Foto compartilhada/ Heitor Karai Awá-Ruvixá
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Suicídios, tentativas e as recidivas entre os Guarani têm despertado o interesse de pesquisadores e estudiosos de diferentes áreas. Em aldeias do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os pesquisadores Sonia Grubits, Heloisa Bruna Grubits Freire e José Angel Vera Noriega (Scielo*) observaram e acompanharam problemas enfrentados pelos indígenas. Eles levantaram questionamentos sobre o que motiva direta ou indiretamente à autodestruição.
Em apenas oito anos 410
Guarani/Kaiowál tiraram a própria vida (2000 a 2008/Funasa), sendo o enforcamento o método mais utilizado
(MS). Já as tentativas não foram
registradas. O estado é o
segundo do Brasil em número nos censos de populações indígenas , totalizando 63.963 índios. A maioria dos suicidas ocorre em homens, muito
embora o percentual em mulheres já se aproxima. E são registrados nas faixas etárias
abaixo de 29 anos. Duas mortes de crianças foram registradas (5 a 9 anos).
O grupo enfrenta problemas de disputa de terras
enquanto aguarda a demarcação. As dificuldades na tomada de decisão são devido ao tempo da ocupação da terra por
não índios sem propriedades, mas com
certificação de mais de duas gerações da mesma família. Entretanto. estudos
arqueológicos e antropológicos revelam que nesse mesmo espaço havia indígenas.
A proximidade com a sociedade capitalista e delimitação territorial das reservas resultaram
no abandono da vida nômade. Houve, com isso, impedimento do deslocamento dos grupos. A poluição do meio ambiente onde estão localizados, imposição de novas religiões - desorganizando-os social e culturalmente - são alguns dos motivos que os empurra para o abismo do alcoolismo e prostituição.
Suicídio
Os casos notificados entre os Guarani/Kaiowá ocorrem
no período da adolescência. Os pesquisadores recorreram a inúmeros autores na
tentativa de ‘diagnosticar’ o suicídio e chegaram a uma conclusão: "podemos afirmar que as conclusões de Cassorla (1981, 1991), Castellan (1991), Durkheim
(1977), Erickson (1987) e Mioto (1994) são pertinentes à situação dos
Guarani-Kaiowá, tendo em vista as suas vivências, desde os primeiros anos de
vida, de situações ou de relatos de suicídios e o seu contexto social e
cultural".
O feitiço, encontrado em todos grupos brasileiros,
também é abordado. “Nos estudos de campo realizados por Brand (1997) com os
Guarani/Kaiowá eles colocam que os suicídios são provocados pela força de
práticas de feitiço”. Mas indígenas e pesquisadores consideram mesmo que desajustes ou mesmo doença são as causas , haja visto relatos falam “de tristeza, de nervoso, de não se conseguir expressar o que se tem ou o que se sente”.
Casos de cura
foram atribuídos por todos os
entrevistados à terapia com danças e
cantos, feita no núcleo familiar, sob orientação de líderes religiosos. Ele
dizem que vivenciaram " o taruju com fases de variada intensidade da doença,
com dias normais seguidos por fases obscuras.”
Os pesquisadores acreditam que o despreparo dos
funcionários do governo para lidar com os indígenas, “a exemplo dos
funcionários federais que desenvolveram estratégias de apoio aos elementos
indígenas mais desestruturados e menos integrados a cultura e a comunidade
Guarani/Kaiowá, objetivando desarticular lideranças e quebrar sua autonomia
interna”, além do uso do índio como mão de obra disponível e barata, a presença de cerca de 20 igrejas pentecostais e o arrendamento da terra introduzido pelos
órgãos indigenistas no passado são
fatores desencadeantes.
Também mencionam a visão de mundo - de vida e morte
- de acordo com a cosmologia Guarani/Kaiowá. “É muito complexa para o
entendimento; de modo geral a própria concepção de educação, de formação da
personalidade infantil, de acordo com a cultura tradicional não segue padrões mais comuns da sociedade nacional, interferindo no processo de
construção da identidade dos grupos”.
* Artigo na íntegra
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