nossas terras. Eu lembro que ele nunca deixava eu cortar o meu cabelo, pois cabelo comprido é do Mebengokrê.
P: Em dezembro passado vocês fizeram uma turnê pela França, Holanda e Suíça, tendo, em Genebra, participado de uma conferência na sede da ONU. Qual o principal assunto em pauta?
R: Preservação das florestas, dos rios e dos povos indígenas, onde pedimos respeito.
P: O que vocês conseguiram de avanços no meio internacional, mais especificamente na ONU e do governo francês?
R: Acho que a ONU e o Governo Francês, pelo menos foi o que nos demonstrou lá, entenderam que nós indígenas temos o direito de viver em nossas terras preservadas, sem ameaças de destruição.
P: O senhor acredita ainda que Belo Monte pode paralisar?
R: Se tivéssemos apoio de todos e principalmente aqueles que estão lá perto, eu acredito que Belo Monte pare. Se todos os indígenas entendessem mesmo que isso é uma ameaça para o meio ambiente e para nós indígenas, todos estariam unidos contra a construção.
P: Qual a expectativa em relação à política indigenista de Dilma em
2013?
R: Eu espero que a Dilma mantenha o órgão oficial brasileiro - que é a Funai - para defender o direito do índio, o direito de demarcar e preservar as terras e a cultura do índio porque a Funai para os índios é muito, muito importante.
P: Para finalizar, como é o cacique Raoni na intimidade familiar?
R: Ele é normal como qualquer outra pessoa que preserva os laços familiares, um pai, tio e avô protetor e amável.
* A data da sucessão não foi anunciada
Megaron Txucarramãe.
Foto _ Compartilhada Orgulho de ser Indígena
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