Por Tereza Amaral
Com uma população de 20 mil habitantes (estimativa 2011) jovens Kaingang estão sendo vitimados pelo alcoolismo e
suicídio. Distribuídos pelos estados de
São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, eles vivem em Terras Indígenas
e Aldeias Urbanas, estas ainda em processo de demarcação. Trata-se de uma das
mais populosas etnias brasileiras e com os Xokleng (SC) constituem o chamado
tronco linguístico Jê Meridional ou Jê do Sul.
Segundo estudo do pesquisador Paulo Caldas Ribeiro
Ramon (CNPq/MDS), no período de 2001 a 2006 foram realizadas conferências sobre
alcoolismo nas comunidades e, dentre as
estratégias, foi decidido desde o aconselhamento, privação da liberdade, consentimentos e até expulsões no
enfrentamento da situação pelas lideranças. Algumas escolas indígenas têm realizado
um trabalho preventivo dialogando sobre
a questão. Na opinião do pesquisador, são “incipientes
diante da gravidade do problema”.
Repetição Histórica
Com ajuda de antropólogos, o
pesquisador foi mais a fundo para entender o problema. A presença dos índios no Vale do Ivaí está relacionada com a
expansão das fazendas de gado nos Campos Gerais e na região de Guarapuava (desde
o início do século XIX ), tendo sido forçada a migração.
Os indígenas sofreram pressão das populações não indígenas chegadas
neste período para ocupação do mesmo território.
Através da Lei nº 853/1909, o
governo do Paraná , à época, decretou que as terras à margem direita do rio
Ivaí eram dos Kaigang. Estudiosos acreditam que o governo republicano pensava
em agrupá-los com vistas à “catequizá-los” e “civilizá-los”. A partir de 1912. diferentes regiões do Paraná passaram a receber colonizadores alemães, poloneses e ucranianos que fundaram
colônias ou núcleos de povoação.
Além destes, os territórios foram sendo
ocupados por populações não indígenas da região de Guarapuava. Muitos
foram os conflitos provenientes neste processo e pelo fato do governo do Paraná ter destinado terras sem regulamentação. Houve lutas e
disputas.
Exemplo disso é o “sangrento episódio da guerra de Pitanga envolvendo
os Kaigang e outras populações da região”. Um outro decreto subtraiu terras
e, em 1949 , o governo do estado firmou com a União um acordo diminuindo
consideravelmente as extensões da grande maioria das áreas indígenas em benefício de fazendeiros, colonos e
imigrantes que haviam já se apropriado das terras.
E sob a justificativa de
“reestruturação” das áreas indígenas, esse acordo expropriou cerca de 90% dos
territórios demarcados em decretos anteriores, tendo todos sido
revogados e as terras indígenas sofreram grande redução nas suas extensões.
Mais adiante, com o “projeto de
desenvolvimento” da expansão das fazendas de café - promoveram a devastação da
fauna e flora - foram obrigados a residir nos Postos Indígenas demarcados pelo estado e foi delegado ao extinto SPI – Serviço de Proteção ao Índio - poder em administrar os conflitos e atender aos inúmeros problemas surgidos entre
fazendeiros, políticos locais e os índios.
Nos períodos seguintes chegaram novos imigrantes poloneses, italianos, alemães,
ucranianos, libaneses, além de brasileiros paulistas, mineiros, nordestinos, gaúchos,
catarinenses em detrimento da propaganda atrativa para o mercado do café.
E isso colocou
fim à mobilidade das populações.. Tradicionalmente
os indígenas que habitam o Estado do Paraná (Guarani, Kaigang e Xetá ) viviam em grandes extensões de terra. E a forma de organização era propícia para o manejo ecológico do território, acesso a alimentação
proveniente da caça, pesca e coleta - mel, frutas, pinhões, raízes, plantas, dentre outros - , isso sem fala que com identificação, prevenção e controle de doenças.
De acordo com o pesquisador, o processo violento de usurpação
e venda das terras na região levou ao aldeamento destas populações em
pequenas extensões de terras," aglomerando um grande número de pessoas em uma
mesma aldeia sem infra-estrutura e em confronto com a organização sociocultural
indígena. Isso resultou no sedentarismo, na dependência, assistencialismo
governamental, falta de perspectivas e alternativas dignas de vida, desesperança, e a introdução de bebidas alcoólicas, em muitos casos, inclusive, incentivada pelo poder público
para acalmar" .
A história se repete em várias etnias brasileiras, dentre elas os Guarani-Kaiowá. Considerado como um dos mais graves problemas de saúde pública do país, o alcoolismo acomete grande parte das
populações indígenas em todo o estado do Paraná, sobretudo jovens cujas alternativas de vida são pouco promissoras. E com ele ocorrem os suicídios
Adolescente alcoolizado em Feijó (AC) Foto _ site Feijó Notícias |
Indígenas alcoolizados na rodovia MS 289 |
Guarani-Kaiowá na Praça Amabaí Foto _ A Gazeta News Saiba mais sobre os povos Kaikang! http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang |
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